Moscovo já apagou milhares de mensagens de russos que estão contra a guerra

27 mai 2022, 01:50
Agentes da polícia detêm um manifestante no centro de Moscovo a 13 de março - mas nenhuma oposição à guerra é mostrada na televisão estatal russa. Foto: AFP via Getty Images

Mensagens apelando a protestos, ou referindo a existência de "guerra", ou apoiando a resistência de Ucrânia, são apagadas pelo regulador russo da comunicação social. A audiência total destas mensagens eliminadas pela censura oficial está estimada em mais de 202 milhões de utilizadores

O regulador estatal russo dos meios de comunicação social, Roskomnadzor, anunciou ontem que, desde o início da invasão da Ucrânia, já foram apagadas 38 mil mensagens em redes sociais, na Rússia, apelando a protestos contra a guerra.

O relatório de atividades de censura da Rússia, feito pelo líder do Roskomnadzor, Andrey Lipov, durante uma reunião, acaba por demonstrar que a oposição dos russos à guerra é maior do que aquilo que transparece para o Ocidente devido ao grande controlo exercido pelas autoridades de Moscovo. Muitos milhares de russos, mesmo correndo risco de prisão e outro tipo de retaliações, têm levantado a voz nas redes sociais contra a guerra de Putin, a que este chama "operação militar especial".

Outros números divulgados por Lipov - e noticiados pelo Meduza, um órgão de comunicação social independente russo, que foi impedido de operar dentro do seu país - demonstram a dimensão do protesto público contra a guerra, apesar da repressão oficial: o regulador russo também eliminou "mais de 117 mil falsificações" sobre o conflito e as Forças Armadas da Rússia, bem como 1.177 mensagens de apoio à Ucrânia.

Por "falsificações", ou informações falsas, o regulador entende qualquer mensagem que se refira ao conflito na Ucrânia como "guerra", palavra que está proibida por lei, por ir contra a narrativa oficial da "operação militar especial". 

A audiência total destas mensagens apagadas pelo censor russo está estimada em mais de 202 milhões de utilizadores, ainda de acordo com o relato do Meduza.

Por outro lado, muitos conteúdos online sobre o que se passa na Ucrânia foram classificados como "propaganda nacionalista russa", que, segundo terá afirmado Lipov, atingiu volumes "ultrajantes". Na sua versão, esses conteúdos que se disseminaram online foram criados com antecedência e "pagos pelo Ocidente por milhares de milhões de rublos".

Recorde-se que Putin impôs regras restritas sobre o que pode e não pode ser dito a propósito da invasão da Ucrânia. Após o início da guerra, milhares de russos que saíram para protestar em cidades por todo o país foram detidas, incluindo crianças e idosos. Até manifestantes com cartazes em branco foram presos, sucedendo-se a acusações de que estariam a disseminar propaganda "nazi" ou a "desacreditar" as Forças Armadas russas, divulgando informação falsa sobre a "operação militar especial". 

O controlo sobre as redes sociais é rigoroso, e os meios de comunicação social independentes foram perseguidos e bloqueados na Rússia - os que resistem, como o site Meduza, operam agora a partir do estrangeiro. As maiores redes sociais ocidentais, como o Facebook, o Instagram e o Twitter, também foram alvo de processos e perseguição por parte das autoridades russas.

 

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