Bolsonaro, Xi Jinping, Maduro... Qual é a posição dos países-chave sobre a guerra da Ucrânia?

CNN
9 mar 2022, 15:25
Xi Jinping e Vladimir Putin

China, Índia, Brasil, Venezuela, outros países da América Latina ou de África: saiba que posições tomaram até agora sobre a invasão Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin

CHINA

• Pequim recusou-se a chamar o ataque da Rússia à Ucrânia de invasão

• A China absteve-se na votação de 25 de fevereiro do Conselho de Segurança da ONU sobre a resolução que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, juntamente com os Emirados Árabes Unidos e a Índia.

• O ministro dos Negócios estrangeiros chinês, Wang Yi, indicou a disponibilidade do país para ser “mediador” entre a Rússia e a Ucrânia, afirmando aos jornalistas presentes na entrevista coletiva anual, em 7 de março, que a amizade entre a Rússia e a China é “firme como uma rocha” e representa “uma das relações bilaterais mais cruciais no mundo.”

• Wang falou com o secretário de Estado dos EUA Antony Blinken, em 5 de março, instando os EUA, a NATO e a Europa a envolverem-se num “diálogo igual” com a Rússia, dizendo que os desenvolvimentos na Ucrânia são “algo que a China não quer ver”.

• A China condenou as sanções ocidentais à Rússia em 23 de fevereiro, véspera da invasão russa.

ÍNDIA

• A Índia foi uma das três abstenções na votação de 25 de fevereiro do Conselho de Segurança da ONU sobre a resolução que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia

• Em reuniões recentes do Conselho de Segurança, o embaixador indiano na ONU, T. S. Tirumurti, enfatizou repetidamente a necessidade de “diálogo diplomático sustentado” e pediu a todas as partes envolvidas na crise que se abstenham de “qualquer ação adicional que possa contribuir para o agravamento da situação”.

• O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, conversou três vezes com o presidente russo, Vladimir Putin, desde a invasão (desde 8 de março), tendo os contactos sido focados em negociações e na evacuação de cidadãos indianos

• Modi falou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky duas vezes (a partir de 8 de março), com as conversas de novo a girar em torno de conversas diplomáticas e preocupações com cidadãos indianos ainda no país

MÉDIO-ORIENTE

A maior parte da região evitou condenar diretamente a invasão, tendo o Líbano e o Kuwait - ambos invadidos por vizinhos no passado recente – sido as únicas nações árabes opor-se.

Argélia: partilha relações amigáveis com a Rússia, absteve-se na resolução de 2 de março da Assembleia Geral da ONU que deplorou a invasão e pediu a sua “desescalada”.

Bahrein: votou a favor da resolução da Assembleia Geral da ONU de 2 de março, que deplorou a invasão.

Egito: os egípcios, que têm boas relações com Putin através do presidente Sisi, e dependem fortemente de turistas russos e de trigo, evitaram críticas diretas à invasão russa. No entanto, votaram a favor da resolução da Assembleia Geral da ONU. O Egito é o maior importador de trigo do mundo, sendo a Rússia e a Ucrânia os seus principais fornecedores.

Irão: absteve-se na votação da resolução da Assembleia Geral da ONU de 2 de março. Mantiveram a retórica anti-EUA, mas não apoiaram totalmente a invasão. Deixaram claro que querem diplomacia. Talvez tenha clarificado quão próximas são as relações entre o Irão e a Rússia.

Israel: enquanto Israel condenou a invasão da Rússia, em comentários feitos pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Yair Lapid, o próprio primeiro-ministro Naftali Bennett evitou fazer críticas diretas à Rússia ou a Putin. Israel também copatrocinou a resolução da Assembleia Geral da ONU e Bennett encontrou-se com Putin em Moscovo numa visita surpresa.

Kuwait: copatrocinou a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidos e foi o único país árabe a copatrocinar a resolução do Conselho de Segurança que condena a invasão russa. È um aliado próximo dos EUA, que sofreu uma invasão em 1991.

Líbano: é outro país árabe que também sofreu com invasões anteriores. Emitiram uma declaração a condenar a invasão e pediram a Moscovo que suspendesse as operações.

Qatar: um dos quatro países da região a copatrocinar a resolução da Assembleia Geral da ONU. Foi chamado a fornecer gás à Europa em caso de invasão. O Qatar é indiscutivelmente o maior aliado do presidente dos EUA, Joe Biden, na região, e pediu a preservação da integridade territorial da Ucrânia. Mas também manteve ligações com Putin, pedindo diplomacia.

Arábia Saudita: Apesar de votar a favor da resolução de 2 de março da Assembleia Geral da ONU, a Arábia Saudita tem reiterado continuamente a sua linha de manter o compromisso com os níveis de produção de petróleo acordados com a OPEP +, que inclui a Rússia. O príncipe herdeiro Mohammad bin Salman falou com Zelensky e com Putin, oferecendo mediação.

Síria: um dos poucos países a votar contra a resolução de 2 de março da Assembleia Geral da ONU. Bashar Al-Assad apoiou Putin desde o início. A intervenção de Putin ajudou a virar a maré a favor de Assad durante a guerra civil na Síria.

Turquia: é membro da NATO mas tem boas relações com Putin, devido à colaboração na Síria. A Turquia condenou abertamente a invasão e pediu calma, oferecendo-se para mediar várias vezes e para receber os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Ucrânia na Antália na quarta-feira (9 de março)

Os Emirados Árabes Unidos abstiveram-se na resolução de 25 de fevereiro do Conselho de Segurança da ONU que condena a invasão, mas votaram a favor da resolução de 2 de março da Assembleia Geral que a deplora. Autoridades dos Emirados deixaram claro que permanecerão neutros neste conflito. Os Emirados receberam 800 mil turistas russos e têm relações comerciais importantes com a Rússia.

ÁFRICA

Burundi, Mali, Moçambique, Senegal, África do Sul, Sudão do Sul e Uganda abstiveram-se na resolução de 2 de março da Assembleia Geral da ONU, que deplora a invasão da Rússia.

Putin tem laços com vários países africanos: ajudou a treinar militares na década de 1970 na Tanzânia e interveio com reforços militares em lugares como o Mali, a República Centro-Africana e Moçambique.

AMÉRICA LATINA

Embora muitos países da região tenham condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Rússia ainda conta com os seus principais aliados, como Cuba, Venezuela e Nicarágua.

ARGENTINA

• A Argentina foi um dos 141 países que condenaram a invasão russa do território ucraniano na ONU em 2 de março.

• O Ministério das Relações Exteriores da Argentina apresentou uma “forte rejeição ao uso da força armada” em 24 de fevereiro e lamentou profundamente a escalada da situação na Ucrânia.

• O presidente Alberto Fernández, que visitou Moscovo no início de fevereiro, chegou a oferecer a Argentina como país de escape da Rússia para a América Latina, lamentou a escalada da violência e pediu diálogo sem chamar invasão ao conflito. “Pedimos a todas as partes que não usem força militar. Pedimos à Federação Russa que ponha fim às ações tomadas e pedimos a todas as partes que regressem ao diálogo”, disse Fernandez nas redes sociais em 24 de fevereiro.

• Dias depois, o ministro dos Negócios Estrangeiro, Santiago Cafiero, condenou a “invasão” ordenada pelo presidente Vladimir Putin na Ucrânia, dizendo: “A Argentina reitera junto da Federação Russa que cesse imediatamente o uso da força e condena a invasão da Ucrânia, bem como as operações militares no seu território."

BRASIL

• Jair Bolsonaro evitou condenar o ataque à Ucrânia ou propor quaisquer sanções contra a Rússia. O presidente brasileiro reiterou que “o Brasil permanece numa posição equilibrada” e notou que a agricultura do seu país depende de fertilizantes russos.

• Bolsonaro visitou Moscovo recentemente e disse ao presidente Putin que o Brasil estava “solidário com a Rússia”, em 16 de fevereiro. Mas alguns dias depois, negou que tal fosse uma mensagem de apoio.

• Em 24 de fevereiro, após o início do ataque, Bolsonaro permaneceu em silêncio. Mas depois de o seu vice-presidente, general Hamilton Mourão, criticar duramente a Rússia, Bolsonaro manifestou-se para rejeitar as palavras de seu vice-presidente argumentando que ele "falou sobre coisas que não devia".

• Em 25 de fevereiro, o chefe de gabinete do governo brasileiro, Ciro Nogueira, declarou que "a posição do Brasil é de neutralidade, de equilíbrio. Não podemos ter a posição da NATO, da Rússia, da China. A nossa posição é a posição do Brasil".

• O Brasil votou a favor de uma resolução que condenava a Rússia na Assembleia Geral da ONU em 2 de março. Mas o embaixador do país na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse que há ressalvas e que a resolução não pode ser vista como luz-verde para o indiscriminado uso de sanções ou armas.

CHILE

• O presidente Sebastian Piñera condenou a "agressão armada da Rússia e a violação da soberania e integridade territorial da Ucrânia" a 24 de fevereiro.

• O presidente eleito Gabriel Boric chamou as ações da Rússia de "guerra" e "invasão": "A Rússia optou pela guerra como meio de resolver conflitos. Do Chile, condenamos a invasão da Ucrânia, a violação da sua soberania e o ilegítimo uso da força. A nossa solidariedade será com as vítimas e os nossos humildes esforços com a paz."

• O Chile foi um dos 141 países que condenaram a invasão russa do território ucraniano na ONU em 2 de março.

CUBA

• Cuba não chamou as ações da Rússia de invasão. A posição inicial do país era culpar os EUA pela sua “ofensiva” fora das fronteiras da NATO. "A história responsabilizará os Estados Unidos pelas consequências de uma doutrina militar cada vez mais ofensiva fora das fronteiras da NATO, que ameaça a paz, a segurança e a estabilidade internacionais", afirmava um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros a 1 de março.

• Após a condenação internacional da invasão, Cuba atenuou a sua posição, dizendo que apoia uma solução pacífica para a crise, que leve em conta as posições de todas as partes envolvidas.

• Cuba também lamentou “a perda de vidas civis inocentes na Ucrânia”, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país. “O povo cubano teve e continua a ter uma relação muito próxima com o povo ucraniano”, diz o comunicado.

• O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Rodríguez, saudou as negociações entre a Rússia e a Ucrânia em 28 de fevereiro, "Saudamos o início das negociações entre a Rússia e a Ucrânia. Acreditamos que esta é a única maneira de resolver o atual conflito."

• Cuba absteve-se de votar contra a resolução da ONU que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2 de março.

EL SALVADOR

• O presidente Nayib Bukele permaneceu silencioso após o ataque da Rússia à Ucrânia.

• Poucos dias antes da invasão, Bukele criticou no Twitter o "suposto ataque" e o governo dos EUA: "O governo Biden está a perder toda a credibilidade que lhe resta. E ainda, uma nova suposta ordem que não aconteceu. Estranha estratégia.”

• Quando o presidente dos EUA, Joe Biden, alertou que o líder russo iria invadir a Ucrânia nos dias seguintes, Bukele twitou: "O menino que gritou lobo ..."

• El Salvador não aderiu a uma declaração apresentada por mais de 20 países a 25 de fevereiro na Organização dos Estados Americanos, que condena a "invasão ilegal, injustificada e não provocada da Ucrânia".

• El Salvador absteve-se de votar contra a resolução das Nações Unidas que condena a invasão da Ucrânia por Moscovo, a 2 de março.

MÉXICO

• O México condenou a invasão da Rússia um dia após o início da operação militar na Ucrânia.

• O chanceler Marcelo Ebrard disse a 24 de fevereiro: "O México rejeita o uso da força e condena veementemente a invasão russa da Ucrânia. Exige que as hostilidades cessem, que o diálogo seja iniciado e que a população seja protegida".

• O presidente Andrés Manuel López Obrador disse, em entrevista coletiva em 25 de fevereiro: "A posição do México é a de rejeitar, condenar qualquer invasão de qualquer poder. Essa é a posição. Neste caso, sobre a Rússia. Mas o mesmo se se tratasse da China ou dos EUA."

• O governo mexicano também anunciou que não imporia sanções económicas à Rússia: "Não vamos sofrer nenhum tipo de represálias económicas porque queremos ter boas relações com todos os governos do mundo, e queremos poder conversar com as partes em conflito", disse o presidente a 1 de março.

• O presidente López Obrador também criticou a “censura” dos média estatais russos.

• O México foi um dos 141 países que condenaram a invasão russa do território ucraniano na ONU, a 2 de março.

VENEZUELA

• O líder venezuelano, Nicolás Maduro, está entre os apoiantes mais expressivos de Putin após a invasão da Ucrânia. Os dois líderes falaram ao telefone a 1 de março e Maduro “ratificou a reprovação da Venezuela às ações desestabilizadoras da NATO”, segundo o Kremlin.

• Após a invasão, em 24 de fevereiro, Maduro disse que “rejeitou o agravamento da crise na Ucrânia, resultado do rompimento dos acordos de Minsk pela NATO”.

• A Rússia e a Venezuela mantêm uma estreita relação, focada na cooperação militar e energética.

• Durante um discurso na televisão a 7 de março, Maduro culpou novamente a NATO pela violência na Europa Oriental e defendeu a “operação especial da Rússia para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia”.

• Ao mesmo tempo, Maduro recebeu os enviados dos EUA Juan Gonzalez, do Conselho de Segurança Nacional, e James Story, do Departamento de Estado, a 5 de março em Caracas. Foi a primeira vez que uma delegação do governo norte-americano visitou a Venezuela desde 2019. Enquanto fosse esperado que a Venezuela reconhecesse a independência das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, apoiadas pela Rússia, no final de fevereiro, nunca o fez e, após a reunião com autoridades dos EUA, Maduro pediu uma “solução diplomática” para o conflito.  

(Informações atualizadas a 9 de março de 2022)

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