Navios russos que "desaparecem" no mar também fazem contrabando de cereais roubados à Ucrânia. E há provas

30 jun 2022, 16:45
Navio russo atracou esta manhã no porto de Sines (Fotografia de Flávio Almeida)

De acordo com o FT, há navios de Moscovo carregados com toneladas de cereais no porto de Sevastopol, na península da Crimeia, a chegarem a países como a Turquia e a Síria, o que é ilegal desde que a região foi anexada pela Rússia em 2014. Usam a mesma estratégia no Mar Negro dos petroleiros que, no Atlântico, têm desligado os sistemas de identificação para transferir petróleo russo sem serem detetados

Os navios russos estão a usar rotas de comércio no Mar Negro para fazer contrabando de cereais produzidos na Ucrânia e, simultaneamente, escapar a sanções que já existiam antes da guerra. A revelação é feita numa investigação do Financial Times, que analisou várias imagens de satélite e documentos portuários. O jornal financeiro explica que além de desligarem os sistemas de identificação dos navios, desaparecendo dos mapas momentaneamente, os russos também falsificam documentos para não serem apanhados. 

De acordo com o FT, há navios de Moscovo carregados com toneladas de cereais no porto de Sevastopol, na península da Crimeia, a chegarem a países como a Turquia e a Síria, o que é ilegal desde que a região foi anexada pela Rússia em 2014. De resto, os donos do porto de Sevastopol integram uma subsidiária de uma empresa estatal russa e foram alvo de pesadas sanções dos Estados Unidos. Quem faz comércio com este porto da Crimeia também pode ser levado à justiça pelos procuradores ucranianos.

Ora, o Financial Times revela que o navio russo Fedor, por exemplo, esteve na Crimeia a 12 de junho para ser carregado e chegou à Turquia, a um porto do sul de Istambul, com nove toneladas de milho. Contactada pela publicação, a empresa turca Yayla, que recebeu os cereais, deu conta de que acreditava que o navio tinha partido de um porto russo e, por isso, não foram aplicadas quaisquer sanções. 

A investigação surge depois de nas últimas semanas as autoridades ucranianas terem afirmado que os portos da Crimeia, incluindo o porto de Sevastopol, estavam a ser utilizados para exportar cereais roubados pelos russos no território ucraniano agora invadido. No início de junho, a imprensa estatal russa também reconheceu que havia cereais a serem enviados de Melitopol, no sul da Ucrânia, para a Crimeia.

Não há dados que permitam comparar o volume de exportações a partir de Sevastopol, mas ativistas ucranianos avançam que tem havido um aumento de contrabando de cereais na Crimeia. A plataforma Sea/ refere que só em maio terão sido exportados a partir de Sevastopol cerca de 140 mil toneladas de cereais em oito navios, o que representa 6% de todas as exportações de cereais da Rússia nesse mês.

Os navios russos que transportam cereais usam a mesma estratégia no Mar Negro dos petroleiros que têm desligado os sistemas de identificação para transferir petróleo russo sem serem detetados. Desde o início da aplicação de sanções contra o regime russo por parte de vários países ocidentais, os petroleiros russos têm "desaparecido" em pleno Atlântico. Há mesmo o caso de três embarcações que desligaram os sistemas de transmissões e desapareceram dos radares ao largo do arquipélago dos Açores.

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