Propaganda da TV russa é crucial para entender a guerra na Ucrânia. Eis porquê

CNN , Análise de Brian Stelter
13 abr 2022, 09:03
A Rússia está envolvida numa feroz guerra de propaganda para justificar a sua invasão brutal. Foto: Sergei Mikhailichenko/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Com base no que estão a ver na televisão estatal, “os russos terão todos os motivos para se sentirem orgulhosos”. Análise de Brian Stelter

“Os russos que recebem a sua verdade dos média estatais estão a viver numa realidade alternativa”, afirma Madeline Roache.

Todos os dias, Roache assiste às “notícias” da manhã no Canal Um, um dos principais canais televisão estatal russa. Roache rastreia as narrativas que os espectadores russos estão a ouvir. E depois escreve um relatório para a NewsGuard sobre a “realidade alternativa”. A NewsGuard, uma startup que avalia a fiabilidade das fontes de notícias, começou a publicar os resumos de Roache esta segunda-feira.

No geral, diz Roache à CNN, na televisão estatal “o exército russo é retratado como triunfante - como não sofrendo perdas nem baixas, e certamente não cometendo qualquer atrocidade. Enquanto isso, de acordo com os média estatais, é o exército ucraniano que está a cometer atrocidades, matando civis, sofrendo pesadas perdas e perdendo território para as forças russas”.

Este comentário de Roache foi o que mais me chamou a atenção: "Os russos teriam todos os motivos para se sentirem orgulhosos, com base no que estão a ver na televisão estatal".

Trabalhando com o produtor Aaron Cooper, compilei este relatório para a edição de segunda-feira do programa "The Lead with Jake Tapper" [da CNN] sobre a natureza invertida dos média estatais russos. Vários especialistas afirmam que a programação de Putin ainda tem uma influência muito grande na opinião pública russa, apesar da proliferação de reportagens reais da Ucrânia que a contradizem. Como afirma Nic Robertson, da CNN, "não é surpresa que tantas pessoas estejam apenas a seguir as linhas do Kremlin. É a coisa mais fácil deles fazerem. Eles não veem uma alternativa. Eles sentem-se impotentes e esta é a informação de que eles têm alimentados ano após ano após anos, por Putin e pela liderança soviética daquela época."

O apagão de Moscovo

Eis um contexto crucial quando se pensa neste tema: "Essencialmente, o jornalismo foi agora proibido na Rússia", notou Anne Applebaum no programa “Reliable Sources”. "Agora é ilegal falar sobre essa chamada 'operação militar especial' como uma guerra, ou chamá-la de invasão. E isso significa que a maioria dos correspondentes ocidentais se foi embora. Toda a comunicação social russa independente, que existia antes da guerra, agora foi proibida; muitos desses jornalistas também deixaram o país. Por isso, a verdadeira história do que acontece na Rússia está a ficar cada vez mais difícil de contar."

Temos vislumbres de dentro do país, através dos olhos de pessoas como Vladimir Kara-Murza, um político da oposição russa que recentemente gravou uma entrevista com a pivô da CNN+ Sara Sidner. Kara-Murza afirmou que esta guerra será a queda de Putin. Na segunda-feira, segundo vários relatos, foi detido do lado de fora do seu prédio em Moscovo. A entrevista foi também publicada na segunda-feira.

A análise de Daniel Dale

Jake Tapper explicou isso melhor na segunda-feira: a Rússia está envolvida numa “feroz guerra de propaganda para justificar a sua invasão brutal e não provocada, e para tentar encobrir o número crescente de atrocidades e de massacres cometidos contra civis ucranianos”.

Tapper pediu ao verificador de fatos da CNN Daniel Dale para avaliar alguns dos enganos específicos que as empresas russas estão a distribuir. Aqui está um: "O governo russo alegou que nenhum habitante local foi morto enquanto as tropas russas estavam em Bucha, e que a evidência em contrário foi encenada ou falsificada, ou que era uma farsa. Essas alegações são francamente ridículas. São totalmente falsas. Foi demonstrado conclusivamente que civis foram realmente mortos enquanto as tropas russas estavam em Bucha e, segundo testemunhas, pela Rússia."

Isto é "esgotante" de acompanhar, acrescentou Dale, "e acho que esse é o objetivo. Acho que o que a Rússia está a fazer é a atirar tantos disparates para a parede que algumas delas colam e são acreditadas, ou apenas cansa as pessoas. As pessoas ficam tão confusas e oprimidas por tudo que está a ser contestado - mesmo os fatos que parecem mais óbvios - que levantam as mãos e dizem: "Não sei o que é verdade. Não consigo acompanhar isto tudo.' E isso é difícil, e acho que nós, como jornalistas, temos que lutar muito contra isso."

"Eles querem acreditar que o seu país é bom"

No último episódio do podcast "Tug of War", da CNN, o correspondente internacional sénior Matthew Chance - que esteve em Moscovo durante anos – explicou por que razão a propaganda do Kremlin é tão aceite por tantas pessoas: é porque "eles querem acreditar que o seu país é bom", e não um regime mau que "mata pessoas sem motivo". Pense nisso, disse Chance, "quem gostaria de reconhecer que há algo fundamentalmente errado com o seu país?"

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