Sanções deixaram a Aeroflot sem peças para manutenção. Companhia de aviação russa vai improvisar

23 mai 2022, 03:11
Airbus A330 da Aeroflot

A companhia estatal de aviação russa terá de retirar peças de alguns dos seus Airbus e Boeing para poder reparar outros. E recorrer a equipamentos sobressalentes fabricados na Rússia

 


A Aeroflot, a companhia estatal russa de aviação, está a ficar sem peças para a manutenção da sua frota, essencialmente composta por aviões ocidentais Boeing e Airbus. Segundo uma investigação da Bloomberg, o equipamento de manutenção que a companhia tinha em armazém deveria ser suficiente para três meses, e estará neste momento a escassear. 

Devido às sanções inéditas impostas pelos países ocidentais à Rússia, após a invasão da Ucrânia, a Boeing e a Airbus deixaram de fazer qualquer tipo de transação com a Aeroflot, e deixaram igualmente de prestar qualquer tipo de assistência às suas aeronaves.

A Aeroflot tem cerca de 350 aviões, quase todos de fabrico ocidental. Uma parte significativa estava em regime de leasing, mas foram apreendidas pelos russos após as sanções impostas pelo Ocidente. Sem poder voar para os países da UE, para os Estados Unidos e para muitos outros destinos internacionais, e sem acesso a peças para manutenção, o Kremlin decidiu apreender os aviões que estavam em leasing - no total, foram apreendidos ilegalmente cerca de 400 aviões que estavam a ser usados por transportadoras russas, mas que pertenciam a companhias de leasing ocidentais. Agora, alguns desses aparelhos serão provavelmente "canibalizados", para que as suas peças possam ser utilizadas na manutenção de outras aeronaves.

O governo russo espera também poder produzir no país o equipamento necessário para a manutenção destes aviões, tarefa que os especialistas ouvidos pela Bloomberg consideram muito difícil de concretizar, por falta de know-how e de componentes de alta tecnologia.

Segundo o mesmo artigo, paira agora sobre a histórica companhia russa o espectro de um destino semelhante ao da aviação iraniana. Décadas de sanções dos EUA e da UE devastaram o setor da aviação comercial do Irão, Para contornar estas sanções, o país depende de uma rede de intermediários que garante a aquisição de peças sobressalentes no mercado negro ou através da compra a terceiros.

A Aeroflot chegou a ser a maior companhia de aviação do mundo, nos tempos da União Soviética, exclusivamente abastecida pela indústria russa e de países satélites. Mas após o fim da URSS, o prestígio e o volume de negócios da companhia caíram a pique - por não cumprir muitos regulamentos ambientais e de segurança, mas também por causa de uma série de acidentes com os seus aviões.

Na última década, com fortes investimentos e com a compra de aviões ocidentais, a Aeroflot voltou a colocar o seu nome entre as grandes companhias do mundo. Integrou a parceria internacional SkyTeam, fez um acordo de patrocínio com o Manchester United e recebeu prémios internacionais.

Antes da invasão da Ucrânia, a companhia voava para 56 países. Neste momento, os seus aviões aterram apenas em 13. A Rússia tornou-se o principal mercado da Aeroflot. “No futuro previsível, a Aeroflot será, em grande medida, uma companhia aérea doméstica", diz Arnold Barnett, especialista em segurança aérea da Escola de Gestão do MIT Sloan.

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