A Moskvich deixou de fabricar carros com o fim da União Soviética e, mesmo quando produzia, eles tinham problemas de qualidade
Depois de a Renault ter anunciado esta semana a sua saída do mercado automóvel russo no contexto da guerra da Rússia com a Ucrânia, o presidente da câmara de Moscovo anunciou que a sua fábrica será utilizada para reiniciar a produção da extinta marca automóvel Moskvich da era soviética.
A Moskvich, pouco conhecida fora da antiga União Soviética e dos seus países satélites, foi fundada por volta de 1930 e funcionou até 1991. Tal como muitas marcas automóveis de países do bloco comunista, a Moskvich apresentava problemas de qualidade. O Moskvich 408 da década de 1960, que tinha um motor de 50 cavalos, foi mesmo sinalizado pelas autoridades soviéticas pelos seus inúmeros defeitos, de acordo com o livro “Carros para Camaradas” de Lewis Siegelbaum.
O autor descreve-o, simplesmente, como um “carro terrível”.
Apesar destas questões persistentes, o governo soviético assinou um acordo com a fabricante automóvel francesa Renault, para modernizar a fábrica e aumentar a produção para 200 mil carros até 1975, de acordo com o livro. A produção terminou quando a União Soviética se dissolveu e os fabricantes ocidentais, como a Renault, se instalaram. Parte de uma antiga fábrica da Moskvich reabriu em 2005 numa parceria entre a Renault e a cidade de Moscovo.
A Renault também possuía uma participação maioritária na Avtovaz, a empresa controladora da popular marca russa de automóveis Lada. No seu comunicado desta semana, a Renault afirmou que a participação maioritária foi vendida ao governo da Rússia, ao passo que a sua participação maioritária na fábrica de Moscovo, onde eram fabricados os veículos da Renault, foi vendida à cidade de Moscovo. A Renault deixou em aberto a possibilidade de um regresso posterior ao mercado russo.
“O proprietário estrangeiro decidiu fechar a fábrica da Renault em Moscovo. Está no seu direito, no entanto, não podemos permitir que os vários milhares de trabalhadores capacitados fiquem desempregados”, escreveu o presidente da câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, numa publicação num blogue, que foi traduzida pela CNN Business. “Portanto, tomei a decisão de registar a fábrica como um ativo municipal e retomar a produção de automóveis de passageiros da histórica marca Moskvich.”
“Em 2022, estamos a escrever uma nova página na história da Moskvich”, acrescentou Sobyanin.
A empresa tentará manter todos os postos de trabalho dos atuais funcionários da fábrica, escreveu o presidente da câmara. A fábrica irá também tentar adquirir a maioria das peças dos automóveis a empresas russas. A fábrica começará a produzir automóveis convencionais movidos a gasolina, mas, a certa altura, irá mudar para o fabrico de carros elétricos, de acordo com a publicação no blogue de Sobyanin.
Contudo, Sobyanin não especificou quais os modelos de veículos que serão construídos com o nome Moskvich na antiga fábrica da Renault num futuro próximo.
As origens da Moskvich remontam às décadas de 1920 e 30, com o fabrico daqueles que são considerados alguns dos primeiros carros de design soviético. Após a II Guerra Mundial, a empresa começou a produzir carros com o nome Moskvich, que significa “moscovita”, ou nativo de Moscovo.
Hoje em dia, ainda existem cerca de 200 mil automóveis Moskvich registados na Rússia, de acordo com a agência analítica Autostat.
De um modo geral, os automóveis produzidos nas economias controladas centralmente da União Soviética e das suas nações satélites não eram conhecidos pela sua qualidade.
Alguns automóveis feitos em países do bloco comunista, como o Trabant da Alemanha Oriental, atingiram um estatuto de culto no Ocidente. A carroçaria do Trabant era feita de um material chamado Duroplast que se assemelhava ao plástico, mas que era feito de uma mistura de pasta de celulose, fibra de algodão e resina.
Mesmo assim, é possível uma reviravolta. A Škoda, cujos automóveis eram fabricados na Checoslováquia, à época sob domínio comunista, foi adquirida pelo Grupo Volkswagen após a queda da União Soviética. Hoje sedeada na República Checa, tornou-se uma das marcas mais populares e rentáveis do Grupo VW.
Mark Thompson da CNN Business e a Reuters contribuíram para este artigo.