Caro Luis Filipe Vieira,
Lamentável.
Não consigo encontrar outro adjectivo para qualificar a sua mais recente exibição televisiva, antes da estreia de Bruno Lage neste regresso ao Benfica, num momento de maior tensão.
Foi, de facto, lamentável a todos os títulos.
Eu não tinha muitas dúvidas, mas agora tenho a certeza: você não é do Benfica e não se preocupa com o Benfica. Porque se fosse do Benfica e se preocupasse com o presente e o futuro do Benfica não teria aproveitado um momento menos pujante do clube que presidiu durante
18 anos para atacar ferozmente o Benfica e o presidente Rui Costa.
O Luís cheira o negócio, seja nos bancos de jardim, a jogar às cartas ou nos bancos rodeados de mármores e agilizações que não estão ao alcance do cidadão comum. Esse nariz de longo alcance que tem em relação ao negócio, como se viu, aliás, no seu desempenho presidencial, com múltiplas transações sem qualquer interesse para o Benfica, fê-lo dizer o que disse porque mais uma vez detectou a possibilidade de fazer negócio através das fragilidades deste Benfica que — é bom não esquecer — também têm impressas as suas falangetas. Para o bem e para o mal.
Foi feio.
Fica claro que Luís Filipe Vieira não queria um delfim, queria um mono, alguém que lhe transmitisse uma ideia de fraqueza para poder manipular e lhe pudesse extrair a raiz benfiquista que você nunca teve.
Deu-lhe jeito usar Rui Costa enquanto ele foi a imagem do Maestro e da paixão. Deu-lhe jeito manter a distância sempre controlada para o diretor desportivo e para o vice-presidente. Deu-lhe jeito extrair a luz e o brilho do diamante e lidar com ele como se fosse, afinal, uma pedra não preciosa. Uma pedra de baixo quilate.
A ambivalência manifestou-se muitas vezes durante a sua presidência do Benfica e isto de querer ter Deus nas capelinhas e dançar com o Diabo tem um problema e há sempre um dia em que ele aparece refletido nos espelhos da incoerência.
Mesmo que num desses espelhos apareça a imagem de Jesus.
Veja-se no presente a ambivalência: o Rui já foi bestial e agora é uma besta e Lage já foi bestial e passou a ser uma besta, o Luís é mestre em transformar bestas em bestiais e bestiais em bestas. Até em relação a si próprio.
Repare: pediu desculpa aos sócios por ter escolhido Rui Costa para seu sucessor, mas a ideia que fica é que disse isso da boca para fora depois de manter à distância, sossegado, o próprio Rui Costa e, fundamentalmente, colocar a maéstrica cenoura à frente do nariz dos sócios e adeptos do Benfica.
O Luís nunca terá ouvido isto, mas vai ter de ouvir: a notícia não foi fazer do Benfica um clube com maior vitalidade do que aquela que conheceu nos tempos de Vale e Azevedo; a notícia relaciona-se com o facto de, tendo em Portugal a capacidade única de gerar receitas acima dos seus concorrentes diretos, o Benfica não ter conseguido afirmar-se como um clube claramente dominador, mesmo depois de o Sporting ter passado as dificuldades que passou e o FC Porto ter alcançado um estado de pré-falência absolutamente comatoso, é um sinal de que a obra também defeito.
E isso, sem esquecer méritos, repito, teve a ver com essa obsessão de fazer negócio com tudo e com todos. Com uma folha de papel, com uma rolha, um pionés ou um pneu.
E se os seus elogios a Domingos Soares Oliveira resultam mais do facto de saber que tinha ali quem lhe acendesse as luzes verdes e vermelhas para manter viva a chama de querer fazer negócio com tudo — talvez tivesse faltado o elogio majestático a Jorge Mendes! —, a verdade é que, se o Benfica não conseguiu ser, na sua era, absolutamente hegemónico, será que podemos falar, com rigor, em boa gestão? Com os activos que a SAD do Benfica tem, exibir a bandeira dos capitais próprios positivos é um acto assim tão heróico? Pensem nisso, senhores gestores!
Há um texto bíblico que diz “quem se vinga, destrói a própria casa”. E o Luís esqueceu-se disso. Esqueceu-se que, na sua sede de vingança, destruiu a própria casa. A casa que pelo menos ajudou a construir.
Conseguiu apenas dizer bem da Família, particularmente de Sérgio Conceição e de Pinto da Costa.
Disse qualquer coisa do tipo: quando uma pessoa está mal, doente e em dificuldades, devemos mostrar algum altruísmo.
Como aliás sempre o demonstrou na sua carreira presidencial, defendendo tudo e o seu contrário, voltou a mostrar duas caras: tolerante para o binómio amigo-inimigo, afinal sempre muito mais “amigo” e arrasador para a instituição-Benfica.
Diz que é o único que está em condições de negociar os direitos televisivos de salvaguardar os interesses do Benfica. Por um lado, arrasa quem está no poder, fazendo de Rui Costa mais um mono que só atrapalha; por outro lado diz que lhe atenderia o telefone, se lhe ligasse.
Grande manifestação de humildade.
Grande noção de que a auto-estima só se aplica a quem está cheio de si e não nos outros.
Só quem acha que a auto-estima dos outros vale zero, ou porque não são líderes, ou porque não aguentam a pressão, é capaz de achar que o ofendido lhe vai telefonar e, certamente, de joelhos. E em vez de o tratar por mano e muito menos por mono, tratá-lo por GRANDE LÍDER.
Caro Luís Filipe Vieira,
O dirigismo desportivo está a correr em sentido contrário. Menos negócio, mais proveito. Menos especulação, mais proveito. Menos criatividade, mais proveito. Menos intermediações, mais proveito.
Se conseguir, deixe o Benfica em paz e diga aos seus amigos para pararem com a contínua desestabilização.
Caso contrário, o Benfica continuará adiado. É isso que quer?