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As sete cabeças do 'Bicho': ou o que Martínez (não) deve fazer para não ser o… "mestre de cerimónias"

11 jul, 22:03

Rui Santos na Mensagem ao seleccionador nacional: a sua função não pode ser 'apenas' o de "gendarme" de Cristiano Ronaldo, assim a modos como nos "Biquinis de Saint Tropez", com Louis de Funès  

 

As sete cabeças do ‘Bicho’: ou o que Martinez (não) deve fazer para não ser o… “mestre de cerimónias” 

Caro Roberto Martínez, 

O tema Cristiano Ronaldo é incontornável e sabemos que é intenção dele falar consigo para perceber se continuam a fazer esta viagem juntos. 

Quando digo juntos, digo em representação de Portugal. 

Pegando na designação do Paulo Futre para qualificar a figura mais proeminente da história do nosso futebol — o Bicho! —, temos de convir que Cristiano Ronaldo transformou-se num… Bicho-de-sete-cabeças. 

Ordenemos então as 7 cabeças do Bicho: 

1ª) GRANDE CRAQUE (na carreira) - consensual 

2ª) IMAGEM DE PORTUGAL - consensual 

3ª) GERADOR DE RECEITAS - consensual 

4ª) HOMEM COM PODER - consensual 

5ª) PODER MAJESTÁTICO (ao ponto de impor a sua vontade em tudo o que tenha a ver com a Seleção Nacional) - não consensual 

6ª) TITULAR INDISCUTÍVEL - não consensual 

7ª) “CATIVO” NO MUNDIAL - não consensual 

Este Bicho-de-sete-cabeças está a provocar um tsunami de opiniões e é natural que, no choque provocado pelos movimentos gerados por estas 7 cabeças, haja… “sangue, suor e lágrimas”. 

E, convenhamos, entre ‘antis’ e ‘indefectíveis’, chegou-se a um ponto (até lamentável) que deveria ter sido evitado. 

Caro Roberto Martínez, 

Foquemo-nos no seu papel como selecionador, na sua ação como treinador e, concretamente, na questão suscitada pela ideia de que Cristiano Ronaldo não está a ser totalmente aproveitado na Seleção. 

Como selecionador, e disse-o desde o início nas minhas reflexões, que a sua contratação tinha como objectivo (para Fernando Gomes e a sua equipa) reenquadrar Cristiano Ronaldo na Seleção, depois do choque frontal registado com Fernando Santos. 

Havia dúvidas sobre o grau de compromisso na relação com a intocabilidade de Cristiano Ronaldo. Não há coincidências: o ‘Europeu’ deu a resposta e, se assim foi, isso quer dizer que para si essa gestão não lhe causou nenhum auto-conflito.  

Fernando Gomes sabia muito bem quem havia escolhido para protagonizar aquilo que muitos já consideram — a expressão é minha — um estupendo “mestre de cerimónias” ou, se se quiser, uma espécie de “gendarme” de Cristiano Ronaldo, assim a modos de um Louis de Funès, capaz de arrancar muitas gargalhadas como por exemplo no filme “Os Biquinis de Saint-Tropez”. 

Se olharmos para dentro do campo e, portanto, para o jogo, a visão de Cristiano talvez colha alguma lógica: na verdade, os jogadores que mais poderiam fabricar o mel para a abelha-rainha (perdoe-se-me a metáfora), e estou a falar de um Bruno Fernandes, de um Bernardo Silva ou de um Diogo Jota (com características para ser o maior “assistente”), sem esquecer aquilo que Rafael Leão faz (e não faz) em ação ofensiva, andaram sempre longe do favo principal. 

E isso foi uma imposição tática ou foi outra coisa qualquer? Isso importa esclarecer na tal conversa entre Cristiano e Martínez, antes da operação Liga das Nações, como importa esclarecer se não valeria a pena perceber se a inclusão de Gonçalo Ramos mais perto de Ronaldo (quando for opção) não iria aumentar o poder ofensivo da Seleção e potenciar melhor as características de cada qual ao serviço do todo. 

Portanto, meu caro Roberto Martínez, não faça mais de Louis de Funès, adquira a sua função de treinador e não de mestre de cerimónias ou de gendarme de C. Ronaldo e acerte as condições em que o nosso maior craque e o nosso maior orgulho futebolístico possa disputar a Liga das Nações, daqui a 2 meses. 

Vai ter de lidar agora com Fernando Gomes (que deveria ter deixado uma cláusula no seu contrato para a sua desvinculação no final da Liga das Nações para facilitar o desempenho do próximo presidente) e daqui a uns meses muito provavelmente com Pedro Proença, quando estiver em causa a participação, ou não, na campanha para o Mundial. 

É que, se lá chegarmos, como todos ambicionamos, o Cristiano terá 42 anos e 4 meses, o que deveria pressupor, salvo melhor opinião, levá-lo numa condição porventura diferente. De total consagração. 

O Cristiano Ronaldo merece TUDO e também já é tempo da FPF assumir as suas responsabilidades e não fazer disto para sempre um Bicho-de-sete-cabeças. Sem esperanças com F. Gomes. Com algumas quando Proença chegar. 

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