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O problema do Benfica é a ausência de autoexigência. É tudo demasiado fácil para os jogadores e para a própria estrutura

13 ago, 13:55
Di María e Roger Schmidt após a derrota do Benfica em Famalicão (ESTELA SILVA/Lusa)

Rui Santos diz que uma andorinha — uma derrota no começo do campeonato, em Famalicão — não faz a Primavera. Mas diz também que “andorinhar” não é um bom verbo para o Benfica. Estamos no verão e o Benfica não precisa de andorinhas; precisa de águias, verdadeiras aves de rapina. Onde estão elas?

O Benfica terminou o campeonato de 23-24 a 10 pontos do Sporting e com a sensação de não aproveitamento dos recursos que Rui Costa colocou à disposição do treinador Roger Schmidt.

Discutiu-se a continuidade de Schmidt até ao tutano e Rui Costa, fiel à escolha que acreditou poder marcar positivamente o seu projecto no âmbito desportivo, manteve o técnico alemão na liderança técnica do plantel.

No arranque do Campeonato, nada parece ter mudado para melhor.

Como lhe competia, Rui Costa focou-se em tentar mitigar ou anular as debilidades apresentadas pela equipa e arranjou de novo outras soluções para a lateral esquerda (Beste), para a zona do ponta-de-lança (Pavlidis) e também para o meio-campo (Leandro Barreiro), apostando também no regresso de Renato Sanches, desde que saiu do Lille à procura de remissão.

A pré-época havia dado sinais positivos de total enquadramento de Pavlidis, a mostrar boa capacidade concretizadora e do claro entendimento entre Florentino e Leandro Barreiro e o bom pé esquerdo de Beste dava esperança à nação benfiquista de que seria desta que a saída de Grimaldo iria ser finalmente compensada.

Já se contava que, entretanto, Rafa saísse, Rui Costa fez um esforço para que Di María continuasse e, quando se pensava que a tarefa se resumia a entrosar as novas unidades no sistema de Schmidt, Jorge Mendes levou João Neves, a jóia da coroa benfiquista, para Paris e colocou Renato Sanches na Luz, talvez uma forma de ganhar qualquer coisa como 6 M€ e tentar estancar, com o Renato, o sangramento do coração benfiquista, atingido pela saída do “Joãozinho”.

A súbita notícia da exclusão de Neres dos convocados para Famalicão indiciava que algo estava a acontecer e não exatamente no sentido do reforço da solidez do Benfica, até porque Neres havia dado sinais, ao longo da semana, que já não estava com a cabeça na Luz.

E, portanto, quem dá ao projeto Beste, Leandro Barreiro, Renato Sanches e Pavlidis mas tira-lhe Rafa, João Neves e, quase de certeza, Neres, a sensação de reforço dilui-se.

Acresce que, por diversas razões, o Benfica apresentou-se inicialmente em Famalicão sem Otamendi (quis muito os Jogos) e Di María (a final da Copa América foi praticamente há um mês!), António Silva perdeu gás e não se ajudou no Europeu, tendo ido para o banco neste jogo inaugural do campeonato e, quando mais precisava de um jogador que introduzisse algo de diferente na equipa, Neres não estava lá.

E então o que tivemos?

Um Benfica sem liderança, descaracterizado, anémico, sem fulgor, sem raça, incapaz de reagir, nada mandão, com os jogadores entregues a uma tristeza competitiva difícil de igualar.

Olhamos para a equipa e os equívocos estão lá todos:

1.º (equívoco) Florentino e Barreiro parecem gémeos colocados num varão de matraquilhos, não saem, não transportam e no campeonato português fica difícil aceitar que uma equipa como o Benfica precise de jogar com dois trincos simultaneamente. Quem comanda? Quem transporta?

2.º (equívoco) O Benfica só joga para dentro e, assim, afunila-se, desperdiçando os corredores. Não há uma cultura de jogo de corredor e, aliás, não é só no Benfica, agora — nesta espécie de futebol moderno — os laterais são muitas vezes médios interiores e raramente se explora a profundidade pelo lado exterior.

3.º (equívoco) O próprio Prestianni, que justificou a titularidade pela pré-época que realizou, o único que parecia capaz de tirar um coelho da cartola, foi neutralizado pela excelente organização tática montada por Armando Evangelista e não apenas no espaço defensivo, no qual retirou ao Benfica qualquer possibilidade de ligação com Pavlidis. E Prestianni foi a primeira vítima da inoperância coletiva do Benfica, saindo ao intervalo, rendido por um Kokçu pouco mais do que inofensivo.

Em suma, o equívoco maior é toda a equipa e as suas movimentações: sem energia e sem criatividade a atacar e de cadeira de rodas a defender. Os golpes na transição desferidos pelo Famalicão acentuaram a incapacidade do Benfica sem bola. Neste aspeto, não foi mau. Foi muito mau mesmo.

Bem sei que foi o primeiro jogo oficial da época 24-25. 

Dir-se-á que é preciso ter calma, como diria o Abrunhosa. 

Uma andorinha (derrota em Famalicão) não faz a Primavera.

Andorinhar não é um bom verbo para o Benfica. Tem sido tudo demasiado fácil e confortável para os jogadores e até para a estrutura. O Benfica precisa de competir e de se exigir a si próprio. O problema é que estamos no verão e o Benfica não precisa de andorinhas; precisa de águias, aves de rapina.

Onde estão elas?

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