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Colunista e comentador

Na Luz há sempre demasiada gente de beicinho. E esse não é um problema do João Mário ou do Frederico Chouriço; é um problema do Sport Lisboa e Benfica

27 ago, 12:24

Caro João Mário, 

O João não é um jogador consensual: não o era no Sporting, não o é no Benfica como não foi, de resto, em nenhum dos clubes por onde passou - nem no Inter, nem no West Ham, nem em Moscovo no Lokomotiv.  

Aliás, jogadores consensuais não existem neste planeta, mesmo entre os melhores do Mundo. 

Quero dizer-lhe que compreendo o seu descontentamento. 

Entrou na Luz com o ferrete de ter sido “desqualificado”, perdoe-se-me a expressão, por Ruben Amorim, observado como um dos melhores ‘scouts’ cá da paróquia — e isso foi mais um desafio para si. 

Um ex-Sporting na Luz com esse ferrete não é grande cartão de visita. 

O João, no entanto, cerrou os dentes e foi à luta, ao ponto de — na época do  título - ter sido um jogador determinante. Na minha análise desse momento, entre as cartas do campeão, atribuí-lhe o ás de ouro, num baralho em que Aursnes foi o ‘joker’ e Roger Schmidt, Lourenço Coelho e Rui Costa - então a merecerem muitos elogios e hoje, curiosamente, debaixo de fogo — foram os principais destaques. 

O João conquistou o seu espaço com mérito e tornou-se um jogador muito importante para Roger Schmidt e parece-me que Schmidt nunca mais deixou de o considerar uma espécie de seu farol depois de o João se lhe ter referido, em fevereiro deste ano — já o efeito do título se tinha evaporado — como um treinador e pessoa “excelentes”. Ui. 

É mais ou menos silogístico: se você elogia o treinador e os adeptos não gostam dele, você passa a não elogiado e fica marcado como não amado, tipo Patinho Feio. 

O que aconteceu no momento da substituição na Luz no jogo com o Casa Pia, com assobios da plateia e aplausos da sua parte, foi o transbordar do copo: adeptos acham que, atualmente, muitas das suas ações técnicas e táticas não favorecem o jogo do Benfica e o João, convencido do que tem sido o seu envolvimento e dedicação ao Benfica, não se acha merecedor desse tipo de manifestações. 

Sobretudo depois de abdicar da Seleção para se concentrar nas suas tarefas na Luz e no Seixal. 

Como observador, também não acho justo: o João tem sido um grande profissional, dedicou-se ao Benfica de corpo e alma, mas, como sabe, o efeito da influência de treinador e jogadores na conquista do título já se esfumou há muito tempo. 

Os benfiquistas andam nervosos desde que começaram a assistir ao desmantelamento da equipa campeã nacional e, como sabe, ainda não é desta vez que se está a consolidar a ideia de que as saídas de Grimaldo, João Neves, Rafa e Neres tenham sido devidamente compensadas, talvez a de Gonçalo Ramos com Pavlidis;  esse nervosismo dos adeptos também pode ter relação com as chegadas tardias de Otamendi e Di María, com a impaciência sobre se sim ou não Renato Sanches vai ser mesmo reforço — e com as dúvidas que ainda não estão totalmente desfeitas em relação a Beste (entretanto lesionado), Leandro Barreiro, Prestianni e Rollheiser. 

Quer dizer: o campeonato está na terceira jornada e não se vê ainda consistência na equipa e há muitas interrogações a pairar sobre ela. 

Os adeptos estão nervosos com as dúvidas e com esta ideia de um Sport “Lego” e Benfica em que há demasiadas incertezas se as “pedras” se encaixam. A ideia de “puzzle assassino” está instalada há um ano e pico — e isso mexe com o sistema nervoso do Estádio da Luz. 

Tenho de ser sincero e perdoe-se-me a sinceridade: o João não merece os assobios mas — preto no branco! —, considerando a concepção de um futebol de pressão alta e desejavelmente mais agressivo por parte do Benfica, também não merece ser titular indiscutível. 

Pode não ser uma visão politicamente correta — e acredite que me custa exteriorizá-la perante um jogador que me habituei a admirar pela sua postura e discurso — mas é a minha. 

Não me esqueço que, até ao momento da saída, Chiquinho até foi titular  e dominante com Schmidt (o que se passa?) e foi considerado por muitos um jogador da dimensão de Zidane. 

Há coisas que, na verdade, custam a entender. 

Sinceramente, acho que fez mal em pedir para ficar de fora neste jogo com o Estrela, mas tem todo o direito de querer sair para outras paragens, se esse for o seu desejo e o Benfica concorde. 

Uma coisa parece-me certa: no Benfica, talvez por uma questão cultural pós-mística, há sempre demasiada gente “de beicinho”. É demasiado fácil ficarem “de beicinho”!… 

E esse não é um problema do João Mário ou do Frederico Chouriço; é um problema do Sport Lisboa e Benfica. 

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