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Colunista e comentador

O surto anti-Rui Costa correspondeu à sua grande vitória nas eleições do Benfica

27 out, 11:58
Eleições Benfica Rui Costa

Rui Santos ressalva que a presidência do Benfica para os próximos quatro anos só ficará definida no próximo dia 8 e que, portanto, Noronha Lopes ainda tem as suas possibilidades, mas os benquistas em maioria não gostaram da forma como Rui Costa foi “espezinhado” mediaticamente. E deram-lhe uma proteção significativa

No espaço mediático eram muito poucos aqueles que acreditavam nas possibilidades de Rui Costa nestas eleições do Benfica.

Pairava um surto anti-Rui Costa. 

Foi pena e até desumana a forma como Rui Costa foi tratado nestas eleições por certos observadores que acham saber e controlar tudo. 

Que era um mau líder.

Que não tinha qualquer preparação para o cargo. 

Que era um desastre na gestão desportiva.

Que não tinha noção nenhuma das questões financeiras.

Que estava mal acompanhado.

Que não tinha, afinal, qualquer noção do que era ser presidente do Benfica, ao contrário das loas que cantavam a João Noronha Lopes, achado pelo corporativismo contra Rui Costa (sim, a confluência das ideias contra o atual presidente soou a manobra combinada nos bastidores, entre os cafezinhos de oficina).

Confrangedor. As últimas horas chegaram a ser patéticas para justificar a incredulidade sobre a escolha dos sócios do Benfica, que acorreram às urnas como mais ninguém acorreu até hoje a atos eleitorais à escala mundial.

A azia escorria dos cantos de tantas bocas que nunca admitiram ter de fazer algo mais profundo para derrubar Rui Costa.

A derrota esmagadora de Rui Costa estava garantida, não havia outro cenário possível. O despertar da incredulidade foi um terramoto.

João Noronha Lopes era o “deus da mudança”, sim, da MUDANÇA, essa palavra mágica que servia para justificar a mais profunda nulidade do status quo.

E a verificação de uma afluência extraordinária às urnas (mais de 85.000 votantes) ainda adensava mais a ideia da decantada mudança.

Mas qual mudança? Quando se fala de mudança, mudança efetiva, está a falar-se de quê, objetivamente?

Sem estar em causa a reputação de algumas das figuras aqui citadas, a questão essencial é: ideia de mudança com titulares de lugares ou apoios como Luís Tadeu, Ribeiro e Castro, Bagão Félix, Tinoco Faria, Gaspar Ramos, Manuel Vilarinho, Nuno Gomes, que pertenceram ao passado do Benfica?

O Benfica é mais importante do que a distribuição de lugares e os que por fora correm na esfera mediática valem o que valem. Não vale(m) tudo…

Não era preciso pertencer à NASA — e nós também o afirmámos no último programa — para perceber que estas eleições (a surpresa foram os números fantásticos da afluência) iriam ser decididas entre Rui Costa e João Noronha Lopes.

E por que razão Noronha Lopes não teve um resultado mais expressivo, quando o incumbente apresentava as fragilidades que se conhecem?

Porque os benfiquistas, na sua maioria (não absoluta), não gostaram de ver Noronha Lopes atacar e pisar Rui Costa como o atacou e pisou, não apenas mas principalmente no debate na BTV.

Porque há uma coisa sobre a qual os benfiquistas não têm quaisquer dúvidas: sobre o benfiquismo de Rui Costa. Parece ser um argumento menor mas no associativismo, enquanto ele durar, não é.  

Além disso:

Não gostaram de ver contas positivas serem chumbadas, não gostaram do discurso, às vezes até arrogante, de Noronha Lopes, que progressivamente se foi anulando na sua falta de verve comunicacional, não gostaram da autovalorização das capacidades de gestão, não gostaram das dúvidas sobre o seu papel efetivo na McDonald's, não gostaram que a publicação das suas declarações de rendimentos não eliminassem todas as dúvidas que se colocaram depois da sua revelação, não se deixaram convencer sobre a competência de Nuno Gomes ser maior do que a do próprio Rui Costa.

E gostaram da serenidade institucional de Rui Costa, da sua pose presidencial, da contratação de José Mourinho, da forma como respondeu a todas as questões que lhe foram colocadas pelos candidatos, com inteligência emocional e sobretudo estão certos de que Rui Costa, com apenas quatro anos de presidência, merece o benefício da dúvida.

É certo que, na segunda volta, Rui Costa vai derrotar João Noronha Lopes? Não é uma certeza absoluta, mas é muito provável. Como muita coisa dependerá do grau de afluência às urnas a 8 de novembro.

Caro Rui Costa,

A surpresa, para mim, na expressão dos resultados não foi grande, mas esta vitória implica diversas conclusões a favor, mas é “apenas” como se fosse uma vitória ao intervalo de um jogo.

Para os dois, o importante é não desamar. Por isso lhe digo, caro João Noronha Lopes: fez muito bem em não desistir, apesar de que esse cenário pudesse ser interpretado como uma forma de dar mais cedo estabilidade ao Benfica, em função dos compromissos desportivos que se seguem.

Uma coisa é certa: os vencedores e os perdedores vão ter mais uma grande oportunidade de perceber que a união no Benfica vai ser vital para que o próximo mandato seja para somar e não para contribuir para a ingovernabilidade do Benfica, o maior perigo que ainda ameaça o grande clube da Luz. 

E esse cenário, também em nome do fortalecimento do futebol nacional, é preciso afastar. 

Isto é válido para todos os emblemas: agregar é a palavra de ordem. 

Sem perda de identidade e sem renegar aquilo que é urgente regenerar.


NOTA Vai ser decisiva, agora, a capacidade de não desmobilizar em todo o país. E estar atento às movimentações de quem perdeu as eleições. Nem Rui Costa nem João Noronha Lopes devem tirar decisões precipitadas. E lutar, até ao fim, por aquilo que querem. Rui Costa é favorito mas não pode pensar que esta grande vitória na primeira volta lhe permitirá repousar sobre os resultados. E Noronha Lopes tem de perceber que, se quer liderar o Benfica, tem de fazer muito mais e mudar a estratégia. Vital é saber comunicar melhor e não atacar gratuitamente. O Benfica é mas importante do que a distribuição de lugares.

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