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Uma palavra para Bruno Lage antes do Mónaco: “bem-haja, pelo futebol!”

27 nov 2024, 19:32
Bruno Lage no Benfica-Atlético de Madrid (MIGUEL A. LOPES/Lusa)

Rui Santos envia uma mensagem ao treinador do Benfica: foi escrita antes da vitória em França mas pode e deve ser lida depois do jogo. Porque isto que Rui Santos escreve é mais do que sobre um jogo - é sobre uma maneira de estar na vida

Caro Bruno Lage,

Foi uma semana rica em protagonistas mas para mim o Bruno é a figura desta semana.

Sabe porquê?

Por causa de uma coisa muito simples.

Por causa de gestos e atitudes que começam a escassear na nossa sociedade.

A nobreza, a pedagogia, o exemplo e o não à indiferença.

Chama-se a isto o princípio da liderança. Ser justo para quem se entende que, pelo trabalho, merece essa justiça.

Ser justo e ser professor.

O Bruno Lage foi professor. Foi professor com Arthur Cabral. Foi professor até pela forma como soube defender Di María, a provar que os anjos e os deuses do futebol como Cristiano Ronaldo na verdade nunca morrem e merecem o respeito de todos, na terra e no céu.

Na plenitude da sinfonia de Di María, após o hat-trick, face à forma como Arthur Cabral não estava a conseguir finalizar, e com Pavlidis no banco, o Bruno - após mais uma finalização desastrosa do ponta-de-lança brasileiro — virou-se para o público da Luz e pediu-lhe aplausos para o jogador, naturalmente a sofrer e em conflito com a sua falta de confiança.

A Luz correspondeu e, nesse momento, o Bruno fez-se líder e ganhou mais um jogador, que aliás no final se mostrou reconhecido ao Mister.

O Arthur ainda teve tempo para elevar o marcador de 5-0 para 7-0 e, quando acabou o jogo, estavam todos felizes: o Arthur, o Bruno, a equipa e o público.

Acrescento eu: e o futebol.

Obrigado, Bruno Lage, por nos mostrar a essência do futebol. Além das “bitáticas”, dos amuos, dos conflitos e da perfídia. E por ter tido a lucidez de associar os 7 golos ao número 7 da camisola de Nené, uma grande figura do nosso futebol, símbolo da elegância e dos “calções limpos”.

Bem haja, acima da baixa politiquice do futebol.

O futebol, quando se revê nas boas práticas, é muito mais futebol.

O futebol português precisa que as exceções se tornem regra.

Estamos todos cansados daqueles que acham que o futebol, para ser futebol, tem de mergulhar no esgoto e tirar dele o que o futebol tem de pior.

Bem-haja, Bruno Lage! Bem-haja, Ruben Amorim! Bem-haja, Pepê! Pelos exemplos recentes que deram em nome do desportivismo.

E bem hajam todos aqueles que querem fazer do futebol uma atividade verdadeiramente asseada.

Acreditem que, a manter este passo, vamos recuperar muita gente que já tinha desistido.

E dizer aos jovens que vale a pena gostar de futebol.

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