opinião
Diretor de Informação da TVI

A grande purga

9 dez 2021, 07:24

Ao dia hoje, é indiscutível que Rui Rio pode ganhar o país. E se há oportunidade para o fazer, é agora, perante um PS frouxo, coxo de ambas as pernas (PCP e BE), atulhado em polémicas e com um desgaste como não se viu nos últimos seis anos. 

Numa coisa Rio sempre teve razão: a vitória do PSD em eleições legislativas depende muito mais do demérito de quem está no poder do que do mérito de quem desafia esse poder. Não é uma questão de tom de voz, mas não basta um líder qualquer. Luís Montenegro não teria ganho a António Costa em 2019 e tenho a maior das dúvidas de que Paulo Rangel fosse capaz de o fazer em 2022. Já Rui Rio é, ao dia de hoje, um líder mais do que legitimado (apesar de ter fugido das eleições internas como o diabo foge da cruz), é o “sobrevivente”, o “homem de ferro” que enfrenta tudo e todos, que não tem medo de ninguém. 

Tamanho poder interno no PSD podia levar o líder do maior partido a oposição a uma de duas decisões: ser magnânimo e unir o partido ou fazer uma purga interna. Na sua cabeça conspirativa (e na dos que o acompanham), o reeleito presidente do PSD optou por limpar as listas de candidatos à Assembleia da República de todos os que um dia ousaram não o apoiar ou discordar dele. Numa interpretação muito própria da democracia, Rio quis pegar numa vassoura e fazer a limpeza que andava a prometer há quatro anos quando foi eleito pela primeira vez. A unidade, para Rui Rio, começa no “yes” e acaba no “men”.

Rio finge. 

Quando proclama a unidade e nunca a concretiza. Mas também quando ataca a independência dos órgãos de comunicação social e acaba, ele próprio, por tentar condicioná-los. Quando ataca a justiça de tabacaria para logo a seguir se sentar ao balcão dessa mesma tabacaria a ditar sentenças aos seus inimigos políticos. Finge quando ataca o populismo dos oportunistas ditos de extrema direita, mas acaba “deitado na cama” com eles quando e se for preciso. Finge quando parece estar a fazer oposição ao PS, mas acaba a pedir “migalhas” ao partido que o humilhou vezes e vezes sem conta. 

E a grande purga, para Rui Rio, está longe de ser feita. Não é uma opinião, é um facto com base em tudo o que o líder do PSD disse nos últimos quatro anos. A pergunta que me sobra — e que tão cedo não terá resposta — é que democracia sobrará de um governo liderado por um primeiro-ministro dado a purgas.

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