E o vencedor das eleições no PSD é: R... (análise)

27 nov 2021, 08:00
Rui Rio e Paulo Rangel (Lusa/Mário Cruz)

Rio ou Rangel? As letras do nome do presidente e candidato a primeiro-ministro do PSD são escritas hoje pelos militantes. Apoiantes de Rangel pareciam dar o aparelho como controlado até à dissolução do Parlamento, mas Rui Rio veio baralhar a matemática quando uma sondagem CNN/TVI lhe deu um empate técnico num confronto eleitoral com António Costa

O PSD vai a votos este sábado e o futuro do partido não está, como poderia presumir-se há apenas dois meses, decidido a favor de um dos candidatos. Nos bastidores, representantes das estruturas continuam a dar como certa a vitória de Paulo Rangel, mas essa certeza perdeu força nas últimas semanas.

Quando se iniciou o processo a dissolução do Parlamento, as hostes de Rangel revelavam mais confiança, ou, como poderia dizer o próprio ex-eurodeputado, que gosta de repetir sinónimos, alguma bazófia, uma certa prosápia, alguma jactância. A intensidade dessa confiança baixou.

Espelho meu, espelho meu, quem tem mais perfil de primeiro-ministro do que eu?

Quem é que os militantes do PSD acham que pode levar o partido ao poder? “No fim do dia, o nosso homem é aquele que nos leva lá”, afirma à CNN Portugal um dos mais ativos colaboradores de Rui Rio nesta campanha interna: “É por isso que a dinâmica tem sido favorável para ele e desfavorável ao Rangel, que dizia que nem havia eleições antecipadas”.

Já fontes próximas do eurodeputado não escondem que a campanha tem sido mais favorável ao atual líder dos sociais-democratas, mesmo se partiu de trás. Essas fontes consideram que Rui Rio soube ler a situação política e teve alguns golpes de rins quando as circunstâncias pareciam jogar contra si: não quis entrar em debates, anunciou que só faria campanha para as legislativas e abdicaria da campanha interna a favor do país; “Falou como candidato a primeiro-ministro, enquanto Paulo Rangel ficou como candidato a líder do partido”, reconhece um dirigente ligado à candidatura do eurodeputado. Isso parece ter criado uma “disfuncionalidade do debate interno” que preocupou os mais próximos de Rangel.

A proximidade das legislativas às eleições internas é o fator que perturba a matemática do aparelho social-democrata. E mesmo que todos reconheçam, de uma e de outra candidatura, que a vitória de Rangel é o desfecho mais provável, também são unânimes em dizer que, se Rio ganhar o partido, muda tudo na dinâmica das legislativas antecipadas: “Pode ser um ponto de viragem para ganhar o país”, dizem à CNN Portugal fontes que não apoiam o mesmo candidato. 

Rui Rio nem pestanejou quando viu a sondagem feita esta semana para a CNN/TVI dar-lhe clara vantagem sobre Paulo Rangel numa disputa eleitoral com António Costa. E se antes repetiu que as sondagens são uma “vigarice”, desta vez nem quis saber dos intervalos da margem de erro, foi aos dados e soprou-os para quantos militantes os quiseram apanhar. O número de mensagens de Whatsapp a circular, furiosamente, tinha o propósito de apanhar aqueles que ainda não decidiram qual dos candidatos preferem.

Os indefectíveis da direção atual insistem que essa percepção pode fazer a diferença na cabeça dos militantes que ainda estão na dúvida. Mas ninguém sabe quantos são nem que peso terá hoje nesse voto “em liberdade”.

O fenómeno do voto livre e a “solidão da urna de voto”

Paulo Rangel e Rui Rio vão votar este sábado no mesmo lugar, a sede do PSD do Porto, na mesma cidade que os uniu e onde hoje se separam. As horas de votação são diferentes, para garantir que não há contactos indesejados no número 64 da rua Guerra Junqueiro: Rangel primeiro, na abertura da votação, às duas da tarde em ponto; Rui Rio às três.

O Porto é uma das distritais essenciais nas contas de quem quer ser líder do PSD. As outras são Braga, Lisboa e Aveiro. Ninguém dúvida da matemática de Lisboa e a vantagem com que parte Paulo Rangel é difícil de anular.

Porto e Braga são igualmente declaradas para o eurodeputado, embora o trabalho intenso das últimas semanas tenha encurtado a vantagem sobre Rui Rio, e em Aveiro a batalha tem sido intensa. Salvador Malheiro, diretor de campanha de Rui Rio, é o líder desta distrital.

Se a vantagem do aparelho parece assim tão evidente, porque é que a matemática parece desafiar convicções iniciais, ao ponto de uma vantagem que muitos apoiantes de Rangel começaram por situar na ordem dos 70-30 já estar, assumidamente - e pelos mesmos - a inclinar para 55-45?

O líder de uma das maiores concelhias do PSD (favorável a Paulo Rangel) nem hesita: “Porque esquecem-se que podem ter mil ou mais votos naquela concelhia, mas nunca serão todos do mesmo”. E a perspectiva é ainda mais abrangente do ponto de vista dos apoiantes de Rio: “Em cada estrutura que controlem, há um saco de votos que não é deles, é do Rio”, assegura um dirigente.

Depois, é esperar para ver como se decide a Madeira. Os Açores estão dados como sendo para Rui Rio. No fim do dia saberemos quanto vale, afinal, no PSD, o voto livre de que Rui Rio tanto fala. Na solidão da cabine de voto, os caciques não entram, dizem apoiantes do presidente do PSD que tenta o terceiro mandato e as segundas legislativas. “Mesmo aqueles que os levam até à porta”.

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