Ele subiu ao palco e disse a Rui Rio: lembre-se de há quatro meses e quatro dias

28 jan 2022, 22:27

A arruada foi a descer, mas Rui Rio acredita que o caminho é a subir até São Bento. Na tradicional arruada no Chiado, em Lisboa, para fechar a campanha, o presidente do PSD contou com 'Moedas da sorte' e três antigos presidentes do partido

Não era verão nem de noite, mas a rua Garrett, em Lisboa, foi palco de uma espécie de marcha popular. Desfilaram António Costa, Rui Rio e André Ventura. Era a metáfora perfeita, o PSD encurralado entre o PS e o Chega. Cruzamentos entre comitivas, nem vê-los, apenas de cores. Quando a caravana laranja arrancou, ao final de 45 minutos de atraso, ainda existam no chão vestígios socialistas: os confetis rosa e brancos voavam com o vento de quem passava.

O PSD fechou a campanha eleitoral em Lisboa com a maior mobilização dos últimos 15 dias. Eram centenas de pessoas, muitas mais do que no Porto. Às cavalitas do pai, Rosário, de apenas oito anos, pula e canta o hino do partido. Acompanhada dos três irmãos, disse que gostava muito do PSD “porque é justo”.

Mas se até de crianças se fez a arruada, Odete Morgado não deixou que os 75 anos a fizessem ficar em casa. Com duas bandeiras na mão, e sem nunca tirar a máscara, acompanhou a tradicional descida do PSD porque leva “a política muito a sério”. Apesar do final desta corrida eleitoral ser incerto, tem pelo menos uma certeza: o futuro passa por coligações. “Ou à esquerda de António Costa ou à direita de Rui Rio, não há outra hipótese.”

À parte dos apoiantes e militantes, foram muitas as personalidades do universo social-democrata que marcaram presença no fecho de campanha: Jorge Moreira da Silva, Manuela Ferreira Leite, Carlos Moedas, Ricardo Baptista Leite, David Justino, Teresa Leal Coelho, Suzana Pinto, Duarte Pacheco, Isabel Meirelles, Paulo Mota Pinto, Salvador Malheiro, André Coelho Lima, José Silvano e Assunção Esteves.

Entre a multidão saltava um rosa forte. Era a cor do fato de Suzana Garcia, ex-candidata à Câmara da Amadora nas últimas autárquicas. Questionada sobre se a cor tinha alguma mensagem subliminar, respondeu: “Vim para fazer o funeral do PS”.

Santana Lopes: “Quando a vitória já está garantida, não é preciso estar presente”

O líder dos sociais-democratas seguiu, como dizia um cartaz, “por este Rio acima”. O cenário não era bem o de um rio, mas de um mar muito agitado. Pelo meio surge o primeiro farol de Rui Rio: Santana Lopes. O agora presidente da Câmara da Figueira da Foz, que ainda não tinha demonstrado o seu apoio ao partido, começou por explicar por que motivo apareceu e em que circunstâncias não o teria feito.    

“Eu estou cá porque as sondagens dão um bocadinho atrás. Se dessem um bocadinho à frente, não vinha” e acrescentou que “quando a vitória já está garantida não é preciso estar presente”.

Quando questionado sobre se a sua presença junto de Rui Rio significava “um regresso ao PSD”, Santana desviou e disse que “isso é um outro assunto”. A prioridade agora “é Portugal”.

Santana Lopes e Rui Rio em arruada do PSD em Lisboa (Lusa/Mário Cruz)

"Há quatro meses e quatro"

Chegados ao arco da rua Augusta, o primeiro a subir ao palco foi um dos principais trunfos de Rui Rio desde setembro: Carlos Moedas. No último dia de campanha eleitoral, o presidente da Câmara de Lisboa mostrou-se confiante numa vitória no próximo domingo: "Rui Rio será o próximo primeiro-ministro de Portugal”, porque "as pessoas estão cansadas daqueles que acham que mandam nisto tudo".

“Há quatro meses e quatro dias estávamos aqui a descer o Chiado quando ninguém acreditava. Foi aqui que começámos os Novos Tempos. Foi aqui que sentimos que íamos ganhar. E foi por isso que ganhámos. Hoje voltámos a sentir esse sabor da vitória", reiterou.

Perante a multidão laranja que gritava “vitória” e “o povo não esquece que a culpa é do PS”, Moedas disse que nas últimas duas semanas tem sentido nas ruas “algo que é inquestionável” e pediu aos portugueses que não se deixem enganar.

“Todos querem mudança e a única mudança possível é o PSD (...). Não há outra alternativa, meus amigos, não se deixem enganar."

Ricardo Baptista Leite: "Isto é emocionante. Estamos muito próximos da mudança"

Debaixo de fortes aplausos, Moedas deu a vez a Ricardo Baptista Leite, cabeça de lista por Lisboa, que já começou o discurso emocionado: “Estamos perto da mudança”. Ainda assim, nada está garantido e, por isso mesmo, fez um apelo ao voto.

"Isto está taco a taco. Eu acredito que nós podemos vencer mas temos de ir todos votar (...). Só há uma alternativa a António Costa: é ter Rui Rio como primeiro-ministro de Portugal”.

O deputado que tem dado a cara pelo PSD durante a pandemia afirmou que “o país tem potencial” e que a missão do partido é “libertar” esse mesmo potencial. Por essa razão, disse, estas legislativas “vão ser um grande desafio”.

Rui Rio: "O PS mente e sabe que mente"

A fechar o círculo de discursos e a campanha, sobe ao palco Rui Rio. Foi o momento mais eufórico de toda a arruada. O alvo era o mesmo de sempre. O presidente do PSD voltou a atacar o PS, acusando-o de mentir.

"Andamos pela positiva a divulgar as nossas ideias e eu acho que é assim que se deve fazer uma campanha eleitoral, mas o PS não acha (…). O PS nem sequer contrariou as nossas propostas, o PS decidiu mentir."

Classificou como uma “vergonha” a governação socialista que colocou “Portugal na cauda da Europa” e continuou a queixar-se das difamações e calúnias de que diz ter sido alvo, quer sobre o Serviço Nacional de Saúde, o aumento do salário mínimo nacional ou as coligações com o Chega.

"O PS mente e sabe que mente", rematou.

Sobre os acordos com a extrema-direita, Rui Rio disse que era preciso “ter descaramento” quando foi o PS que “andou a fazer acordos com o Chega nas autarquias” e que votaram lado a lado 1.180 vezes na Assembleia da República. "Não abrimos a porta a extremos, quem abriu a porta a extremos foi o PS (...). Não têm legitimidade para atacar o PSD."

Rio aproveitou ainda para deixar um alerta aos portugueses: se António Costa ganhar no próximo domingo, é o regresso da geringonça. “Votar PCP, Bloco de Esquerda ou PS é tudo a mesma coisa", afirmou. 

“Os portugueses têm de perceber que ou querem que António Costa continue e, por isso, votam num dos três partidos que garantam isso, ou querem que seja substituído e só há apenas um voto útil possível, que é no PSD."

Foi na reta final da campanha que Rui Rio utilizou a sua última cartada para destrunfar o PS. Falta agora saber de quem é o trunfo da vitória.

Rui Rio no último discurso da campanha (Lusa/Mário Cruz)

 

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