Congresso do PSD: Enquanto Rio discursava, a vida seguia (até para um dos opositores)

17 dez 2021, 23:55

Meia hora de discurso para traçar o ambicionado futuro enquanto primeiro-ministro. Nos bastidores, entre os atrasados e os desinteressados, um nome de peso.

À hora prevista para o arranque dos trabalhos, as 21:00, uma sala praticamente vazia ouvia “Last Christmas” dos Wham! Um espírito natalício, de união, que havia de ser uma das palavras mais repetidas na primeira noite deste 39º Congresso do PSD – mesmo com as movimentações de última hora de Pedro Rodrigues, Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro, com listas próprias aos órgãos do partido.

Rui Rio só subiria ao palco uma hora depois, perante uma plateia nem pela metade. 22:02: o relógio marcava o arranque de um discurso com oito páginas. Quase meia hora para recordar trabalho feito, atacar o PS e traçar metas para as eleições legislativas. Mas, enquanto o líder falava, o que acontecia nos corredores do Europarque, em Santa Maria da Feira?

O opositor em circulação

À subida da escadaria, à entrada do auditório, Sá Carneiro esperava os atrasados. Livros com a vida e obra do fundador do PSD, à venda, numa tímida banca. Muitos militantes jovens, entre eles o deputado Hugo Carvalho, chegavam já o discurso de Rio tinha arrancado. Nas mãos, blocos de notas com lombadas laranja. Outros, junto à área de credenciação, aproveitavam para uma “selfie”, ao estilo de outro social-democrata que em Santa Maria da Feira teve, em 1996, um congresso de destaque, Marcelo Rebelo de Sousa.

Mas, pelos corredores do Europarque, havia um rosto que, mesmo coberto pela máscara, se destacava durante esta meia hora de discurso. Miguel Pinto Luz, que disputou a liderança do PSD com Rio em 2020 e agora encabeça uma lista ao Conselho Nacional. Nas várias voltas que deu, aproveitou para uma breve conversa com Cristóvão Norte. Acabaria sentado no bar, com uma garrafa de água, entre telefonemas. Para acertar a lista que vai apresentar.

Rui Rio procurou conquistar as "bases" neste discurso (Foto: Estela Silva/Lusa)

Lado a lado com a pandemia adormecida

Para entrar no recinto do congresso, todos os delegados têm de atravessar um dos amplos corredores do Europarque. Há duas portas para os militantes, uma terceira para a imprensa. Ainda antes do discurso de Rio, já este espaço estava praticamente vazio. “Vai começar”, ouviu-se pelas 21:38. As cadeiras do bar ficaram logo vazias.

Tais como as cadeiras que esperam ver, neste fim de semana, crianças a serem vacinadas contra a covid-19, pela primeira vez no país. É que o Europarque, em Santa Maria da Feira, tem a funcionar um centro de vacinação. As duas realidades estão e estarão separadas por placards altos, com fotografias dos principais atrativos do concelho.

Quem aqui chega, seja militante ou não, tem primeiro de passar pelas quatro tendas brancas que existem no exterior. Para mostrar o teste negativo e ganhar uma pulseira branca. A letras laranja, lado a lado com o símbolo do partido, lê-se “Testado”.

Para Rio, este congresso é o verdadeiro teste à liderança, após três corridas internas. Em meia hora de discurso, falou para “as bases” e disparou-se em várias direções, em várias áreas de governação. O lugar do PSD, diz, é ao centro, “para corrigir os excessos à esquerda e à direita”.

Mas, enquanto Rio falava, na periferia, a vida seguia. Sacos com comida para quem o trabalho impediu um momento à mesa, equipas de limpeza que punham as casas de banho e o chão a brilhar, cabos de televisão que se puxavam a preparar o direto seguinte.

Às 22:35, Rio terminou o discurso. Às primeiras palmas, o corredor começou a encher-se, para as conversas paralelas de que se faz a militância.

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