Autarca do Porto diz "já estar habituado que quando as coisas correm bem, é o Governo, e quando as coisas correm mal, são os municípios"
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, considerou esta quarta-feira que a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, “não sabe o que está a dizer” quando remete responsabilidades para as autarquias sobre a remuneração dos bombeiros sapadores.
Em declarações aos jornalistas, o autarca do Porto disse que “por desconhecimento” a ministra atribuiu responsabilidades na matéria as municípios.
“A senhora ministra não sabe o que está a dizer”, insistiu o autarca, depois de visitar os bombeiros sapadores que, desde o início de setembro, estão em frente à Câmara do Porto em vigília e protesto.
Numa declaração sem direito a perguntas no Palácio de São Bento, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, mostrou-se confiante de que as negociações que estão a decorrer com os bombeiros vão chegar "a um bom termo", mas recordou que os sapadores "dependem das autarquias" e "não do Estado".
“Os bombeiros sapadores que estão a manifestar-se em frente à Assembleia da República são bombeiros cujo patrão não é Estado, são bombeiros que dependem das autarquias”, afirmou aos jornalistas Margarida Blasco.
Questionado se a ministra estava a tentar passar as responsabilidades para os municípios, o autarca independente disse "já estar habituado que quando as coisas correm bem, é o Governo, e quando as coisas correm mal, são os municípios".
“A senhora ministra já está há algum tempo em funções, devia estar a par da situação e, portanto, se não sabe, devia saber, e pode passar a saber a partir das nossas declarações”, referiu.
Recusando fazer "interpretações sobre motivações", Rui Moreira apelou a que o Governo responda às reivindicações dos bombeiros sapadores, que "não custam um tostão ao Estado e serão asseguradas plenamente pelo município".
"A única coisa que pedimos à senhora ministra, ela se quiser que descentralize, que faça o que quiser, agora que não diga que este é um problema dos municípios. É um problema que os municípios sentem na pele, os bombeiros sentem na pele, mas que não temos [autarquias] meios para resolver", observou.
Rui Moreira lembrou que os bombeiros sapadores, à semelhança de outros, são funcionários do município, mas que não é a autarquia que determina as suas carreiras e condições de trabalho.
“Da mesma maneira que o vencimento do presidente da câmara não é determinado pela Câmara do Porto, ou de um policia municipal, também o dos bombeiros sapadores é definido pelo Estado”, afirmou.
Dizendo não ter descoberto “este tema hoje”, o autarca lembrou ainda a proposta aprovada, na segunda-feira, por unanimidade no executivo municipal.
“No município do Porto, todas as forças políticas que estão representadas defendem que é preciso criar condições para as carreiras dos bombeiros dadas as condições do desempenho das suas funções e a desadequação das condições remuneratórias, e não apenas em termos de carreira de uma profissão que é de desgaste elevado”, observou.
Centenas de bombeiros sapadores ocuparam esta quarta-feira a escadaria da Assembleia da República, num protesto que começou ao meio-dia, com rebentamento de petardos e queima de pneus, e começaram a desmobilizar três horas depois.
A manifestação foi promovida pelo Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) e envolveu a participação de centenas de bombeiros sapadores de todo o país que reclamam "um aumento salarial para compensar a subida da inflação, idêntico ao que foi dado em 2023 pelo anterior Governo aos polícias, e um subsídio de risco semelhante ao que foi dado às forças de segurança.
Pedem ainda uma regulamentação do horário de trabalho, a reforma aos 50 anos e um regime de avaliação específico.
Ao longo do protesto, os manifestantes derrubaram as barreiras colocadas pela PSP.