Abramovich deu milhões a federação judaica russa que certificou ligação a Portugal

7 abr 2022, 11:42
Roman Abramovich (AP Photo)

Bilionário é um dos principais financiadores de entidade decisiva na obtenção da nacionalidade portuguesa

Roman Abramovich é presidente do Conselho de Curadores e um dos maiores financiadores da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia. Para obter a nacionalidade portuguesa, o oligarca russo entregou à Comunidade Judaica do Porto pelo menos três certificados de três entidades judaicas de vários países, mas aquele que apresentava mais detalhes é assinado pelo presidente da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia, Alexander Boroda, um rabino próximo de Vladimir Putin.

Financiamento valeu prémio

Antes dessa certificação como descendente de judeus sefarditas (em 2020), o próprio Alexander Boroda tinha dado um prémio a Roman Abramovich, em 2018, pelo financiamento de causas judaicas e reconhecido o elevado apoio financeiro do bilionário russo a essa mesma Federação.

Em declarações citadas pelo The Jerusalem Post e pelo The Jewish Chronicle, Boroda dizia que Abramovich tinha sido "vital para o trabalho da comunidade judaica" e acrescentava: "Muito do trabalho que fazemos tem sido possível graças ao senhor Abramovich e estamos profundamente reconhecidos por esse apoio continuado".

Essa ligação financeira de Abramovich à Federação das Comunidades Judaicas da Rússia é noticiada na manhã desta quinta-feira pelo jornal Público, depois de no dia anterior a CNN Portugal ter revelado as razões alegadas por Alexander Boroda para certificar Abramovich como descendente português e que outra das organizações judaicas que certificou o bilionário (o movimento Chabad) também tem sido apoiada pelo próprio. 

52 milhões num único ano

Só em 2013, segundo o The Moscow Times, Abramovich doou 52 milhões de dólares à federação judaica russa que o viria a certificar como descendente de sefarditas.

O site da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia apresenta mesmo, com destaque, Roman Abramovich como o presidente do seu Conselho de Curadores, um organismo que numa organização deste tipo é fundamental na gestão financeira da instituição e recolha de donativos. 

Alexander Boroda e Roman Abramovich sentam-se ainda à mesma mesa no Conselho de Curadores do Museu Judaico e Centro para a Tolerância, inaugurado em 2012 em Moscovo, que teve no bilionário russo um dos seus principais financiadores.

"Ligação sentimental a Portugal"

No certificado passado em 2020 por Boroda a Abramovich, decisivo para obter a nacionalidade portuguesa, é referido em cinco pontos que o bilionário "é descendente de judeus sefarditas, "mantém uma ligação sentimental a Portugal", "é membro da comunidade sefardita", "tem antepassados sefarditas" e é "um judeu sefardita português."

Sem mais elementos de prova, o documento justifica as afirmações anteriores com base nos testemunhos de Abramovich recolhidos pelo próprio rabino/presidente da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia que acrescentava: "Confirmo que Roman Abramovich preserva rituais, estilo de vida, tradições e hábitos alimentares sefarditas".

 

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