Frankfurt cancela concerto do "antissemita" Roger Waters. Espetáculos de Lisboa estão quase esgotados e não estão em risco

27 fev 2023, 12:38
O músico Roger Waters (AP)

O músico tem-se manifestado a favor de sanções ao estado de Israel e também é muito crítico em relação ao apoio à Ucrânia. A cidade de Frankfurt anunciou o cancelamento daquele que dizem ser "um dos antissemitas mais conhecidos do mundo"

A cidade de Frankfurt, na Alemanha, cancelou o concerto de Roger Waters, que deveria realiza-se a 28 de maio na Festhalle. O município, que detém 60% da sala de espetáculos, e o estado de Hesse, proprietário dos restantes 40%, chegaram a acordo e anunciaram o cancelamento daquele que dizem ser "um dos antissemitas mais conhecidos do mundo".

O músico, que tem sido notícia pela sua posição em relação à guerra na Ucrânia, não comentou para já o caso.

A presente digressão do antigo membro dos Pink Floyd, “This Is Not a Drill”, vai começar na Altice Arena, em Lisboa, com concertos a 17 e 18 de março. O concerto de dia 18 está já esgotado e para o de 17 só há bilhetes para o "Golden Circle". Até ao momento, os concertos em Portugal não estão em risco, garantiu à CNN Portugal a promotora Ritmos & Blues.

Os concertos de Waters na Polónia foram os primeiros a ser cancelados. Desde janeiro que a pressão para cancelar o concerto de Frankfurt vinha a crescer, segundo o jornal Frankfurter Allgemeiner. Uma declaração do conselho da cidade anunciando o cancelamento lembrava que aquele espaço, a Festhalle, foi usado para deter três mil judeus após o "pogrom" nacional de 9 a 10 de novembro de 1938, durante o qual os nazis atacaram os judeus e suas propriedades.

O músico de 79 anos é um forte defensor do movimento BDS, que apela a um boicote generalizado ao estado de Israel, tendo comparado o regime do país com o apartheid na África do Sul, na relação que o Estado judeu mantém com a Palestina. Esta posição levou-o a ser acusado, por mais do que uma vez, de “antissemitismo”. A cidade de Franfurtk condenou Waters veementemente por apoiar a campanha para submeter o Estado de Israel a um regime de “boicotes, desinvestimentos e sanções (BDS)” como um passo para a sua eliminação enquanto estado soberano e também por pressionar outros artistas a não se apresentarem em Israel. Também foi criticado o uso de imagens antissemitas em concertos anteriores de Waters, incluindo um balão em forma de porco, gravado com uma estrela de David, e vários logotipos corporativos.

No passado dia 8 de fevereiro, Waters discursou no Conselho de Segurança na qualidade de “ativista civil a favor da paz” a convite da Rússia, afirmando que estava a falar em nome da “maioria sem voz” do mundo. Apesar de considerar que a invasão russa da Ucrânia foi “ilegal”, Waters frisou, por videoconferência, que não se pode dizer que “não aconteceu sem provocação”. “Portanto, condeno os provocadores nos termos mais fortes possíveis”, disse, referindo-se ao governo ucraniano, sugerindo ainda que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos – têm interesse por “grandes lucros para as indústrias de guerra”.

Várias vozes têm-se levantado contra o cantor, incluindo o seu ex-companheiro de banda, o guitarrista David Gilmour. Reagindo a uma entrevista que Waters deu a uma agência de notícias alemã no início deste ano, na qual acusou Israel de promover “genocídio”, Gilmour e a mulher, a romancista Polly Samson, twittaram: “Infelizmente, Roger Waters, tu és antissemita até ao osso. Também um apologista de Putin e um mentiroso, ladrão, hipócrita, sonegador de impostos, fazes playback, és misógino, doente de inveja, megalomaníaco. Chega da tuas parvoíces".

As organizações judaicas alemãs congratularam-se com o anúncio do cancelamento: “Estamos orgulhosos da nossa Frankfurt hoje”, disse, em comunicado, a comunidade judaica da cidade.

Também o Conselho Central de Judeus Alemães afirmou que a “decisão da cidade de Frankfurt e do estado de Hesse mostra que o antissemitismo na arte e na cultura não deve ser tolerado”. O Conselho instou ainda a população de Hamburgo, Berlim, Munique e Colónia, as outras cidades alemãs que também vão receber a digressão “This is Not A Drill 2023”, a reconsiderar a sua posição. Já na semana passada, um grupo multipartidário de políticos no Conselho da Cidade de Colónia tinha pedido que o concerto de Waters, agendado para 9 de maio, fosse cancelado.

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