Ministra diz que fuga "demorou seis minutos" e resultou de "erros muito graves, inaceitáveis". Ordenada auditoria "urgente" às 49 prisões do país

10 set, 18:35

Rita Júdice confirmou que só foi avisada do incidente na prisão de Vale de Judeus cerca de duas hora e meia após o fim da fuga. Relatório preliminar comprova que "o sistema de videovigilância estava operacional e a funcionar" e o "o elemento responsável por monitorizar as imagens estava no seu posto"

Rita Júdice apresentou esta tarde as conclusões do relatório preliminar da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) sobre a fuga dos cinco reclusos de Vale de Judeus e não tem dúvidas em afirmar que houve "desleixo, facilidade, irresponsabilidade e falta de comando".

"Esta situação é extrema e de uma gravidade sem nome", reiterou a ministra da Justiça.

A ministra da Justiça esclareceu que a fuga "resultou de uma cadeia sucessiva de erros e falhas muito graves, grosseiras, inaceitáveis", realçando que este incidente "não traduz uma cultura de segurança e de exigência" no país.

De acordo com o relatório apresentado pela ministra, que sublinhou ser "reservado e confidencial", a fuga "demorou seis minutos", tendo começado às 9:55 com o último recluso a abandonar o perímetro da prisão de Vale de Judeus às 10:01, sendo que só foi detetada "quase em simultâneo” por dois guardas 59 minutos depois, às 11:00. O alerta só chegou à GNR às 11:18, uma hora e 23 minutos depois do início da fuga. Já Rita Júdice só foi informada por volta das 12:30, cerca de duas horas e meia depois do fim da fuga, informou a própria ministra.

"A fuga de cinco reclusos em plena luz do dia é de uma gravidade extrema e de uma gravidade que não podemos desculpar", garantiu Rita Júdice.

O inquérito preliminar determinou que no dia da fuga estavam escalados 33 guardas prisionais e dois elementos com a função de Chefe de Equipa, na prisão de Vale de Judeus. Para além disso, ficou provado que "o sistema de videovigilância estava operacional e a funcionar" e o "o elemento responsável por monitorizar as imagens estava no seu posto". É ainda enunciado que "foram usados recursos (como duas escadas) que não existiam no interior do estabelecimento prisional".

A ministra da Justiça revelou também que ordenou uma auditoria "urgente" às 49 prisões do país. “Vamos dar prioridade extrema à segurança, vamos desde já avançar com o processo de auditoria a todos os sistemas de videovigilância e sistemas de seguranças dos 49 estabelecimentos prisionais, até ao final do ano, e vamos também fazer uma auditoria de gestão”, disse.

Rita Júdice anunciou ainda que Isabel Leitão, até aqui subdiretora geral da DGRSP, assumirá as funções do demissionário Rui Abrunhosa Gonçalves, que apresentou a demissão momentos antes da conferência de imprensa.

Sobre de quem é a responsabilidade do que se passa nos serviços prisionais do país, Rita Júdice disse que "gostaria mais de falar do futuro do que do passado", mas não deixou de apontar o dedo ao Governo de António Costa: "A situação que encontrámos no Ministério da Justiça quando tomámos posse foi profundamente complicada, muito para além das dificuldades que imaginávamos. Esta situação do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus vem pôr a nu algumas dessas fragilidades.”

Cinco reclusos fugiram no sábado do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa. A fuga foi registada pelos sistemas de videovigilância pelas 09:56, mas só foi detetada 40 minutos depois, quando os reclusos regressavam às suas celas.

Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos.

Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.

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