Os Estados Unidos já vieram garantir que não têm qualquer envolvimento nos ataques. As forças iranianas já anunciaram que "Israel e Estados Unidos vão pagar um preço elevado"
O ataque desta sexta-feira de Israel ao Irão, denominado Operação Rising Lion, era há muito esperado. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu há muito que insiste numa opção militar para travar o programa nuclear iraniano. E, desde fevereiro, que as agências de informação norte-americanas têm vindo a alertar para a possibilidade de Israel tentar atacar este ano as instalações chave do programa nuclear iraniano.
Relatórios recentes dos serviços secretos americanos afirmam que Israel está a tentar capitalizar a destruição infligida, depois de ter bombardeado as instalações de produção de mísseis e as defesas aéreas do Irão em outubro. De acordo com um desses relatórios, Israel continua a perseguir o objetivo mais amplo de provocar uma mudança de regime no Irão, governado desde 1979 pelos aiatolas, depois da revolução que depôs o xá da Pérsia.
O Irão sempre foi encarado como uma ameaça por Telavive e Israel considera que é o país que mais tem a perder se Teerão desenvolver uma arma nuclear. Além disso, Teerão tem apoiado grupos armados regionais que se envolveram em conflitos diretos com Israel, como o Hezbollah no Líbano, o Hamas em Gaza e os Houthis no Iémen.
Pressão interna a Netanyahu e as explicações para o timing
Internamente, Benjamin Netanyahu está em maus lençóis. A forma como reagiu ao ataque do Hamas, a 7 de outubro de 2023, e o modo como tem gerido a questão dos reféns tem deixado o primeiro-ministro israelita fragilizado. A oposição a um novo projeto de lei sobre o recrutamento militar provocou um impasse político e o parlamento israelita, o Knesset, reuniu-se para falar sobre a sua dissolução - o que poderia levar a eleições antecipadas que, de acordo com as sondagens, Netanyahu perderia. Essa votação foi rejeitada, dando a Netanyahu mais tempo para resolver a crise.
O organismo de vigilância nuclear das Nações Unidas aprovou na quinta-feira uma resolução que declara que o Irão está a violar as suas obrigações de não-proliferação nuclear. Teerão retaliou, anunciando que iria aumentar as suas atividades nucleares, avisando que “não tinha outra opção senão responder”. O Irão afirma que o seu programa nuclear se destina a fins pacíficos.
O possível envolvimento dos Estados Unidos
Os Estados Unidos já vieram garantir que não têm qualquer envolvimento no ataque. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, emitiu um comunicado em que afirma que “a principal prioridade” de Washington DC “é proteger as forças americanas na região”.
“Esta noite, Israel tomou medidas unilaterais contra o Irão. Não estamos envolvidos em ataques contra o Irão e a nossa principal prioridade é proteger as forças americanas na região. Israel informou-nos que acredita que essa ação foi necessária para sua autodefesa", afirmou em comunicado.
Apesar de a administração Trump se ter distanciado dos ataques, as declarações e medidas de precaução tomadas esta semana indicam a preocupação em relação a uma eventual retaliação do Irão, que se espera seja rápida e possa também incluir alvos americanos no Médio Oriente.
“Permitam-me que seja claro: o Irão não deve visar os interesses ou o pessoal dos Estados Unidos”, disse Rubio, abrindo espaço para que o Irão ataque, desde que não seja contra alvos norte-americanos.
Na quarta-feira, os Estados Unidos retiraram os diplomatas do Iraque, vizinho do Irão a oeste, e autorizaram a saída voluntária dos familiares dos militares americanos do Médio Oriente.
As forças armadas americanas têm uma grande frota de aviões de guerra, navios de guerra e milhares de soldados estacionados nas suas bases na região, incluindo no Catar e no Bahrain, a cerca de 240 quilómetros do Golfo do Pérsico.
A comentadora da CNN Portugal Helena Ferro de Gouveia considera que o ataque de Israel ao Irão “era uma opção que estava preparada há muito tempo” e não tem dúvidas que “foi articulada com os Estados Unidos, (…) e terá havido uma certa articulação com a Jordânia e com o Egito".
Trump insta o Irão a assinar acordo nuclear
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiu, numa mensagem na sua rede social Truth Social, afirmou o Irão de que "deve assinar um acordo" nuclear, "antes que seja tarde demais" e "que não reste nada", depois de Israel ter lançado vários ataques contra infraestruturas nucleares e militares iranianas.
"Dei ao Irão uma oportunidade após outra para chegar a um acordo. Disse-lhes, com as palavras mais enérgicas, 'façam isso', mas por mais que tentassem, por mais perto que estivessem, simplesmente não conseguiam. Disse-lhes que seria muito pior do que qualquer coisa que eles conhecessem, antecipassem ou lhes dissessem, que os Estados Unidos fabricam o melhor e mais letal equipamento militar do mundo, DE LONGE, e que Israel tem muito dele, com muito mais por vir, e sabe como usá-lo. Alguns iranianos linha-dura falaram com coragem, mas não sabiam o que estava prestes a acontecer. Todos eles estão MORTOS agora, e só vai piorar! Já houve muita morte e destruição, mas ainda há tempo para fazer com que este massacre chegue ao fim, com os próximos ataques já planeados a serem ainda mais brutais. O Irão deve chegar a um acordo, antes que não reste nada, e salvar o que antes era conhecido como o Império Iraniano. Chega de mortes, chega de destruição, APENAS FAÇAM ISSO, ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS. Que Deus abençoe todos vocês!”, escreveu Trump.
Israel justifica os ataques com a iminência do desenvolvimento de pelo menos 15 bombas nucleares dentro de dias.
Entretanto, o Irão anunciou que Israel pode esperar uma "resposta severa", algo que o Estado hebraico parecia já esperar, uma vez que declarou automaticamente um estado de emergência. Essa resposta pode estar iminente, até porque as mais altas patentes do Irão reuniram de emergência, logo depois dos ataques.
As forças iranianas já anunciaram que "Israel e Estados Unidos vão pagar um preço elevado", colocando também os norte-americanos no seio da situação. Isto porque, segundo o brigadeiro-general Abolfazl Shekarchi, porta-voz das Forças Armadas do Irão, o ataque teve o apoio norte-americano.
Pouco depois, o próprio aiatola Ali Khamenei, líder supremo do Irão, anunciou que vem aí um "castigo severo" a Israel.