Os rios da Europa estão a secar (e não é só a paisagem que fica afetada)

CNN Portugal , FMC
6 ago 2022, 00:28
Rio Reno é um dos rios mais afetados pela seca que assola a Europa (NurPhoto/ Getty)

Comércio está a ser afetado em muitos pontos da Europa, mas também foi possível descobrir tesouros arqueológicos em alguns locais

A Europa tem sido fortemente afetada nos últimos tempos por uma seca marcada por ondas de calor históricas, temperaturas máximas recorde e graves incêndios. 

O relatório sobre “A seca na Europa – julho de 2022”, elaborado pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia com base no trabalho do Observatório Europeu da Seca, apontou que “a seca severa que afeta diversas regiões da Europa desde o início do ano continua a expandir-se e a agravar-se”, devido à combinação de falta de chuva e ondas de calor. 

Inglaterra e França anunciaram que o mês de julho foi o mais seco dos últimos anos. Espanha vive, neste momento, a pior seca desde 1981. Também em Portugal foi anunciado que o país assistia à pior seca do século.

Uma das grandes consequências verificadas pelos países europeus tem sido a seca que afeta as margens dos rios. Desde o Danúbio ao Pó, as autoridades estão preocupadas e alertam sobre os problemas económicos e sociais que podem advir desta situação. 

É que, além da paisagem que se altera, o esgotamento de água prejudica o transporte de mercadorias, a produção de energia e ainda o acesso a água potável. 

O percurso fluvial com maior tráfego do continente está condicionado

O rio Reno, o segundo maior da Europa Ocidental, percorre vários países europeus ao longo de 1.233 quilómetros, passando por cidades de grande relevância de transporte de cargas e terminando a viagem no Mar do Norte, junto da cidade de Roterdão, nos Países Baixos, que é o maior porto da Europa. 

Os níveis baixos de água impactam negativamente o transporte de bens como o carvão, petróleo para aquecimento, combustível, produtos químicos, peças de automóveis. Tudo itens que fazem deste um dos rios mais vitais na Europa para entrega destas mercadorias. O comércio está, assim, drasticamente afetado, numa altura em que todo o continente enfrenta uma crise energética exacerbada pela guerra na Ucrânia e que procura evitar, a todo o custo, a recessão. 

Rio Reno está seco em Colónia (Thierry Monasse/ Getty)

As autoridades alemãs alertaram mesmo que poderá ser imposto um encerramento do tráfego comercial. Uma das maiores companhias de gás alemão também já avisou que a situação atual pode levar a que as empresas de energia tenham de diminuir a produção. A maioria dos bens alemães são transportados neste rio, sendo que na cidade de Colónia os "níveis estão invulgarmente baixos" para esta altura do ano. Nesta cidade a imagem do rio está diferente, vê-se apenas um fio de água. 

Ali a navegação está restrita a barcos de menores dimensões de forma a que não fiquem presos no fundo do rio. Foi também implementada uma medida que obriga a que a carga seja reduzida para metade, tendo como objetivo garantir as normas de segurança. As autoridades da cidade afirmam que o transporte de carga no rio continua, mas com embarcações por vezes forçadas a navegar 75% vazias. 

As medidas impostas colocam ainda outro problema: as empresas veem-se obrigadas a recorrer a mais barcos para transportar a mesma carga ou a recorrer a comboios e camiões de mercadorias que estão escassos. Inevitavelmente, esta conjuntura conduz a um aumento de preços e a uma diminuição da rapidez de transporte.   

A fonte que secou

O início do rio Tamisa, no Reino Unido, está seco e deslocou-se para jusante, cerca de oito quilómetros. O caudal do rio costuma começar em Cirencester e flui pela capital inglesa, Londres, desaguando no Mar Norte. Mas a seca sentida, a onda de calor que assolou a Europa e que atingiu fortemente o país levou a que o ponto que marca o início do Tamisa seja agora Somerford Keynes. O anúncio foi feito pela instituição ambiental Rivers Trust, que opera em todo o Reino Unido e na Irlanda.  

"O que estamos a ver na nascente do icónico rio Tamisa é tristemente emblemático da situação que enfrentamos em todo o país, agora e no futuro", disse Christine Colvin, Diretora de Direito e Envolvimento do Rivers Trust, numa declaração enviada à CNN

"Embora não seja invulgar que a nascente esteja seca no Verão, ver o rio a correr apenas cinco milhas a jusante é algo sem precedentes", disse. "A crise climática está a conduzir, e conduzirá, a condições meteorológicas mais extremas, incluindo secas e ondas de calor. Isto representa uma grave ameaça para os rios e, consequentemente, para a paisagem mais vasta". 

O início do rio Tamisa de Londres, agora em Somerford Keynes, em Gloucestershire (CNN Internacional)

A mudança na nascente do rio ocorre numa altura em que as autoridades inglesas advertem que a nação poderá cair oficialmente numa seca este mês de agosto. O instituto meteorológico do Reino Unido (Met Office) avisou que as elevadas temperaturas estarão de regresso na semana que se avizinha, ainda que não se espera que sejam atingidas as temperaturas verificadas em julho.  

Em Itália a seca revelou riquezas arqueológicas 

O rio Pó, o mais longo de Itália, também está a sofrer com a seca, que é a pior dos últimos 70 anos, e que fez com que certas partes do rio tenham secado, deixando um rasto de terra onde antes passava água.  

Os reservatórios hidroelétricos atingiram valores historicamente baixos e a seca do rio - que se alonga por 652 quilómetros desde a cidade de Turim até desaguar no mar Adriático, em Veneza - está a colocar em risco o acesso a água potável da população italiana.  

Segundo a agência de notícias italiana Ansa o observatório Anbi, que supervisiona o rio italiano, indicou que a seca tem tido fortes consequências em vários rios e que não acreditam que exista uma desaceleração do problema, mesmo com as chuvas residuais que têm atingido a península, tornando o seu efeito pouco duradouro.  

Rio Pó está a secar (Ciancaphoto Studio/ Getty) 

O estado grave dos rios em Itália trouxe ao de cima outra situação: tesouros arqueológicos que estavam submersos estão agora a ser revelados, como uma embarcação com cerca de 55 metros de comprimento afundada por um bombardeio norte-americano durante da Segunda Guerra Mundial em 1944, no rio Pó. 

Na Roménia preocupa a produção de eletricidade

Na entrada da Roménia, os níveis baixos do rio Danúbio provocaram preocupações em julho, especialmente pelo seu uso em transporte fluvial e pela sua dependência na produção da central elétrica e as funções da central nuclear de Cernavoda, responsável pela produção de cerca de 20% da eletricidade do país.  

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