Os rios mais importantes do mundo estão a secar e até deixaram à mostra bombas escondidas: veja as imagens

CNN Portugal , BCE
23 ago 2022, 10:00
Rio Colorado - comparação do caudal do rio entre agosto de 2021 e agosto de 2022

Em Portugal, a situação é muito idêntica ao que se vive no resto do mundo: escassez de água, falta de chuva e temperaturas elevadas tornam quase impossível a manutenção do nível das águas

Portugal atravessa a pior situação de seca desde que há registos, com quase todo o país em seca severa ou extrema. Mas esta situação não abrange apenas o nosso país - na verdade, a falta de chuva e as ondas de calor são transversais a toda a Europa, Estados Unidos, Ásia e Médio Oriente. Prova disso mesmo são as imagens que nos chegam do espaço de rios tão secos que se tornaram praticamente intransitáveis.

Um estudo divulgado a 17 de agosto pela organização “World Wide Fund for Nature” (WWF) chamava a atenção para isto mesmo, salientando que os quatro rios mais importantes do continente europeu - Danúbio, Pó, Reno e Vístula - registam recordes nos seus níveis mínimos, ameaçando negócios, indústria, agricultura e consumo de água.

Aliás, de acordo com o mesmo estudo, 17% da população europeia enfrenta um grande risco de escassez de água até 2050, daí que sejam cada vez mais frequentes os apelos dos governos para o racionamento de água.

Eis algumas das imagens que mostram o antes e o depois dos rios na Europa e no resto mundo: compare como estavam há um ano e como estão agora.

Rio Reno

O rio Reno atravessa seis países - França, Alemanha, Suiça, Áustria, Liechtenstein e Países Baixos. É, por isso, um canal fundamental para o transporte marítimo de mercadorias em toda a Europa, sobretudo de combustível e carvão. Contudo, o nível das águas está tão baixo que as embarcações já só podem transportar cerca de um terço das mercadorias.

Algumas fábricas alemãs podem vir a interromper (ou até mesmo parar definitivamente) a sua produção, alerta a Confederação da Indústria Alemã, que levanta questões sobre a viabilidade económica dos transportes por via marítima.

Rio Pó

Com um percurso superior a 650 quilómetros, o rio Pó é o mais longo de Itália e corre de oeste para leste, desde a cidade de Turim até ao Mar Adriático, em Veneza. Outrora um rio de paisagens pitorescas, o rio Pó atingiu agora o nível mais baixo dos últimos 70 anos, chegando mesmo ao ponto de desaparecer por completo em algumas zonas, nomeadamente entre Parma e Reggio Emilia, onde o leito do rio está completamente seco como consequência da forte seca que o norte de Itália enfrenta.

A seca começou ainda no inverno e as chuvas de primavera foram insuficientes para dar a volta à situação, que coloca em risco o acesso a água potável no país, bem como a agricultura e economia italiana, uma vez que cerca de 30% da comida italiana é produzida ao longo do Pó, e algumas das exportações mais famosas do país, como o queijo parmesão, são produzidas ali.

O rio está de tal maneira seco que deixou a descoberto uma bomba da Segunda Guerra Mundial, com aproximadamente 450 quilos. O governo italiano viu-se obrigado a declarar o estado de emergência, em julho, para as regiões ao redor do rio.

Rio Loire

Com 965 quilómetros, o rio Loire é conhecido pelo Vale do Loire, um vale de vinhas onde são produzidos alguns dos vinhos mais famosos do mundo e que no ano 2000 foi considerado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. 

Tal como os restantes rios, algumas zonas do Loire estão já tão secas pela falta de chuva e calor extremo que as pessoas conseguem cruzar o rio a pé.

Nas imagens de satélite da cidade francesa de Saumur, já é possível ver mais leito do rio do que água no Loire. A paisagem ao redor do rio Loire, outroraa verde e pitoresca, é agora uma extensa mancha de terra gretada. As autoridades francesas já estão a libertar água das barragens no rio, tendo como principal objetivo garantir água suficiente para arrefecer quatro centrais nucleares situadas ao longo deste rio.

Rio Danúbio

O segundo maior rio da Europa (depois do Volga) não foge a esta tendência de seca hidrológica. O Danúbio é protagonista da paisagem de cidades como Ulm (Alemanha), Viena (Áustria), Bratislava (Eslováquia), Belgrado (Sérvia) ou Budapeste (Hungria). Contudo, recentemente o Danúbio esteve em destaque por outra razão: as autoridades procederam a desassoreamentos de urgências na Bulgária, Roménia e Sérvia para que navios de transporte de mercadorias essenciais, como carvão, possam navegar.

É certo que o Danúbio não está numa condição tão má quanto alguns dos outros rios da Europa, mas países como a Hungria dependem muito deste rio para o turismo, setor que já está a sofrer as consequências da seca. Isto porque alguns navios de cruzeiro não conseguem passar por zonas do rio para chegar à Hungria, enquanto outros não podem fazer paragens nas suas rotas normais porque muitas estações tiveram de fechar devido ao baixo nível de água nas margens. 

Rio Yangtze

O maior rio da Ásia também está a ser afetado pela seca extrema, sendo cada vez mais evidente o leito do rio em algumas áreas. Mas são os afluentes do Yangtze, que já estão a um nível de seca muito avançado, que mais estão a preocupar as autoridades. A China, que está a atravessar a maior onda de calor em 60 anos, viu-se mesmo obrigada a anunciar um alerta nacional de seca pela primeira vez em quase 10 anos.

O impacto da seca do rio Yangtze já se nota em várias regiões, desde logo em Sichuan, uma província de 84 milhões de pessoas, onde a energia hidroelétrica representa cerca de 80% da capacidade de eletricidade. Ora, sendo que grande parte desta energia é proveniente do rio Yangzte, é natural que, à medida que o fluxo diminui, a produção de energia também baixe. É o que está a acontecer nesta província, onde choveu apenas metade daquilo que é habitual para a região, e alguns reservatórios secaram completamente, de acordo com a agência de notícias estatal Xinhua.

Rio Colorado

É o sétimo rio mais longo dos Estados Unidos, com mais de 2.300 quilómetros de comprimento, num percurso que percorre os Estados Unidos e o México, atravessando o Grand Canyon. Porém, a sua magnitude não é suficiente para evitar a situação de seca. O rio Colorado está cada vez mais estreito, como consequência da seca histórica que está a assolar o oeste dos Estados Unidos, uma situação que não deverá abrandar, de acordo com os especialistas.

O rio, que fornece água para cidades como Denver, Phoenix e Las Vegas (onde vivem cerca de 40 milhões de pessoas) alimenta-se sobretudo de dois dos maiores reservatórios do país, sendo um deles o Lago Mead, que está a diminuir de tamanho à medida que os níveis de água também diminuem. Esta tendência já se regista desde o ano 2000, mas tornou-se mais acentuada a partir de 2020.

E em Portugal?

Imagem de satélite de Lisboa (imagem do Copernicus Sentinel (2020), processada pela ESA)

Em Portugal, a situação é muito idêntica ao que se vive no resto do mundo: escassez de água, falta de chuva e temperaturas elevadas. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), 55,2% do território continental está em seca severa e os restantes 44,8% em seca extrema. O ano de 2022 já se destaca pela terceira pior seca em Portugal desde 1931.

Tal como nos restantes países, a seca extrema está a provocar uma redução do caudal dos rios. Exemplo disso é o caudal do rio Tejo, o maior da Península Ibérica, que nunca registou níveis de água tão baixos, sendo possível cruzar as margens a pé em algumas zonas do distrito de Santarém.

A

Apesar de a maior parte do território estar em situação de seca severa, o Governo já garantiu que o país tem água para consumo humano nos próximos dois anos, mas admitiu racionamentos em determinadas zonas do país relativamente a alguns usos, como na agricultura. 

Exemplo disso foi a medida anunciada pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeio, no dia 22 de julho, para a redução do consumo de água nos empreendimentos turísticos do Algarve. Além disso, o ministro salientou que, das 31 albufeiras para fins múltiplos em situação crítica que estão em vigilância, 10 mantiveram o volume armazenado e apenas duas reduziram o armazenamento em mais de 5% desde a ultima reunião, um mês antes.

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