Uma semana antes do início do Mês do Orgulho LGBTI+, o comediante Ricky Gervais está a ser criticado pelo seu novo especial de comédia, no qual ridiculariza as mulheres transexuais e o debate sobre o acesso às casas de banho.
O especial de stand-up, chamado “SuperNature”, estreou terça-feira na Netflix.
Logo no início do espectáculo, Gervais lê um comentário de alguém que escreveu que ele era "tão engraçado como um peido no funeral de um bebé", e parte para uma piada sobre mulheres. A partir daí, esclarece: "As mulheres antiquadas, as que têm úteros."
Prossegue depois com a questão dos debates sobre o acesso às casas de banho.
“E agora as antiquadas dizem: ‘Oh, eles querem usar as nossas casas de banho’. ‘Porque não hão de usar as vossas casas de banho?’ ‘São para senhoras!’ ‘Elas são senhoras - reparem nos pronomes delas! Há algo nesta pessoa que não seja de senhora?’. ‘Bem, o pénis dele’. ‘O pénis dela, sua preconceituosa de m****!’”
Gervais partilha as suas ideias sobre a cultura de cancelamento, usando a expressão "sinalização de virtude". Mais tarde, no especial, o comediante afirma apoiar os direitos das pessoas transgénero na vida real, mas que goza com o tema porque goza com tudo.
"Os direitos trans são direitos humanos. Faz o que te deixar feliz. Usa os teus pronomes preferidos. Sê o género que sentes que és", disse ele. "Mas encontrem um meio termo, senhoras. Tirem a pi**".
Tanto Gervais como a Netflix foram confrontados com reações negativas online apenas algumas horas após o lançamento do especial, com algumas pessoas a acusarem o comediante de ter feito observações transfóbicas e pela conhecida plataforma de streaming lhe ter dado voz.
"[SuperNature está] cheio de reclamações gráficas, perigosas e antitrans, disfarçadas de piadas. Também despeja retórica antigay e espalha informação imprecisa sobre o VIH", escreveu GLAAD no Twitter - a organização de defesa da comunicação social LGBTQ - acrescentando que a Netflix está a ir contra a sua própria política de não permitir conteúdos "concebidos para incitar ao ódio ou à violência".
A Netflix não respondeu de imediato ao pedido de comentários da CNN.
Gervais foi descrito como um "ofensor da igualdade de oportunidades", um comediante com um historial de piadas controversas. E não é a primeira vez que a Netflix é criticada por dar voz a pontos de vista transfóbicos. Dave Chappelle fez piadas sobre pessoas transgénero em múltiplos especiais da Netflix, mais recentemente no final de 2021, quando fez piadas explícitas sobre os corpos de mulheres transgénero no seu especial "The Closer".
Vários defensores dos direitos trans, incluindo alguns funcionários da Netflix e organizações de direitos civis, pediram na altura à empresa que retirasse o especial de Chappelle da plataforma.
Numa descrição sobre a sua cultura organizacional, a Netflix expõe a posição da empresa sobre a expressão artística.
"Nem todos vão gostar - ou concordar com - tudo no nosso serviço", lê-se numa declaração no website da empresa. "Embora cada conteúdo seja diferente, abordamo-los com base no mesmo conjunto de princípios: apoiamos a expressão artística dos criadores com quem escolhemos trabalhar; programamos para uma diversidade de audiências e gostos; e deixamos os espectadores decidirem o que é apropriado para eles, em vez de censurarmos determinados artistas ou vozes."