Guia para evitar ressacas agora, em 2023 e sempre (este guia teve a ajuda da ciência mas lembre-se: beba com moderação)

30 dez 2022, 22:00
Ressaca (Pixabay)

Moderação é a palavra de ordem, mas tanto o Natal como o Ano Novo são propícios a alguns excessos, sobretudo com o álcool. E sim, é possível evitar a ressaca e a ciência já sabe como

O que é a ressaca?

Por definição, começa por explicar Magda Roma, nutricionista clínica na Fisiogaspar, a ressaca “é um conjunto de sintomas mentais e físicos provocados pelo consumo excessivo de álcool”. Esses sintomas podem incluir dor de cabeça, sede, indisposição, diarreia (mas há mais, como vai poder ler a seguir) e variam de pessoa para pessoa.

Porque é que o álcool causa ressaca?

O consumo de álcool, por si só, causa desidratação - e esta é a base da ressaca. A ressaca acontece devido a “um acentuado estado de desidratação”, não apenas provocado pela própria bebida alcoólica em si mas também “pelo aumento da micção” que a mesma provoca, explica Magda Roma. 

Segundo o site News Medical, beber cerca de 250 ml de uma bebida alcoólica resulta em 800 ml a 1000 ml de líquidos excretados pelo organismo - o que equivale a uma perda de líquido proporcional ao absorvido de 4/1.

Durante e após o consumo de bebidas alcoólicas (etanol), o organismo dá azo a um árduo trabalho para o eliminar, formando radicais livres e acetaldeído. “O acetaldeído é o metabólito final da metabolização do álcool e este é o responsável pela desidratação, visto que aumenta a libertação da hormona antidiurética que faz com que o rim tenha menor capacidade na absorção de água e, por sua vez, aumenta a micção”, explica Magda Roma, destacando que a boa hidratação antes, durante e depois é fundamental (e mais à frente há uma dica que vai querer ter em conta).

Quanto mais tempo o etanol e o acetaldeído permanecerem em conjunto no organismo pior será o impacto, que é como quem diz 'pior será a ressaca'. “Esta situação, associada a um esforço extra por parte do fígado - devido ao processo de metabolização e desintoxicação do álcool em excesso no sangue -, provoca os sintomas” associados a um estado de ressaca, continua a especialista.

Além da desidratação, que mais faz o álcool ao corpo?

Emily Palmer e Rayyan Zafar, investigadores no Imperial College London, têm dedicado o seu trabalho ao estudo da ressaca e, sobretudo, ao impacto do álcool no corpo humano. Em declarações ao The Guardian, os cientista dizem que uma única bebida alcoólica é suficiente para libertar do cérebro o neurotransmissor ácido gama-aminobutírico – ou Gaba. E o que é que este neurotransmissor faz? Desacelera o cérebro, aumentando a sensação de relaxamento. Este neurotransmissor reduz a capacidade de uma célula nervosa enviar e receber mensagens químicas em todo o sistema nervoso central, comprometendo a capacidade de criar memórias (daí poucos se lembrarem efetivamente do que aconteceu depois de uma noite 'bem regada'), lê-se no artigo britânico.

O álcool passa do córtex, que controla o comportamento, para o cerebelo, que é responsável pelo movimento, coordenação motora e equilíbrio. Assim que a intoxicação alcoólica atinge a medula, os sistemas autónomos ficam alterados, incluindo batimentos cardíacos, respiração e pressão arterial. “O cérebro simplesmente desliga”, explica Rayyan Zafar, citado pelo The Guardian.

Quais os sintomas da ressaca?

“Dor de cabeça, tonturas, sede excessiva, náuseas, vómito e sensibilidade à luz e som” são os sintomas mais comuns de ressaca, enumera a especialista. E os sintomas podem durar até dois dias. Mas há um outro que deve ser tido em conta: a ansiedade durante a ressaca, como explicou à CNN Internacional Craig Gunn, professor de psicologia científica na Universidade de Bristol. Este sintoma afeta cerca de 12% das pessoas e a sua gravidade pode variar. À medida que o corpo recupera de uma noite de excessos, a ressaca cria um estado de stress psicológico e, além de provocar alterações no nosso sistema imunitário, aumenta também os níveis de cortisol (muitas vezes chamado ‘hormona do stress’), a tensão arterial e o ritmo cardíaco – alterações que também acontecem com a ansiedade.

De salientar que quando se consome álcool este é absorvido pela corrente sanguínea e leva apenas cerca de cinco minutos para chegar ao cérebro, explica o site da Northwestern University Feinberg School of Medicine. Tal ajuda a explicar as tonturas e o estado de confusão durante e após o consumo de álcool, sobretudo se feito de forma exagerada.

É possível prevenir a ressaca?

Sim. E, claro, o não consumo é a forma mais eficaz de o fazer. Mas há uma tríade que promete ajudar nas noites de festa: hidratação, boa alimentação e moderação (na quantidade e nas misturas de álcool). "O álcool é absorvido mais rapidamente quando o estômago está vazio, pelo que é importante garantir a ingestão de algo antes do consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, o álcool pode induzir hipoglicémia, pelo que deve ser acompanhado da ingestão de alimentos", explica a nutricionista Lillian Barros. A boa qualidade de sono é também uma estratégia de prevenção da ressaca.

E há outros truques que possam funcionar?

Sim. Niket Sonpal, professor adjunto de medicina clínica no Departamento de Ciências Biomédicas da Touro College of Osteopathic Medicine no Harlem, nos Estados Unidos, recomendou em entrevista à revista de saúde Prevention a regra 1:1, isto é, por cada copo de de bebida alcoólica beber um copo de água. Não faz milagres mas pode ajudar a prevenir estados mais gravosos de desidratação, diz.

Mas Magda Roma vai mais além: “Eu recomendo por cada copo de álcool dois de água”, justificando que o teor de álcool da bebida pode implicar uma maior hidratação durante a noite. Ou seja, 1:2

Todas as bebidas provocam uma ressaca igual?

Para Magda Roma, a questão é simples: “Todas as bebidas que contenham teor alcoólico e cujo consumo seja excessivo” são más e potenciadoras de ressaca, mas quanto maior for o teor de álcool maior é a probabilidade de se ficar desidratado e de ser ter uma ressaca mais intensa. “Há bebidas com 7% de álcool e outras com 14% até 40%. Quanto maior o teor alcoólico, maior a desidratação” e mais intensa é a ressaca, destaca a nutricionista da Fisiogaspar.

“Por esse mesmo motivo, o consumo de bebidas como whisky, vodka e gin é propenso a ressacas. A cerveja, pelo contrário, por conter menor quantidade de álcool e maior quantidade de água, acaba por ser uma das bebidas com menor potencial de causar ressaca. Claro está que dependerá sempre da dose consumida”, diz a nutricionista Lillian Barros, que deixa ainda um alerta: “misturar diferentes tipos de bebidas alcoólicas pode exacerbar a ressaca”.

É possível como curar a ressaca?

Esqueça a curcumina, a l-cistina, o ginseng vermelho, os probióticos e o extrato de alcachofra ou qualquer outra mezinha caseira que possa encontrar online. Pouca coisa cura mais a ressaca do que a moderação ou abstinência do consumo de álcool, revela um estudo publicado a 1 de janeiro deste ano na revista Addiction

Embora alguns dos 21 estudos analisados por esta revisão científica “tenham mostrado melhorias estatisticamente significativas nos sintomas da ressaca, todas as evidências foram de muito baixa qualidade, geralmente devido a limitações metodológicas ou medições imprecisas”. Além disso, lê-se na publicação, “não há dois estudos relatados sobre o mesmo remédio para ressaca e nenhum resultado foi replicado independentemente”, o que limita a credibilidade das teorias apresentadas em vários estudos.

De qualquer modo, a boa hidratação pós-noite de excessos é sempre bem-vinda, assim como uma alimentação adequada. Sobre este ponto, a nutricionista Madga Roma recomenda: “No dia seguinte ao excesso, bem como todos os dias, privilegiar uma alimentação saudável, rica em alimentos anti-inflamatórios”, pois o álcool é um pró-inflamatório. No leque de alimentos com propriedades anti-inflamatórias estão o chá verde, os frutos vermelhos, os alimentos ricos em ómega-3 e os vegetais de folha verde escura, por exemplo.

“Consumir alimentos ricos em água, como fruta, vegetais e legumes, bem como ingerir líquidos, são bem-vindos, exceto bebidas com teor alcoólico”, frisa. E, sim, cai aqui por terra a teoria de que uma ressaca se cura com mais álcool.

Sobre o pós-ressaca, também a nutricionista Lillian Barros destaca a importância da alimentação: “Deve ter-se particularmente em atenção a reposição dos níveis de potássio e magnésio, que estão presentes em alimentos como a banana, os frutos secos e os cereais integrais. Também o consumo de alimentos ricos em antioxidantes, como as frutas e vegetais, ajuda o corpo a obter os nutrientes necessários para minimizar os estragos provocados pelo álcool no organismo”.

“Caso a ressaca seja mais forte, o melhor é optar-se por refeições leves, evitando alimentos com elevado teor de gordura (ex.: fritos, laticínios gordos, molhos, fast-food e outros alimentos ultraprocessados) e preferir confeções mais simples, como grelhados e cozidos, bem como sopa e fruta”, conclui Lillian Barros.

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