Juventus íntima: o bate-boca de Cristiano e Cuadrado por culpa do FC Porto

23 nov 2021, 23:53
Juventus-FC Porto (AP)

Viagem de «All or Nothing» pela versão 2020/21 da «Vecchia Signora» leva-nos ao mundo de Ronaldo em Turim. Maisfutebol esteve na apresentação mundial do documentário em que Gigi Buffon é a mais extraordinária das personagens

40 semanas em reportagem.
Sete mil horas de filmagens.
40 dias de trabalho para cada um dos oito episódios.
6000 testes covid e dez mil máscaras faciais utilizadas.

Os números demonstram a brutalidade do investimento feito pela Amazon Prime Video no novo All or Nothing, realizado na ilustre casa da Vecchia Signora, a Juventus.

Neste terceiro documentário do género, a equipa de repórteres volta a ter acesso ilimitado ao dia a dia do plantel profissional de futebol mas, como dizem ao Maisfutebol na apresentação mundial da série, há uma diferença substancial em relação aos anteriores, dedicados ao Manchester City e ao Tottenham.

«Pela primeira vez vamos entrar na intimidade familiar dos futebolistas», anuncia Nicole Morgenti, responsável da Amazon pelos conteúdos italianos. «Poderemos ver Gigi Buffon a fazer a árvore de Natal ao lado da mulher e dos filhos, ou o Giorgio Chiellini a jantar com o irmão calmamente, enquanto ambos refletem sobre as respetivas carreiras desportivas.»

Por uma coincidência diabólica, o documentário decorre precisamente na pior temporada desportiva da Juventus nos últimos largos anos. O treinador Andrea Pirlo mostra-se incapaz de capitalizar a presença de Cristiano Ronaldo, os maus resultados sucedem-se, a pressão acentua-se, o telespetador agradece.

O primeiro episódio arranca, precisamente, com um dos instantes mais sensíveis do ano da Juve. A equipa é eliminada da Liga dos Campeões por um competente FC Porto, em Turim – há uma cena forte entre Cristiano e Cuadrado, no balneário, mas essa aparece apenas no episódio 3 – e está obrigada a derrotar o modestíssimo Benevento em casa para continuar a incomodar o Inter na luta pelo scudetto.

Nada feito. Ao intervalo, Leonardo Bonucci perde a cabeça com os colegas de equipa.

«Se queremos ganhar o scudetto não podemos jogar assim!», grita o central, antes de acertar um pontapé em cheio numa caixa que guarda equipamentos. «F*****, somos uma m**** se é isto o que jogamos. Não percebemos o quão importante este jogo é!»

A eliminação frente ao FC Porto: uma das noites mais difíceis para Cristiano em Turim

Cristiano acena em concordância. «Ele tem razão.» O resto do balneário aguenta, silencioso.

«Não te posso fazer uma festinha, quando só um estalo te pode acordar», justifica-se Bonucci, já num ambiente de estúdio, mais tarde.

Por segundos, o sentido do filme aponta-nos o sinal da redenção. O choque emocional de Bonucci, os berros de Andrea Pirlo, a garantia de Cristiano Ronaldo - «vamos amassá-los na segunda parte!», tantas palavras para… nada.

Minuto 69: erro de Arthur na saída de bola, Adolfo Gaich antecipa-se a Danilo e remata para a baliza de Szczesny. 0-1 para o Benevento, pânico instalado na cara da Vecchia Signora, Cristiano Ronaldo mais uma vez de olhos no chão e perdido.

Aqueles homens de preto e branco já não são uma equipa. São uma assombração.

Que presente ainda faz falta a Cristiano Ronaldo?

Há cenas maravilhosas ao longo do documentário.

Pirlo e Buffon, treinador e jogador, amigos há mais de 20 anos. Enquanto partilham uma refeição, desabafam sobre as diferenças entre o futebol dos anos 90 e o futebol de 2021. Buffon fala dos «tolinhos» das redes sociais, Pirlo deixa uma confidência.

«Se há coisa que detesto é ver os meus jogadores agarrados ao telemóvel antes dos jogos.»

Sinais dos tempos, vícios e rituais incompreendidos por dois velhos leões, irmãos de armas.

«Na próxima época, o jogador chega, vai à massagem e tem de deixar o telemóvel fechado no cacifo. Só o pode ver depois de acabar o jogo», ameaça Pirlo. E Buffon sorri.

Na altura ainda não sabem, mas o treinador e o veterano guarda-redes hão de despedir-se no final da época. O primeiro é despedido, o segundo segue para o Parma.

Não se pense, porém, que este All or Nothing 3.0 é uma tragédia. Há instantes de bom humor, hilariantes. Veja-se a conversa à mesa, durante uma concentração, entre Buffon (uma personagem fabulosa) e o jovem Federico Chiesa.

«Joguei com o teu pai [Enrico] e 20 anos depois jogo contigo», brinca Buffon.

«Eu sei, lembro-me de ser muito pequeno e de entrares em nossa casa. Tinhas o cabelo pintado de louro e uma fita a prendê-lo.»

«Sim, parece-me algo que eu faria com essa idade.»

O carisma de Buffon é uma das estrelas no novo «All or Nothing»

Em oito episódios de 45 minutos há muitas revelações, sorrisos e lágrimas, festa e desconforto. Fica só mais este exemplo, relacionado com Cristiano Ronaldo.

Carlo Pinsoglio é o terceiro guarda-redes da equipa desde 2017. Em todas as épocas faz um jogo, só um, mas mesmo assim é adorado pelos adeptos. Carlo conhece e aceita o papel que tem dentro do balneário: anima, motiva, trabalha como poucos e é muito próximo de Ronaldo.

«O melhor do mundo faz anos e não sei o que lhe dar. Ele tem tudo. Compro-lhe uma camisola, uma sweatshirt, um relógio?», pergunta Pinso à namorada, antes da ida às compras.

«Carlo, eu acho que o Cristiano é capaz de ter um relógio. Só se for um com a tua cara no mostrador.»

Não. Pinsoglio vai pelo coração e pela criatividade. O que oferece ao português? Uma tshirt personalizada com uma frase criada pelo próprio guarda-redes no balneário: #DaiUnPoEh, um grito para motivar a equipa nos momentos mais delicados. E foram tantos.

A noite em que o FC Porto deixa Ronaldo de cabeça perdida

Cristiano Ronaldo.

Na apresentação feita pela Amazon Prime Video, com presença exclusiva do Maisfutebol para Portugal, o nome do avançado é omnipresente. Mesmo quando não é mencionado, percebe-se que os intervenientes estão a pensar a mesma coisa: ‘ah, o Cristiano, claro’.

Pavel Nedved, dirigente e histórico atleta da Juventus, é o primeiro a referir-se diretamente sobre o português.

«Não é fácil falar de uma época tão má. Vivemos muitas emoções. Acho que as pessoas vão gostar de ver a ligação entre o treinador, os jogadores e a direção. O objetivo era criar um grande produto, mesmo em condições emocionais difíceis», diz o antigo internacional checo.

«O Cristiano Ronaldo estava na equipa e isso é relevante. Aumenta a expetativa. Espero que vejam e gostem.»

O português preserva a família, mas acaba naturalmente por ser uma figura maior. Veja-se a noite do Juventus-FC Porto, histórica para os azuis e brancos.

Ao intervalo, a equipa de Sérgio Conceição já ganha por 1-0 em Turim (3-1 na eliminatória). Cristiano é o mais revoltado no balneário.

«Vamos fazer mais qualquer coisa, que m*****! Não estamos a jogar nada, nada.»

Perante a revolta de CR7, Cuadrado aproxima-se. «Acalma-te, tens de ser um exemplo para todos!». Há uma tensão evidente e Cristiano recua.

«Eu também, eu também não estou a jogar nada. Eu também me incluo, temos de ser honestos e dizer a verdade. Isto é a Champions, temos de ter caráter e personalidade.»

Pirlo acaba com a troca de palavras. Cuadrado abraça Cristiano, a Juventus marca dois golos e mesmo assim é eliminada pelo FC Porto. Noite dolorosa em Turim para a Vecchia Signora.

Se gosta de perceber o funcionamento de um clube grande e conhecer o interior de um balneário, este documentário sobe a fasquia em relação aos antecessores.

E tem Cristiano Ronaldo, um futebolista fenomenal e um ser humano com muitas virtudes e alguns defeitos. Um homem como nós.

A estreia está marcada para 25 de novembro.

VÍDEO: o trailer do «All or Nothing» com a Juventus

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