Viagem ao terreno sagrado de Mourinho (com vitória histórica incluída)

24 mar 2014, 11:40

Reportagem em Stamford Bridge. Do balneário ao museu até à goleada sobre o Arsenal

*Em Londres

Ambiente elétrico em Stamford Bridge. Jogo à hora de almoço, dérbi londrino, os ódios aquecem as diferenças entre os dois gigantes da capital. Come-se qualquer coisa nas barracas do exterior do estádio, saboreia-se apetitosas e requintadas refeições nas luxuosas instalações das zonas VIP. Cerca de três mil adeptos do Arsenal enchem o setor que lhes foi dedicado. Ninguém acredita num resultado desnivelado. Ninguém poderia adivinhar o que viria a acontecer.

Mas a visita ao terreno sagrado de José Mourinho começa um dia antes, com uma reportagem ao interior do estádio. Também na véspera do grande jogo ninguém conseguiria prever que estava prestes a escrever-se a história: a vitória mais desnivelada da história dos confrontos entre os dois gigantes de Londres. 6-0
!

1. Por aqui



A Fulham Road liga o bairro de Chelsea a South Kensigton e serve de entrada para o estádio dos azuis, com as boas-vindas a serem dadas por fotos gigantes de jogadores do plantel atual. São usados motes, frases proferidas em momentos históricos, nem que seja para apontar o caminho para o museu.

2. Palco silencioso


Stamford Bridge não figura entre os estádios mais bonitos do mundo e nem sequer é recordado por grandes momentos. Trata-se de um estádio de média dimensão, com capacidade para pouco mais de quarenta mil espectadores e que foi sendo construído aos poucos ao longo das décadas. Tem o tradicional estilo britânico, com as bancadas verticais mesmo em cima do relvado.

3. O balneário


É aqui que tudo se passa nos momentos que antecedem um grande jogo. Como acontece com as equipas de top nos dias de hoje a preparação é feita num centro de treinos longe do estádio e este só é utilizado para os jogos. O balneário tem os nomes dos jogadores e é fácil perceber que no Chelsea os brasileiros sentam-se juntos, os capitães têm o seu lugar reservado e Matic tem o cacifo entre Azpilicueta e Ginkel.

4. Devoção a Fátima



Um dos cacifos revela uma figura de Nossa Senhora de Fátima. É o cacifo de Fernando Torres, de facto um jogador que precisa de proteção divina e que curiosamente encontra inspiração na santa portuguesa.

5. A visão de Mourinho


É isto que José Mourinho vê do seu banco de suplentes. O banco fica ligeiramente desviado para a esquerda, mas bem junto à linha de meio-campo e mesmo em cima da linha lateral. Como é tradicional nestes estádios ingleses os treinadores ficam muito perto um do outro e é virtualmente impossível não cruzarem olhares. Os lugares reservados à equipa técnica e suplentes são individuais, do género de assento de carro de luxo e no inverno podem ser aquecidos. Nos sete lugares da linha da frente sentam-se Mourinho, os seus adjuntos e equipa médica; na segunda fila os sete suplentes e ainda existem mais lugares atrás para atletas lesionados ou castigados.
Só mais uma nota: o camarote de Abramovich fica por cima da palavra Chelsea na faixa do meio da bancada.

6. Vista para a derrota


Este é um bom sítio da bancada denominada «The Shed End» e era precisamente aqui que estavam alguns dos adeptos do Arsenal no último domingo. Mais precisamente daqui para a direita, neste topo superior e no inferior. Eram cerca de três mil e apesar de alguns terem saído do estádio ainda na primeira parte, os que ficaram aplaudiram a equipa até ao fim. Será que os pombos deram azar aos gunners? Só nesta baliza sofreram quatro dos seis golos.

7. Drogba, onmipresente


Por todo o lado a imagem do avançado está presente. À entrada do museu é ele que vemos, com a Taça dos Campeões na mão. E durante o jogo de domingo uma das faixas mais evidentes numa das bancadas frisava precisamente o facto do costa-marfinense ser um herói em Stamford Bridge.

8. A vitória na Liga Europa


A recente conquista da Liga Europa sobre o Benfica tem presença discreta no museu do clube. Está lá o galhardete comemorativo, a camisola de um jogador, as chuteiras e a bola da final.

9. The special one



O museu está carregado de memórias, mas o grande destaque vai para os jogadores. José Mourinho tem presença discreta e é preciso percorrer todos os cantos para encontrar a sua presença. O special one tem direito a um canto, onde é possível ver a mesa que usava para preparar os jogos durante a sua primeira passagem pelo clube, assim como o sobretudo Armani e o bloco de notas. Precioso.

10. Dia de jogo


A lotação há muito que estava esgotada e a chuva do dia anterior dava uma trégua. Dérbi à hora de almoço, o sol a aparecer e uma vontade enorme de ver «uma grande jogatana». Não poderíamos desejar melhor. Um pormenor: para além dos cachecóis e das camisolas também se vendem muito bem os programas de jogo, uma espécie de revista com reportagens e entrevistas. Toda a gente que ter uma e de certeza que estas no final vão ficar bem guardadas como recordação.

11. Arrumado em poucos minutos


O cumprimento frio entre Mourinho e Wenger antes do início do jogo serviu apenas de formalidade. No milésimo jogo do francês pelo Arsenal o português não tinha qualquer vontade de ser simpático e ajudar à festa. José levanta-se a primeira vez do banco ao minuto e meio de jogo e logo os adeptos gunners entoam cânticos: «Fuck off Mourinho». O estádio reage e ouve-se em uníssono «José Mourinio, José Mourinio, José Mourinio» (sim, é assim que eles dizem).

É curioso como em Stamford Bridge se vibra com John Terry, Frank Lampard e um pouco com Fernando Torres, mas sobretudo com Mourinho. Ao longo do jogo viriam a repetir o cântico.

O jogo começa elétrico com grande oportunidade para Giroud e uma enorme defesa de Petr Cech. No contra-ataque Etoo abre o marcador após assistência de Shurrle. Cinco minutos de jogo e Mourinho não festeja, preferindo olhar fixamente para o outro lado do campo, até que agradece ao guarda-redes.

Passam mais dois minutos e Schurrle faz o 2-0. O estádio rebenta em delírio. Torres começa a aquecer e entra pouco depois para o lugar do lesionado Etoo.

A sucessão de acontecimentos é incrível e aos 15 minutos a vitória é atribuída com o penalty e a expulsão de Gibbs (que nada tinha a ver com o lance, uma vez quem defende o remate de Torres é Oxlade-Chamberlain. Hazard faz o 3-0 de grande penalidade e já se começa a falar de goleada histórica. David Luiz faz uma grande exibição no meio-campo e ao intervalo Oscar chega aos 4-0, com assistência de Torres. Alguns adeptos do Arsenal começam a sair e Stamford Bridge nem consegue acreditar no que está a ver. «Não tenho qualquer respeito pelo Arsenal, temos de marcar mais», comenta um adepto azul ao intervalo.

A segunda parte é um passeio e o Chelsea limita-se a esperar pelo erro do desesperado adversário para construir um resultado histórico. 5-0 aos 66, outra vez por Oscar (que já tinha traçado o destino de substituição devido a um mau passe que irritou Mourinho) e 6-0 por Salah, que levou José a festejar de forma efusiva. Era demasiado bom para manter-se impenetrável.

O estádio grita o nome de Mourinho. 41,614 adeptos (número oficial). Ele tira o casaco. Está sol, o jogo está quente. O resultado é simplesmente espetacular. 11º jogo contra o português e Wenger continua sem lhe conseguir ganhar um jogo. Mourinho não se cansa de puxar e aplaudir os jogadores, mas o resultado estava feito.

Chega o minuto 90, o quarto árbitro mostra a placa com dois minutos de desconto, Mourinho pega no casaco e vai para o balneário enquanto se fazem os últimos passes dentro de campo. No final explica que saiu mais cedo para ligar à mulher e dizer-lhe qual foi o resultado…

12. Histórico


Nunca se tinha registado um desnível tão grande no dérbi. A última vez que o Chelsea tinha marcado tantos golos ao Arsenal foi em 1998, quando Wenger já era treinador do Arsenal, e do outro lado estava Vialli, mas foi um jogo da Taça da Liga com a presença de Luís Boa Morte e no velhinho Highbury. Para o campeonato o triunfo mais desnivelado para o lado dos blues tinha sido por 3-0 e remontava a 1969. Nada sequer parecido com o que aconteceu neste domingo.

Relacionados

Mais Lidas

Patrocinados