"É das coisas mais dolorosas por que já passei": como se supera o fim de uma relação? Para começar, é preciso nunca esquecer o grande cliché

14 ago 2022, 10:00
Casal (Pexels)

E depois de perceber a importância do grande cliché (e de saber qual ele é), veja os outros conselhos dos psicólogos ouvidos pela CNN Portugal

É um texto que surgiu no subreddit r/Portugal e rapidamente se tornou viral: um utilizador do fórum de discussão online pedia ajuda para lidar com o fim de um relacionamento de três anos, dizendo que era das "coisas mais dolorosas" com as quais teve de lidar. A publicação juntou dezenas de comentários - os quais, garante o utilizador, o ajudaram "bastante". Mas, afinal, como se supera isto?

No comentário com mais votos (no Reddit os gostos são votos), o utilizador que se separou é aconselhado a manter-se ocupado ou distraído (praticar exercício físico é recomendado) até porque, escreve PLSTR, "mais cedo ou mais tarde" haverá o processo de luto e por isso deve permitir-se sentir-se triste, chorar, mas também não deve tomar decisões precipitadas.

Há ainda quem aconselhe o utilizador a não perseguir a outro pessoa nas redes sociais, nem a ficar obcecado com o passado ou com o futuro, aceitando a separação e perdoando-se a si mesmo e ao outro. Mas, escreve articlights, também é importante não cair em comportamentos autodestrutivos nem de fuga, como envolver-se com outras pessoas só porque sim.

Mas o que dizem os especialistas sobre este tipo de situações? Susana Eugénio, psicóloga, explica que o primeiro passo para que a separação seja menos dolorosa é o diálogo e ter consciência de cada passo que se dá - até porque, como é referido no reddit, a fase de luto chega "mais cedo ou mais tarde".

"Respeitar a pessoa com quem se termina o relacionamento é importante em cada passo que se dá, não só para o outro mas para nós também, mostrar respeito pelos momentos vividos, pela pessoa que somos e pela pessoa que temos à frente. Conversar pessoalmente parece ser a forma mais humana de o fazer, de forma calma e explícita para que se compreenda o fim do relacionamento", aponta Susana Eugénio.

O grande cliché - mas um fundamental cliché

Também Rute Batista, psicóloga clínica, considera que no término de uma relação amorosa é preciso validar "o relacionamento que a pessoa teve, o que aconteceu, a pessoa tem de aprender com o próprio relacionamento para fazer diferente no próximo". "É um crescimento e há uma aprendizagem. É preciso fechar um ciclo e abrir um novo."

E quando se fecha um ciclo, muitas vezes cheios de expectativas e planos para o futuro com alguém que fazia parte do nosso dia-a-dia, como é que se segue em frente? A frase parece cliché mas faz parte dos conselhos fundamentais: é preciso dar tempo ao tempo.

"Dar tempo e espaço para chorar, para sentir saudades e depois para recuperar, fazer novos planos, ter esperança num futuro diferente mas igualmente feliz ou até mais feliz", explica Susana Eugénio. 

Mas nem sempre é fácil conseguir passar por esse processo, até porque "os casos variam, cada separação é diferente", e cada pessoa lida com isso de forma diferente, uns melhores do que outros. Por isso mesmo, Rute Batista alerta que quando "não se está a conseguir gerir as emoções" o importante é "procurar ajuda neste caso psicoterapia". 

"Isto porquê? É preciso ter sempre muita atenção à saúde mental. Mesmo que uma separação seja amigável há sempre questões dolorosas associadas. O processo a seguir à separação é sempre um luto. Há uma série de sentimentos a terem de ser geridos e, muitas vezes, estes sentimentos são muito intensos e a pessoa está muito fragilizada e precisa daquele tempo para refletir, para se organizar, para aprender com aquilo que se passou e sentir também como ela própria está com tudo o que está a acontecer. Este luto é quase como se fosse uma série de fases."

A psicóloga explica que costuma dizer aos seus pacientes que esta é uma fase de "altos e baixos" e que se há fases em que parece que não vão conseguir superar as saudades, a raiva, o não querer ver o outro à frente, mas também há fases boas. "Isto faz parte do luto. Estes sentimentos são muito intensos, está tudo à flor da pele. São essenciais para que após este descarregar de sentimentos possa surgir um novo ciclo muito mais organizado. É quase um organizar as gavetinhas."

Nesta fase, os amigos e a família são essenciais mas é importante lembrar que estas pessoas "não são neutras" e "nutrem sentimentos por nós", logo podem não ter "comportamentos e atitudes imparciais e não vão conseguir ajudar a organizar e solucionar problemas".

"Não tem que ver com serem mal ou bem-intencionados, só que surgem sempre aqui questões que levam a pessoa no processo de separação a ficar num loop de sentimentos e de pensamentos que nem sempre é o melhor. Nestes casos, uma das estratégias é sem dúvida entrar num processo terapêutico para que se possa mais facilmente reorganizar e aceitar tudo o que se está a passar."

Mas que estratégias são estas? Tal como os utilizadores do reddit aconselharam o utilizador de coração partido, o "essencial é que haja uma mudança de rotinas". "Acima de tudo, quando a pessoa faz esta mudança nas rotinas e vai ao encontro daquilo que quer e gosta faz com que também haja logo aqui uma série de mudanças visuais, muitas vezes até uma procura de autoconhecimento - e isto é essencial porque, nesta fase de luto, faz também com que a pessoa se perca muitas vezes do que estas pessoas são na realidade." 

"Redes sociais não vêm facilitar o processo" (e de novo o grande cliché)

Na era das redes sociais, como nos devemos comportar nesse campo com a pessoa com quem terminámos o relacionamento? Para as especialistas, não há respostas exatas, até porque, mais uma vez, cada caso é um caso. Susana Eugénio diz mesmo que tudo depende de como a relação acabou e como ficou o relacionamento.

"Bloquear ou não a outra pessoa das nossas redes sociais não parece ter uma resposta exata - depende sempre da forma como acaba, do respeito que ficou e do relacionamento que pretendem ou que conseguirem ter no futuro", explica.

Rute Batista, por seu lado, considera que as "redes sociais não vêm facilitar" o processo de luto porque fazem parte do mesmo e "são gatilhos para a dor". "Fica difícil as pessoas realmente não irem ver: estão adicionadas e aquilo vai aparecendo e fica difícil as pessoas fazerem este corte, mas é exatamente o ver que vai trazer maior angústia, vai trazer também esta raiva do que o outro está a fazer, está a acontecer, e, portanto, obviamente que não é saudável. Se a pessoa está a passar por um processo de luto não é de todo o que nós queremos que a pessoa faça porque vai entrar num loop de sentimentos e de raiva, de saudade. Acaba por haver uma mistura de sentimentos", explica, dizendo que costuma aconselhar os pacientes "a gerirem à medida do que vão sentindo".

Mas, garantem as especialistas, o importante é que se sinta algo - seja tristeza, raiva, saudades -, uma vez que será isso que vai ajudar a que a pessoa interiorize que a relação terminou e que é tempo de seguir em frente. Sem pressas, sempre respeitando o ritmo de cada um. O tal grande cliché do dar tempo ao tempo.

"É necessário validar que a pessoa está triste, com raiva, que sente saudades, que tem uma grande vontade de ver a rede social do ex-parceiro. E quando a pessoa valida isto começa-se a desvanecer esta ansiedade constante de ver, de estar. Porque a pessoa começa a refletir, começa a aceitar. E isto é muito importante. Dar espaço para que isto aconteça e, mesmo que continue a ver, acabam por tirar o ex-companheiro da rede social. Porque há pessoas que decidem que vão tirar logo e depois ficam em estados de ansiedade. Isto tem de ser feito sempre a respeitar o ritmo da pessoa. Este processo é um processo em que não há timings, é muito íntimo."

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