Ministra britânica adverte China: quem ameaça a segurança perde acesso ao mercado global

28 abr 2022, 04:15
Liz Truss

Liz Truss, chefe da diplomacia britânica, defende que G7 deve ser “uma NATO económica”. Coloca Putin e Xi Jinping no mesmo lado da barricada e lembra que a China “precisa do comércio com o G7”

A Ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, aproveitou o discurso anual do chefe da diplomacia de Londres na Mansion House, na quarta-feira, para lançar novos avisos à China - relacionados com a posição de Pequim em relação à guerra na Ucrânia, mas não apenas. 

"Os países devem jogar de acordo com as regras. E isso inclui a China", disse Truss num discurso na residência oficial do mayor de Londres. O aviso foi claro: se a China não cumprir as regras globais, porá em causa a sua ascensão como superpotência.

Num discurso muito marcado pela atualidade na Ucrânia, e no qual aproveitou para defender uma alteração da abordagem ocidental às políticas de segurança e defesa, Truss colocou no mesmo lado da barricada Vladimir Putin e Xi Jinping enquanto representantes da nova era do autoritarismo que parecia pronta para dominar o mundo. “Há três anos, Vladimir Putin disse que o liberalismo ocidental estava morto. No ano passado, o Presidente Xi argumentou que o Ocidente está em declínio. Em abril de 2022, as coisas parecem muito diferentes”, começou por afirmar a chefe da diplomacia de Londres. 

“O acesso económico já não é um dado adquirido”

Entre muitos avisos ao Kremlin e apelos a que as democracias apoiem cada vez mais a luta das forças ucranianas, uma parte do discurso acabou por se focar na China, que continua a não condenar a invasão russa, e se recusa a levantar sanções contra Moscovo - pelo contrário, as palavras mais duras de Xi Jinping e da sua entourage têm sido contra as sanções económicas, não contra a guerra ou os massacres russos na Ucrânia.

“Estamos a mostrar que o acesso económico já não é um dado adquirido. Tem de ser merecido. Os países têm de jogar de acordo com as regras. E isso inclui a China”, alertou Truss, recordando que “Pequim não condenou a agressão russa nem os seus crimes de guerra” e que “as exportações russas para a China aumentaram em quase um terço no primeiro trimestre deste ano.”

Ao mesmo tempo que criticam as sanções à Rússia, Truss recordou que os chineses têm decretado sanções contra a Lituânia porque este país ousou estreitar as relações com Taiwan. Para além de “coagir a Lituânia”, Pequim “comenta sobre quem deve ou não ser membro da NATO. E está a construir rapidamente um exército capaz de projectar poder profundamente em áreas de interesse estratégico europeu.”

“A China não é impenetrável”

Razões de sobra, avisou a ministra dos Negócios Estrangeiros, para que a atitude da China mereça mais atenção das potências ocidentais. Até porque, notou, “a China não é impenetrável” - e o seu crescimento, aparentemente imparável, depende em boa medida da colaboração do Ocidente.

“Ao falar da ascensão da China como inevitável, estamos a fazer o trabalho da China por ela. Na verdade, a sua ascensão não é inevitável. Eles não continuarão a subir se não cumprirem as regras. A China precisa de comércio com o G7. Nós representamos metade da economia global. E nós temos escolhas. Mostrámos com a Rússia o tipo de escolhas que estamos preparados para fazer quando as regras internacionais são violadas. E demonstrámos que estamos preparados para dar prioridade à segurança e ao respeito pela soberania em detrimento do ganho económico a curto prazo. Não menos importante porque sabemos que o custo de não agir é maior.”

Para além do apoio velado de Pequim a Vladimir Putin, que Xi Jinping olha como um “aliado estratégico”, Truss aludiu, sem entrar em detalhes, ao progressivo crescimento da capacidade militar chinesa: com uma atitude cada vez mais belicista de Pequim em relação a vários países vizinhos - nomeadamente com conflitos territoriais no Mar do Sul da China e Mar da China Oriental - e o aumento da sua zona de influência e alcance militar, por exemplo, graças ao recente acordo assinado com as Ilhas Salomão. Neste quadro, a governante inglesa defendeu “uma NATO global”.

“Rejeitamos a falsa escolha entre a segurança euro-atlântica e a segurança indo-pacífico. No mundo moderno, precisamos de ambas. Precisamos de uma NATO global. Com isso não quero dizer alargar a adesão a membros de outras regiões. Quero dizer que a NATO deve ter uma perspectiva global, pronta para enfrentar as ameaças globais.”

E apontou para a necessidade de “prevenir as ameaças no Indo-Pacífico, trabalhando com os nossos aliados como o Japão e a Austrália para assegurar a protecção do Pacífico”, mas também para a importância de “assegurar que democracias como Taiwan sejam capazes de se defenderem”.

“O G7 deve agir como uma NATO económica”

Neste esforço, a ministra de Boris Johnson postulou uma aproximação do G7 à missão da NATO. “O G7 deve agir como uma NATO económica, defendendo colectivamente a nossa prosperidade.”

“Chegou a altura de sermos espertos. O acesso à economia global deve depender de se jogar segundo as regras. Não pode haver mais livre-trânsitos. Estamos a mostrar isto com o conflito Rússia-Ucrânia - a entrada da Rússia foi rescindida”, resumiu Liz Truss.

A mesma coesão que as democracias de tipo ocidental têm mostrado no apoio à Ucrânia e na condenação da Rússia deve manter-se perante outras ameaças, como a ascensão da China.

“Ao sermos duros e unidos, ao trabalharmos juntos e expandirmos o comércio, podemos privar os agressores da sua influência e podemos reduzir a dependência estratégica”, defendeu a ministra britânica. “Se a economia de um parceiro está a ser alvo de um regime agressivo, devemos agir para os apoiar. Todos por um e um por todos.”

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