Libertação de presos, mais casas, um orçamento "doloroso": Starmer anuncia medidas para reverter "14 anos de podridão" conservadora

CNN Portugal , JAV
27 ago 2024, 13:13
Keir Starmer jardins Downing Street discurso primeiro-ministro Reino Unido (Tolga Akmen/EPA)

Starmer has set out some of his legislative priorities to reverse “14 years of rot”. This includes accelerating planing to build homes, harnessing the potential of artificial intelligence for growth, putting the rail service into public ownership and producing clean energy.

Num antecipado discurso a uma semana de o Parlamento regressar das férias de verão, primeiro-ministro britânico atribui culpas ao partido que derrotou nas eleições de julho, que criou "um buraco negro económico e um buraco negro social" - e diz que o governo trabalhista "fez mais em sete semanas do que os conservadores em sete anos"

O governo trabalhista, no poder há um mês e meio no Reino Unido, herdou dos conservadores dois “buracos negros”, depois de o anterior Executivo ter “ignorado” os problemas do país ao longo de "14 anos de podridão" e ter optado por se focar na “banha da cobra” do populismo.

Num antecipado discurso à nação a partir de Downing Street, a uma semana de os deputados voltarem das férias de verão e retomarem os trabalhos no Parlamento, o primeiro-ministro britânico avisou esta terça-feira que “as coisas vão ficar piores antes de melhorarem” e apontou o dedo ao partido agora na oposição.

“Herdámos não apenas um buraco negro económico mas um buraco negro social e é por isso que temos de agir e fazer as coisas de forma diferente”, disse Keir Starmer perante uma plateia de professores, enfermeiros e pequenos empresários que conheceu ao longo da campanha para as legislativas de 4 de julho, que o Partido Trabalhista venceu com maioria esmagadora. “Parte disso envolve ser honesto com as pessoas sobre as escolhas que enfrentamos e quão duro isto vai ser.”

Delineando algumas das suas prioridades legislativas que já tinha apresentado em julho, incluindo acelerar a construção de casas, usar a inteligência artificial para garantir o crescimento económico, apostar em energia limpa e nacionalizar os serviços ferroviários, o chefe do Governo disse estar determinado em dar resposta a uma série de problemas, incluindo as longas listas de acesso ao serviço de saúde (NHS), a sobrelotação das prisões e os motins antimuçulmanos que aqueceram o arranque do mês de agosto no Reino Unido.

"Uma minoria estúpida de bandidos"

Por causa de desinformação online, na sequência da morte de três raparigas no norte de Inglaterra erradamente atribuída a um muçulmano, gangues de manifestantes de extrema-direita atacaram casas e negócios de migrantes em várias cidades inglesas – o que veio pôr a descoberto uma “sociedade profundamente insalubre”, diz Starmer.

O primeiro-ministro atribui culpas a “uma minoria estúpida de bandidos que pensavam que podiam escapar impunes causando o caos, destruindo comunidades e aterrorizando minorias, vandalizando e destruindo propriedades das pessoas, tentando mesmo atear fogo a um prédio com sete humanos lá dentro – e como se isso não bastasse, os atacantes são pessoas desprezíveis, exibindo tatuagens de suásticas, gritando insultos racistas nas nossas ruas…”

Mas, adiantou, “estes motins não aconteceram num vácuo – expuseram o estado do nosso país, revelaram uma sociedade profundamente insalubre. As fissuras nas nossas fundações foram expostas, eles viram as rachas da nossa sociedade após 14 anos de falhanços e exploraram-nas”. E, por isso, “agora estão a aprender que o crime tem consequências” e que o atual Governo não vai “tolerar a quebra da lei e da ordem em circunstância alguma” nem “dar ouvidos àqueles que exploram famílias enlutadas e desrespeitam as comunidades locais”.

Governo reforçou presença policial nas ruas na sequência dos motins anti-imigração do início de agosto, que se saldaram em mais de 1.000 detidos - mais de 500 foram formalmente acusados foto AP

"Fui posto nesta posição"

Starmer diz que a sensação de impunidade dos atacantes deve-se em parte ao problema criado pelos conservadores no sistema prisional, o que levou no mês passado o Governo a anunciar um programa de libertação precoce de vários presos – com o primeiro-ministro a dizer agora que não pode dar garantias de que não venham a cometer crimes novamente, garantindo ainda assim que tudo será feito para evitar que “aqueles que representam os maiores riscos” não são libertados.

A partir de 10 de setembro, milhares de prisioneiros com 40% das suas penas cumpridas vão ser libertados como medida de emergência após os conservadores terem achado que o país podia aplicar “sentenças cada vez mais longas” sem criar mais espaços para manter pessoas condenadas, adiantou. “Eis-nos sem as prisões de que precisamos. Não consigo explicar-vos o quão chocado fiquei ao descobrir a verdadeira extensão do que eles fizeram com as nossas prisões – e vai levar tempo a resolver este problema. Não consigo construir uma prisão até sábado. Não devia estar sentado dia após dia com uma lista das prisões existentes em todo o país a tentar definir como lidar com a desordem – mas foi nessa posição que fui colocado.”

Questionado sobre a questão das travessias de migrantes pelo Canal da Mancha, depois de o seu Governo ter anunciado a abolição imediata do programa que Rishi Sunak pretendia implementar para deportar estas pessoas para o Ruanda, Keir Starmer escusou-se a esclarecer se vai criar novas rotas seguras e legais para quem pretende entrar no Reino Unido.

“No que toca a travar os barcos, temos, em primeiro lugar, de acabar com os gangues que gerem este comércio vil e é por isso que estamos a criar o Comando de Segurança das Fronteiras, é por isso que tivemos um encontro com a comunidade política europeia duas semanas depois de ter sido eleito e reunimos 46 líderes europeus em Blenheim. Discuti com eles com algum detalhe como podemos trabalhar melhor juntos para derrubar os gangues que gerem este comércio. Tenho a certeza absoluta de que é assim que tudo será feito de forma mais eficaz.”

Mais de metade daqueles que arriscam a travessia para o Reino Unido em pequenos barcos vem do Afeganistão, da Síria, do Iraque e do Irão, países de grande instabilidade para onde as pessoas não podem retornar. A quase totalidade dos migrantes vem de Estados com os quais o Reino Unido não tem acordos para deportação quando o pedido de asilo é rejeitado.

Starmer não especificou que medidas vão ser tomadas para responder ao aumento das travessias do Canal da Mancha foto Rafael Yaghobzadeh/AP

"Aqueles com os ombros mais largos vão carregar um fardo mais pesado"

Falando sobre o “buraco negro” nas finanças públicas de 26 mil milhões de euros deixado pelos tories, Starmer disse que “as coisas estão piores do que algum dia imaginámos”. Avisa que o Orçamento do Estado para o próximo ano, que tem de ser aprovado até 30 de outubro, vai ser “doloroso”.

“Dada a situação em que nos encontramos, não temos outra hipótese que não aqueles que têm os ombros mais largos carregarem o fardo mais pesado”, afirma Starmer, mantendo a promessa feita no discurso de tomada de posse de não aumentar os impostos sobre “a classe trabalhadora”. 

“O OBR [Gabinete de Responsabilidade Orçamental] não sabia [do buraco nas contas públicas] porque o anterior Governo escondeu-o e ainda na passada quarta-feira descobrimos que, graças à imprudência do último Governo, só nos últimos três meses contraímos empréstimos de quase 5,92 mil milhões de euros acima do que o OBR esperava.” E face a esta situação, Starmer pede ao país que “aceite a dor no curto prazo pelo bem a longo prazo”.

O novo governo trabalhista “fez mais em sete semanas do que o último governo em sete anos” e continua empenhado “na mudança” prometida durante a campanha eleitoral. Mas essa mudança, avisou Starmer, não vai acontecer “da noite para o dia” e cada problema tem de ser resolvido “de raiz”.

Falando a partir dos jardins da residência oficial do primeiro-ministro, Starmer lembrou as festas ali organizadas por Boris Johnson durante a pandemia enquanto a população estava sujeita a restrições anti-Covid para deixar a promessa de que o governo “está novamente ao serviço” do povo.

Europa

Mais Europa
IOL Footer MIN