Dois suspeitos foram detidos depois de o comboio ter feito uma paragem de emergência na estação de Huntingdon
O Reino Unido ficou chocado com um ataque com faca num comboio na noite de sábado, que teve como alvo passageiros que viajavam pelo centro de Inglaterra a caminho de Londres. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, descreveu o incidente como "profundamente preocupante".
Nove pessoas ficaram com ferimentos graves, duas das quais ainda estão a lutar pela vida no hospital. A Polícia de Transportes Britânica fala num "incidente grave".
Dois suspeitos foram detidos poucos minutos após a polícia receber o primeiro alerta, quando o comboio fez uma parada de emergência na estação de Huntingdon.
As autoridades confirmaram que se tratam de dois homens britânicos, na casa dos 30 anos. A polícia está a investigar os motivos do ataque, afastando um cenário de ato terrorista.
Eis o que se sabe sobre o ataque.
O que aconteceu?
O comboio de alta velocidade da London North Eastern Railway (LNER) partiu da cidade de Doncaster, no norte de Inglaterra, às 18:25, com destino a Londres.
O comboio tinha acabado de sair da estação de Peterborough, em Cambridgeshire, quando o ataque ocorreu.
Uma testemunha que seguia no comboio, Wren Chambers, contou à BBC que inicialmente ouviu “gritos e berros” numas carruagens mais atrás, antes de um homem aparecer a correr pelo comboio com um “ferimento bem visível”, a sangrar muito no braço.
Quando viu que mais pessoas estavam a correr pelo comboio, Wren Chambers pegou na sua mala e no casaco. “Levantei-me e fui para a frente do comboio, atrás deles, a tentar ir o mais longe possível.”
Outras pessoas fizeram o mesmo e algumas tentaram barricar-se nas casas de banho do comboio, segundo relatos de testemunhas.
A polícia recebeu a primeira chamada de emergência às 19:42, enviando de imediato uma equipa de agentes armados. Oito minutos após as primeira chamada, os dois suspeitos foram detidos depois de o comboio ter feito uma paragem de emergência na estação de Huntingdon.
Polícias armados foram vistos a correr pela plataforma da estação, a retirar os passageiros e a procurar neutralizar qualquer ameaça, informou a agência de notícias britânica PA Media.
Segundo o relato de outra testemunha do incidente, um dos suspeitos foi atingido pela polícia com um taser. “Basicamente, conforme se aproximavam dele, começaram a gritar ‘deita, deita’. Acho que foi o taser que o deitou abaixo”, contou a testemunha à Sky News.
O comboio continua na estação de Huntingdon, com equipamentos médicos e outros destroços espalhados pela plataforma.
Quem são as vítimas?
Um total de 11 vítimas receberam tratamento hospitalar. Dez foram transportadas de ambulância para o hospital, nove delas em estado grave, enquanto outra pessoa acabou por aparecer no hospital por conta própria durante a noite.
Duas pessoas ainda estão no hospital a lutar pela vida, informou esta manhã o superintendente da Polícia de Transportes Britânica, John Loveless, em declarações aos jornalistas.
Para já, sabe-se muito pouco sobre as vítimas, incluindo as suas idades.
Quem está por detrás do ataque?
Dois suspeitos foram detidos no sábado à noite por suspeitas de tentativa de homicídio. Segundo a polícia, os dois têm nacionalidade britânica - um tem 32 anos e o outro 35. Ambos nasceram no Reino Unido, frisou o superintendente John Loveless.
Entretanto, a polícia anunciou que o homem de 32 anos é "o único suspeito" do ataque e que o segundo homem já foi libertado, "sem que nenhuma acusação fosse formalizada".
A polícia ainda está a investigar os motivos que levaram ao ataque, mas adianta que não há indícios de que este tenha sido um ato de terrorismo. "Neste momento, não há nada que sugira que se trate de um incidente terrorista", indicou o superintendente John Loveless. "Neste momento, não seria apropriado especular sobre a causa deste incidente."
Numa entrevista à Sky News, o secretário de Defesa britânico, John Healey, descreveu o incidente como um "ataque isolado".
Inicialmente, a Polícia de Transportes Britânica (BTP) declarou um "Plato", o código nacional para responder a um "ataque terrorista indiscriminado", tendo-o revogado posteriormente.
Quão comuns são esses ataques no Reino Unido?
O Reino Unido é raramente palco de incidentes com um grande número de vítimas e as taxas de homicídio são baixas em comparação com outros países ocidentais.
Os crimes com armas de fogo são particularmente baixos, com o país a registar 5.103 ocorrências com armas de fogo no último ano, de acordo com estatísticas do governo.
Em contrapartida, os crimes com faca aumentaram no geral desde 2011. Cerca de 51.527 crimes com faca foram registados pelas forças policiais na Inglaterra e no País de Gales no ano passado, de acordo com dados do Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS). Destes, 15.689 foram registados em Londres.
Políticos britânicos e outras figuras importantes admitiram ter ficado chocadas com o ataque, enviando as suas condolências às vítimas.
A ministra britânica do Interior, Shabana Mahmood, disse estar "profundamente triste” com a notícia e que seus "pensamentos estão com todos os afetados".
Num comunicado divulgado pelo Palácio de Buckingham, o Rei Carlos III escreveu: "Estou verdadeiramente consternado e chocado ao saber do terrível ataque com faca que ocorreu a bordo de um comboio em Cambridgeshire na noite passada. As nossas mais profundas condolências e pensamentos estão com todos os afetados e os seus entes queridos", acrescentou.
A East Coast Main Line é uma das linhas ferroviárias mais movimentadas e importantes do Reino Unido. A linha conecta as principais cidades, ligando a estação King's Cross, em Londres, à estação Waverley, em Edimburgo, na Escócia.