Da diversidade à acessibilidade, pode a tecnologia mudar para melhor a forma como pensamos a beleza?

CNN , Flo Cornall
20 mai 2023, 17:00
Beleza

Redes sociais, filtros de beleza, inteligência artificial, realidade aumentada... Há um desconforto crescente com a forma como a tecnologia está a afetar as nossas ideias de beleza, mas também há quem acredite que ela pode mudar para melhor as nossas atitudes em relação à beleza.

Quando o filtro Bold Glamour foi lançado no TikTok no início deste ano, ele causou uma tempestade nas redes sociais. O filtro de embelezamento viral utiliza tecnologia de aprendizagem automática para editar as características faciais dos utilizadores em fotografias e vídeos, esculpindo as maçãs do rosto, suavizando a pele e iluminando os olhos, tudo com um realismo perturbador.

Nas redes sociais, alguns ficaram impressionados com a tecnologia, mas muitos manifestaram preocupação com a forma como os filtros podem promover padrões de beleza irrealistas.

Embora haja um desconforto crescente com a forma como a tecnologia está a afetar as nossas ideias de beleza, há quem acredite que também pode mudar para melhor as nossas atitudes em relação à beleza.

A CNN pediu a especialistas que identificassem as inovações que estão a ter um efeito positivo.

Redes sociais e filtros

Os filtros digitais e a realidade aumentada (RA) tornaram-se uma parte intrínseca da forma como as pessoas se fazem representar online. A City University of London, em 2021, referiu que 90% das jovens mulheres inquiridas no Reino Unido utilizam por vezes um filtro quando publicam uma selfie; destas, mais de metade afirmaram utilizar um filtro metade das vezes ou mais. De acordo com uma investigação do Dove Self-Esteem Project, 80% das raparigas inquiridas nos EUA distorcem a sua aparência online por volta dos 13 anos de idade.

Mas nem tudo é negativo para quem cresceu com as redes sociais, de acordo com Hannah Mauser, analista de beleza da empresa de previsão de tendências de consumo WGSN. Ela salienta que tem havido movimentos positivos em plataformas como o TikTok, desde o #AcnePositivity ao #BodyHairPositivity, que incentivam as pessoas a aceitar a pele no estado em que ela se encontra.

“A geração Z tem desempenhado um papel importante na desestigmatização destas narrativas de beleza, uma vez que dizem confiantemente não ao 'normal' e desafiam tópicos anteriormente considerados tabu”, afirma.

Florencia Solari, tecnóloga criativa de RA e criadora de filtros, concorda com esta afirmação. “Graças às redes sociais, conseguimos aceder a um conjunto diversificado de representações do que é a beleza”, diz.

“Os filtros do Instagram podem ajudar-nos a brincar e a experimentar diferentes aparências. Não temos de estar sempre a expor a nossa cara ao mundo inteiro e isso nem sempre significa falta de confiança, pode ser um meio de experimentação.”

Solari acrescentou que existe a possibilidade de experimentar uma personalidade diferente, ou mesmo experimentar a expressão do género, um rosto diferente, maquilhagem ou cor do cabelo graças à RA.

Sampo Parkkinen, CEO da Revieve, fornecedor de tecnologia de beleza que oferece experiências de beleza digital personalizadas, diz que as marcas podem aproveitar a RA para permitirem que os clientes experimentem cosméticos virtualmente, “sem 'embelezamento' ou outros filtros”.

Esta capacidade de “experimentação autêntica” pode não parecer tão brilhante ou bonita como uma experimentação virtual artificialmente “embelezada”, mas acaba por proporcionar ao consumidor uma melhor experiência real com a marca”, afirmou.

IA e maior personalização

Olivia Houghton, líder de beleza e bem-estar na agência de previsão estratégica The Future Laboratory, disse que os consumidores estão à procura de “usos mais empáticos, íntimos e individualizados da tecnologia”.

A gestora dá o exemplo da nova aplicação de comércio de beleza Trendio, que oferece uma experiência de compra personalizada e com curadoria. “Oferece conteúdo de vídeo ao vivo e pré-gravado para ajudar os utilizadores a tomarem decisões informadas sobre os produtos antes de os comprarem”, afirma- “Mergulha os utilizadores numa experiência semelhante à do TikTok, onde podem ‘folhear’ vídeos de produtos, assistindo na íntegra àqueles que despertam o seu interesse.”

A Trendio está a desenvolver modelos de inteligência artificial (IA) para editar automaticamente os vídeos e apresentar conteúdos específicos do utilizador.

A tecnologia de personalização baseada em IA também pode proporcionar uma experiência mais inclusiva, diz Simi Lindgren, fundadora e CEO da Yuty, uma plataforma que facilita a compra de produtos de beleza, usando IA para “hiperpersonalização”.

A gestora disse que encontrar os produtos de beleza certos pode ser um desafio, especialmente para consumidores de grupos demográficos sub-representados. “Desde tons incompatíveis até à falta de disponibilidade de produtos, os consumidores de beleza sub-representados enfrentam dificuldades na procura de produtos compatíveis”, explicou Lindgren. “A personalização, possibilitada pela IA, pode restaurar a equidade social para a indústria da beleza.”

Acessibilidade

Este ano, grandes nomes da indústria da beleza desenvolveram tecnologias para pessoas com deficiência.

A Estée Lauder lançou uma aplicação de assistente de maquiagem habilitado para voz (VMA) para pessoas com deficiência visual. A aplicação utiliza a tecnologia de espelho inteligente para identificar a maquilhagem no rosto do utilizador e um guia áudio descreve os pontos onde podem ser necessários retoques.

Aplicação do assistente de maquilhagem por voz da Estée Lauder.

Em janeiro, na feira de tecnologia CES 2023, a L'Oréal revelou um aplicador de maquilhagem portátil chamado HAPTA, concebido para ajudar pessoas com mobilidade limitada ou tremores.

Guive Balooch, presidente de Tecnologia e Inovação Aberta da L'Oréal, disse que espera que, um dia, os avanços tecnológicos signifiquem que ter capacidades motoras reduzidas em resultado de condições como lesão na espinal medula, Parkinson, esclerose múltipla ou artrite reumatóide não precisa ser uma barreira para o uso de produtos de beleza.

“Estas tecnologias permitem que as pessoas tenham a beleza que desejam ter. Trata-se realmente de personalização e beleza para cada pessoa”, diz.

Criação de avatares

As nossas ideias de beleza refletem-se nas personagens dos jogos de vídeo e nos avatares que as pessoas utilizam para se representarem em ambientes virtuais. A analista de beleza Mauser afirmou que as marcas estão a tentar aumentar a inclusão de avatares nos jogos de vídeo.

Em 2022, a marca de beleza Dove fez uma parceria com a Women in Games, a Epic Games e o estúdio de jogos liderado por mulheres Toya para “criar uma representação mais saudável e diversificada de mulheres e raparigas nos jogos”.

A coligação ‘Real Virtual Beauty’ da Dove tinha como objetivo criar “um ambiente online mais representativo e inclusivo”. 

“A parceria não só desafiou a representação da beleza online, como também ofereceu cursos de educação para criadores de jogos, uma coleção de arte dedicada a aumentar a inclusão e a Super U Story - uma plataforma de educação sobre autoestima pioneira no Roblox", afirmou Mauser.

Solari prevê que, no futuro, a forma como nos representamos no espaço digital se irá afastar da nossa aparência no mundo real. Ela fala do conceito de avatares como “gémeos digitais” que nos podem ajudar a expressar a nossa personalidade online.

“À medida que os nossos gémeos digitais assumem o controlo, a nossa identidade e a personalidade que encarnamos continuarão a fluir e a transmutar-se, possivelmente ganhando vida própria, mas mantendo a essência de quem somos”, afirmou.

 

Imagem de topo: HAPTA da L'Oréal - um aplicador de maquilhagem portátil para pessoas com mobilidade reduzida ou tremores.

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