Mais uma celebridade faz uma pausa no Instagram e Twitter para cuidar da saúde mental. “Criar algum distanciamento das redes sociais é positivo” - até mesmo para quem tem FOMO

16 ago 2022, 15:16
Tom Holland (Photo by Jordan Strauss/Invision/AP)

Duas psicólogas explicam que nem sempre é fácil encontrar o equilíbrio entre o uso de redes sociais e o impacto que estas plataformas podem ter na saúde mental. Mas dão dicas para o conseguir

O ator Tom Holland anunciou este domingo que vai “fazer uma pausa nas redes sociais”. Num vídeo em tom de “olá e adeus”, o protagonista dos mais recentes filmes de O Homem Aranha diz que precisa de cuidar da sua saúde mental e classifica as plataformas Instagram e Twitter como “avassaladoras”, sobretudo por ser uma figura pública e ver o seu nome (e a sua vida) vezes sem conta partilhados online.

“Acho que o Instagram e o Twitter têm demasiados estímulos, são avassaladores”, disse o ator.

Ao longo de quase três minutos de vídeo, que conta já com mais de sete milhões de interações, o ator britânico, de 26 anos, fala do impacto que estas redes sociais têm na sua saúde mental e revela que, por isso, decidiu “apagar” as aplicações. E apela a todos os que se identificam com a sua situação que peçam ajuda. “Procurar ajuda e pedir ajuda é algo pelo qual não devemos sentir vergonha”, diz.

Mas apagar as aplicações dos dispositivos móveis é o melhor caminho? Para as psicólogas Débora Bento Correia e Catarina Lucas, é a opção mais indicada para quem precisa de um tempo para si e para gerir o impacto que as redes sociais têm na sua vida e saúde mental.

“Criar algum distanciamento das redes sociais é positivo”, começa por dizer Catarina Lucas. “O ideal é encontrar o equilíbrio, usar [as redes sociais] para falar com amigos, mas algo que não gere dependência, que mostre que não há problema nenhum em estar um dia sem lá ir e publicar alguma coisa”.

Para Débora Bento Correia, “num primeiro momento, para ouvirmos o nosso corpo”, o ideal não é apagar as contas nas redes sociais, mas sim “suspender ou simplesmente eliminar a aplicação do telemóvel”, tal como fez Tom Holland. O simples ato de apagar a aplicação, continua, “dificulta o acesso” às redes sociais e mesmo que haja a tendência de instalar e desinstalar várias vezes a aplicação, o tirá-la do telemóvel ou tablet “faz com que não se vá com tanta recorrência” e só isso já ajuda a controlar o uso e gerir as emoções.

No entanto, há quem tenha uma posição mais extremista e apague mesmo a sua conta nas redes sociais, algo que Débora Bento Correia defende que pode não ser muito benéfico, sobretudo para quem ainda não consegue controlar o impacto que os conteúdos destas plataformas têm no seu bem-estar. “Apagar as [contas nas] redes sociais pode ser uma decisão muito drástica, temos de ouvir o nosso corpo, monitorizar os nossos níveis de ansiedade, angústia e frustração, de forma a perceber se é uma decisão mais benéfica ou prejudicial”, considera a psicóloga da Academia Transformar, referindo-se ao FOMO (fear of missing out) que muitas pessoas sentem - um medo constante de não estar a par do que está a acontecer online e de não se mostrar online.

“O FOMO, que é o que nos faz estar presente nas redes sociais e estar constantemente online, vem muitas vezes no sentido de compensar algumas carências na vida social com likes, comentários e mensagens”, explica. Para Débora Bento Correia, as pessoas devem prestar mais atenção aos sinais que o corpo dá na presença e ausência de redes sociais e, “acima de tudo, perceber que nas redes sociais nem tudo o que lá está representa 100% da realidade, é uma ínfima parte, representa um microssegundo da vida de alguém e na última instância é aquilo que a pessoa nos quer mostrar”. E, nestes casos, fazer uma pausa temporária pode ser melhor do que sair de vez das redes sociais.

Apesar de Tom Holland ser uma figura pública e de estar mais exposto e à mercê de comentários, a verdade é que o impacto das redes sociais na saúde mental é transversal a qualquer pessoa e a psicóloga Catarina Lucas diz mesmo que tem vindo “a notar na tendência” de as pessoas apagarem as redes sociais e muitas vezes pela dificuldade em encontrar um equilíbrio - no caso de Tom Holland é a dificuldade em encontrar um equilíbrio entre o que publicam sobre ele e o impacto que isso tem nele, nas outras pessoas é a dificuldade em encontrar um equilíbrio entre o que o outros publicam sobre as suas vidas e o impacto que isso tem no seu bem-estar.

Catarina Lucas não hesita em dizer que “é difícil” encontrar esse equilíbrio e desligar quando em causa está o uso de redes sociais, plataformas criadas “para criar dependência”, considera. O facto de as pessoas ficarem “reféns de ter de publicar e estar online” - uma situação que se pode agravar no caso de figuras públicas - mostra “o caráter disfuncional” da relação que se tem com as redes sociais, sobretudo “quando induzem a ansiedade por estarem desconectados”. E quando o uso de redes sociais (ou o afastamento delas) causa ansiedade, tristeza e angústia, “a solução passa por sair durante uns tempos”, considera Catarina Lucas. E Débora Bento Correia dá mais dicas: trocar o hábito de ir às redes sociais mal acorda e minutos antes de dormir por outros hábitos, como meditar, fazer journaling (uma espécie de diário), ler ou simplesmente ouvir música.

Tom Holland não é a única celebridade a dizer um “até logo” ao Instagram, Twitter, Facebook, entre outros. A cantora e atriz Selena Gomez está há mais de quatro anos a fazer uma pausa nas redes sociais, tendo, com isso, deixado de partilhar o seu dia-a-dia com os mais de 300 milhões de seguidores.

“Estou mais feliz, mais presente e mais ligada às pessoas. Percebo o poder que a internet tem e, de muitas maneiras, fez as melhores coisas para o mundo. Mas, para mim, recebo as notícias que são realmente importantes através das pessoas que estão na minha vida”, afirmou a cantora, em abril, em entrevista ao programa Good Morning America. Atualmente, Selena Gomez tem usado as redes sociais para promover mais o seu trabalho e a sua marca de cosmética, Rare, do que a sua vida pessoal. Algo que também a cantora Lizzo tem feito, em tom de resposta às constantes críticas de que era alvo, sobretudo no Twitter.

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