Estudante universitária relata como atingiu o seu ponto de rutura com as redes sociais e deixou de “fazer scroll irracionalmente"

CNN , Andrea Kane
26 mar 2023, 16:00
Adolescente, redes sociais, telemóvel, telemóveis. Foto: Adobe Stock

O escrutínio político e jurídico sobre algumas gigantes tecnológicas e plataformas de redes sociais está em alta

O CEO do TikTok Shou Chew enfrentou o furor dos legisladores, esta quinta-feira, quando compareceu perante o Comité de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos. O seu testemunho teve lugar na mesma altura em que alguns legisladores renovaram os apelos à proibição do TikTok nos Estados Unidos, citando preocupações de segurança nacional sobre os seus laços com a China através da sua empresa-mãe, a ByteDance. Também questionaram as práticas de recolha de dados do TikTok e o seu impacto nas crianças.

Entretanto, dois casos que estão no Supremo Tribunal dos EUA têm o potencial de mudar a Internet. Envolvem a Secção 230, uma lei federal com quase 30 anos de idade que fornece um escudo jurídico às empresas de tecnologia e de redes sociais contra processos judiciais relacionados com o conteúdo dos utilizadores nas suas plataformas.

Enquanto estes eventos se desenrolam no palco nacional norte-americano, a batalha pelo consumo de conteúdos está também a ter lugar em menor escala em casas e escolas de todo o país, afetando a vida e a saúde mental de alguns utilizadores, especialmente os jovens.

A estudante universitária Emma Lembke está a tomar medidas contra o que ela vê como os efeitos nocivos das redes sociais na sua geração. A meio da sua adolescência, a fundadora do Movimento Log Off já estava farta das redes sociais.

Depois de anos a "fazer scroll de forma irracional" em diferentes aplicações durante cinco a seis horas por dia, houve um momento em que se apercebeu do seu estado.

"Lembro-me de ter ouvido o som, o meu telefone, provavelmente uma notificação do Snapchat, algo a tentar chamar por mim, e imediatamente tive aquela resposta Pavloviana para o agarrar", recordou Lembke. "E foi nessa resposta – no milissegundo entre aquele ruído e o meu gesto – que finalmente atingi o meu ponto de rutura. E perguntei-me, como é que estou a permitir que estas aplicações tenham tanto controlo sobre mim"?

Nem sempre foi assim.

Lembke foi a última entre os seus amigos a ter autorização para usar redes sociais. Ela pensava que esse mundo deveria ser "místico, mágico e dourado", dado o novo e intenso foco dos seus amigos.

"Lembro-me de ver toda a atenção dos meus amigos ser desviada de mim... ter os seus olhos a olhar para mim, conversar com eles e (depois) a serem sugados completamente", disse ela. "E pareceu-me uma queda. Cada um passava cada vez mais tempo a ser engolido pelos seus telefones e ecrãs, em vez de falar comigo pessoalmente."

Lembke, agora com 20 anos e uma aluna do segundo ano da Universidade de Washington em St. Louis, disse que se sentiu imediatamente atraída por este mundo. 

"Eu tive as minhas primeiras contas nas redes sociais aos 12 anos de idade, no sexto ano, começando com o Instagram e indo ao longo dos anos para outras aplicações e plataformas como o Snapchat", disse ela. "Mas à medida que eu, uma menina de 12 anos, comecei a dedicar mais tempo a estas aplicações, a minha saúde mental e física ia sofrendo realmente".

O que ela via acontecer nas suas contas começou a moldar a sua autoestima.

"Estava a navegar, e enquanto fazia scroll estava constantemente a quantificar o meu valor através de gostos e comentários e seguidores", disse ela. "E essa quantificação aprofundou realmente a minha ansiedade social e acentuou as minhas espirais depressivas".

Os algoritmos opacos destas plataformas também a empurraram para um caminho escuro de padrões corporais irrealistas, disse ela, levando-a a hábitos alimentares nocivos.

"Penso que o aspeto mais nefasto de tudo isto... é que não é muito evidente. Não diz: "encontra um distúrbio alimentar, sente-te mal com o teu corpo, vai para casa e, tipo, não comas nada durante um dia". Nunca será tão categórico", disse ela. "O que faz é lentamente empurrar-te para um conteúdo que reforça repetidamente essas normas e essas práticas sem o dizer abertamente."

A reprodução automática nestas aplicações também a manteve viciada.

"É um poço sem fundo", disse ela, "e um que é favorecido pelas características viciantes destas plataformas".

Lembke sabia que precisava de se retirar. Mas ela não queria simplesmente sair das redes sociais; queria fazer algo para que outros adolescentes não tivessem de passar pelo que ela passou.

"Lembro-me especialmente de me sentir realmente desesperada porque, como jovem, o que é que se enfrenta? Uma... norma da sociedade inteira que diz: «entra nas redes sociais»."

Hoje, Lembke pede que as gigantes tecnológicas e as empresas de comunicação social sejam responsabilizadas, tendo testemunhado perante a Comissão Judiciária do Senado em fevereiro sobre o efeito destas plataformas na sua vida.

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