Investigação: são falsas 58% das contas no X que promovem o Chega

16 mai, 08:00

Relatório inédito feito para a CNN Portugal e TVI revela que abundam os perfis falsos nas contas X dos três maiores partidos: promovendo o Chega e desacreditando a AD e o PS. Conclusões sugerem "estratégia coordenada para enfraquecer os partidos estabelecidos, ao mesmo tempo que amplifica o apoio à alternativa de extrema-direita"

A interferência eleitoral através das redes sociais é uma preocupação crescente nas democracias, tendo atingido a gravidade de adiar eleições na Roménia. E em Portugal? Foi o que a CNN Portugal e a TVI quiserem saber, através de uma investigação a redes sociais dos três maiores partidos portugueses. O resultado é um relatório que revela um nível inaudito de utilização de contas falsas para defender e atacar partidos e respetivos líderes políticos.

Vejamos as principais conclusões:

1. Um total de 58% dos perfis que comentaram na conta oficial do Chega no X (antigo Twitter) foram identificados como sendo falsos. Os comentários serviram sobretudo para amplificar centenas de comentários pró-Chega. E esses perfis promoveram o partido como defensor da identidade portuguesa e reforçaram narrativas nacionalistas destinadas a melhorar a sua imagem pública.

2. Já nas contas oficiais do Partido Socialista (PS), do Partido Social-Democrata (PSD), de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, uma média de 49% dos perfis que comentaram eram falsos. As campanhas focaram-se nestes casos em desacreditar os partidos e candidatos, usando linguagem emocional para questionar a sua liderança e credibilidade.

3. Muitos dos perfis falsos que atacaram o PS e o PSD também foram encontrados a promover o Chega e André Ventura, por vezes dentro das mesmas discussões.

“Essa atividade cruzada sugere uma estratégia coordenada para enfraquecer os partidos estabelecidos, ao mesmo tempo que amplifica o apoio à alternativa de extrema-direita”, diz a empresa autora do estudo, a Cyabra, empresa israelita que usa ferramentas de inteligência artificial para detetar contas falsas – e que esteve envolvida na análise ao cancelamento das eleições na Roménia ou na recente campanha nas Filipinas.

“Vozes falsas, votos reais”

Intitulado “Vozes falsas, votos reais: Como perfis falsos estão a influenciar as eleições de 2025 em Portugal”, o relatório da Cyabra para a CNN Portugal e TVI analisou a atividade de 2.274 perfis que espalharam 3.821 unidades de conteúdo na rede social X entre 14 de abril e 14 de maio de 2025.

A investigação analisou o discurso político online na campanha para as eleições legislativas, com o objetivo de “descobrir comportamentos inautênticos coordenados, especialmente campanhas falsas destinadas a manipular a opinião pública, seja desacreditando rivais políticos ou amplificando artificialmente o apoio a partidos e candidatos específicos nas suas contas oficiais no X”, explica a Cyabra.

“As conclusões oferecem uma visão crítica sobre como esses esforços de manipulação podem estar a moldar as perceções políticas e a influenciar o sentimento dos eleitores na corrida para as eleições”, adianta a companhia.

Desinformação e interação falsa

O relatório fez uma análise sobretudo com base em palavras-chave, hashtags e as contas oficiais no X dos três maiores partidos políticos e dos seus principais candidatos.

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“O que descobrimos é que a maior parte da desinformação e falsa interação está concentrada nas contas oficiais no X dos partidos e candidatos e não nas conversas gerais com hashtags. Isso mostra como as respostas e threads de comentários como um espaço para operações de influência — seja para ampliar o apoio ou minar a credibilidade”, explica a empresa.

“Embora a desinformação esteja presente em todo o espectro político, o ecossistema do Chega mostrou a maior concentração de perfis falsos, particularmente em torno de André Ventura. No entanto, um volume substancial de atividade inautêntica também foi observado nas contas oficiais dos partidos Socialista e Social-Democrata, sugerindo que nenhum partido está isento de ser alvo ou beneficiário da desinformação”, complementa a companhia.

Que conclui: “Estas descobertas destacam a escala da manipulação digital presente na conversa eleitoral,  bem como o uso estratégico de perfis falsos para moldar a percepção pública e influenciar o discurso democrático nas últimas semanas antes da votação”.

Narrativas nacionalistas

A investigação detalha contas concretas e comentários concretos nas contas X de Chega, PSD e PS, num cenário digital “muito marcado por comportamentos falsos”, aponta a Cyabra. Esses perfis falsos que dominam boa parte das discussões online são “criados de forma estratégica para manipular a opinião pública durante um período pré-eleitoral importante.”

Os dados mostram que “a maioria das atividades falsas favorecem o Chega e o seu líder, André Ventura”. As contas falsas “têm amplificado ativamente narrativas nacionalistas, retratando o partido como o guardião da identidade portuguesa”. E esses esforços “não se limitaram à promoção isolada; muitos dos mesmos perfis também se envolveram em campanhas de desinformação direcionadas a desacreditar os rivais políticos do Chega, incluindo o PS, o PSD, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro”.

Nas conclusões do relatório, os especialistas da Cyabra salientam ainda que “essa estratégia dupla — elevar o Chega enquanto prejudica os seus concorrentes — aponta para uma operação digital coordenada com objetivos políticos claros”.

“Em muitos casos, perfis falsos operavam simultaneamente nas seções de comentários de contas rivais, atacando a sua credibilidade enquanto inseriam mensagens pró-Chega, criando efetivamente a ilusão de apoio popular para influenciar a opinião pública e o comportamento dos eleitores.”

A Cyabra é uma empresa que recorre a ex-especialistas em guerra de informação e segurança cibernética e tem uma plataforma de inteligência de código aberto que usa IA para detetar contas falsas que espalham desinformação e notícias falsas. “Usando informações disponíveis publicamente, a Cyabra trabalha com governos e organizações em todo o mundo para analisar biliões de conversas online em tempo real e entender melhor o que está por trás dessas conversas”.

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