Como fortalecer a sua saúde após recuperar da covid-19

14 fev 2022, 07:00
Manter hábitos saudáveis ajuda na recuperação após a infeção

Mudar hábitos e incluir a prática de exercício físico são dois aspetos determinantes. Especialistas explicam o que deve fazer após recuperar da infeção por SARS-CoV-2.

Os hábitos que devem ser vistos como promotores de saúde e preventores de doenças são aqueles que devem fazer parte do pós infeção, com alguns ajustes que prometem um reforço extra na recuperação, dizem os especialistas entrevistados pela CNN Portugal.

Estas infeções devem ser um sinal de alerta”, começa por dizer Catarina Canha, secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e médica internista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que considera ainda que estes “eventos devem fazer-nos refletir e mostraram que são os doentes com mais fatores de risco, como obesidade e diabetes, os que foram mais afetados”.

A especialista defende que a “aposta na prevenção da doença e o estímulo para estilo de saudável são determinantes”, seja antes, durante ou depois de uma infeção, sendo que o abandono de maus hábitos para a saúde, “como o tabagismo”, pode fazer toda a diferença na recuperação e no reforço da saúde. 

Contudo, perante a presença de um agente externo agressor, neste caso o vírus SARS-CoV-2, o corpo humano é colocado em prova. “Há um ‘esticão’ a nível do sistema imunológico, como acontece com outras infecções”, esclarece Paula Pereira, especialista em medicina interna no Hospital Lusíadas Porto.

Na prática, continua a médica, perante a infeção “há toda uma resposta que exige que tenhamos um sistema imunitário capacitado” e, assegura, “há várias estratégias” para que esta resposta “não danifique tanto o organismo e consigamos viver melhor” não só durante a infeção como após a recuperação. 

Cuidado com o que coloca no prato

A alimentação é um dos aspetos mais importantes na hora de reforçar a saúde e capacitar o sistema imunitário, destaca a médica Paula Pereira. “Na roda dos alimentos, metade é frutas, legumes e leguminosas e o nosso prato deveria ser assim”, garante.

A nutricionista Joana Ferreira, especialista em nutrição desportiva, aconselha o consumo de “alimentos ricos em proteína magra”, pois “são benéficos para a manutenção da massa muscular que ficou comprometida com a doença”. Além disso, aconselha ainda o consumo de “frutas e legumes” para garantir “o aporte de vitaminas e minerais, como é o caso das vitaminas A, C e ácido fólico [vitamina B9], que são fundamentais para reforçar o sistema imunitário”.

Após a infeção, reforça Paula Pereira, “devemos ter ainda mais atenção” aos alimentos ingeridos, sendo preferível optar por “produtos frescos e variados, preferir abacate, leguminosas, frutas frescas, alimentos antioxidantes, os betacarotenos, tudo o que tenha muita cor”, tal como preconiza a dieta mediterrânea.

No leque de alimentos com ação antioxidante encontramos aqueles que são ricos em vitamina C (como kiwi e citrinos), os frutos vermelhos e o chá verde, por exemplo. Já no que diz respeito a alimentos ricos em betacarotenos, temos, por exemplo, a cenoura, a abóbora e o tomate.

Para Catarina Canha, também “a manutenção de um IMC (índice de massa corporal) adequado” é determinante e, para tal, há que juntar à alimentação saudável e variada a prática de exercício físico.

Para além dos cuidados alimentares e da manutenção do peso, importa ainda prestar mais atenção à hidratação. Sobre este ponto, Joana Ferreira diz que “a hidratação é fundamental, uma vez que existem sintomas como vómitos e diarreia que levam à desidratação”.

Movimentar o corpo? Sim, mas com cautela

A prática de exercício físico melhora diretamente a função pulmonar e melhora a imunidade, corrigindo os desequilíbrios de citocinas no corpo de quem esteve infetado com SARS-CoV-2, e, além disso, também reduz o stress oxidativo intracelular e extracelular e promove a regulação da homeostase da flora intestinal, revela um estudo publicado na Sports Medicine and Health Science.

E a American College of Sports Medicine recomenda que os primeiros treinos sejam de 15 minutos, o suficiente para dar algum movimento ao corpo após a infeção, deixando uma dica: “os indivíduos devem garantir que são capazes de realizar facilmente as atividades da vida diária e caminhar 500 metros numa superfície plana sem sentir fadiga excessiva ou falta de ar”.

Os benefícios [do exercício físico após infeção] a nível psicológico, neurológico, cardiorrespiratório, musculoesquelético e sistema imunitário são imensos”, diz Luís Cerca, professor auxiliar na Universidade Lusófona e especialista em bem-estar e saúde.

Segundo um estudo publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health, o exercício é também uma mais-valia na rotina dos pacientes com síndrome pós covid (long covid). Diz a investigação, que um treino regulado, estruturado e personalizado é capaz de fazer frente às mazelas cardiorrespiratórias, pulmonares, musculoesqueléticas e até neurológicas.

Para a médica Catarina Canha, “a boa recuperação cardiovascular” é um dos aspetos que as pessoas que estiveram infetadas devem ter em conta, sobretudo se tiveram sintomatologia respiratória moderada a grave. Nestes casos, assim que recuperarem da infeção aguda, “beneficiam de uma reabilitação cardiovascular adequada aos défices que têm, com a prática de exercício com um aumento gradual no que diz respeito à intensidade e tempo”.

Luís Cerca, especialista em exercício e bem-estar, considera as pessoas devem procurar ter uma rotina de treino após a infeção, mas devem ter em atenção a intensidade com que se exercitam, que deve ser baixa a moderada, “para que sinta autonomia no movimento, não é nada que a pessoa fique ofegante, é quando a há percepção de esforço com conforto, no dia a seguir parece que nem treinou”.

Dois suplementos que podem fazer a diferença

Uma alimentação saudável e variada é meio caminho andado para se conseguir um bom aporte de nutrientes, porém, num quadro de recuperação pode ser necessário um reforço extra, diz Paula Pereira.

Olhando para os casos em que há persistência do cansaço mesmo depois de recuperar da infeção aguda, a médica considera que “a suplementação com coenzima Q10” pode ser uma boa opção.

Esta substância (também chamada de ubiquinona) tem propriedades antioxidantes e é fundamental para a produção de energia nas mitocôndrias. De acordo com a especialista, como a infeção por SARS-CoV-2 “afeta a mitocôndria” e, por isso, “afeta a energia”, esta coenzima é uma aliada no combate da diminuição ou perda de força física. 

“Nós temos capacidade de produzir esta coenzima quando somos jovens, mas com a idade ficamos mais deficitários”, explica, reforçando que, nestes casos, a suplementação pode ser ainda mais benéfica, devendo a pessoa consultar um profissional de saúde primeiro.

Também no que toca a suplementos, a médica Paula Pereira destaca ainda a importância da vitamina D, que “interfere com muitas cascatas metabólicas” e deve ser uma opção “mesmo durante a infeção”. Esta vitamina, que na verdade é uma hormona, está presente num leque muito limitado de alimentos e a melhor forma de ser absorvida é através da exposição solar.

Preste atenção à rotina de sono

O sono é uma das coisas mais importantes”, não hesita em dizer a médica Catarina Calha. Para a especialista e membro da SPMI, “a privação de sono leva a que a pessoa tolere menos bem a restante sintomatologia”, o que pode agravar a sensação de dor e cansaço que tem.

“As pessoas que estiveram em longos tempo de isolamento, em hospitais ou em casa, acabam por ter alteração de padrão do sono, isso vai prejudicar a saúde”, diz, apontando também para o impacto que pode ter na recuperação e para a importância de as pessoas prestarem mais atenção aos seus hábitos de sono.

A médica aconselha “manter as rotinas de sono, dormir durante a noite e estar desperto durante o dia”, de modo a respeitar o “ritmo circadiano”, o chamado relógio biológico.

 

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