Um dos painéis do coche tem pessoas de cor que se ajoelham submissamente a uma jovem caucasiana. Críticas estavam a ser cada vez mais e o rei tomou esta decisão
O rei Willem-Alexander afirmou que a família real holandesa vai suspender temporariamente a utilização da Carruagem Dourada, até que “a Holanda esteja pronta”, após críticas que associam o colonialismo ao coche.
“Temos muito de que nos orgulhar na nossa História. Ela também nos dá material de aprendizagem para reconhecer e evitar erros no futuro”, afirmou o rei Willem-Alexander, o monarca holandês regente, numa mensagem de vídeo publicada, na semana passada, na conta oficial do YouTube que pertence à família real.
“Não é possível rescrever o passado. Podemos tentar aceitá-lo juntos. O mesmo também se aplica ao passado colonial. No entanto, é necessário um esforço coletivo que seja mais aprofundado e duradouro. Um esforço que nos una, em vez de nos dividir.”
A carruagem, coloquialmente conhecida como "De Gouden Koets", tem estado, nos últimos anos, no centro de um aceso debate.
Um dos painéis da Carruagem Dourada, conhecido como “Tributo das Colónias”, retrata pessoas de cor das colónias, que se ajoelham submissamente a uma jovem caucasiana, que representa a Holanda, enquanto a presenteiam com ofertas, segundo o Museu de Amesterdão, local onde a carruagem está guardada.
O Império colonial holandês abrangeu 250 anos desde o século XVII ao século XIX, de acordo com o Rijksmuseum, em Amesterdão. O império esteve ativo em regiões como as Caraíbas, o Brasil, o Suriname, a África Austral e a Ásia, onde as pessoas também eram escravizadas e exploradas por imperialistas.
Em 1990, o artista Ruben La Cruz, de Curaçau, manifestou-se contra a vinheta colonial num festival em Roterdão. Desde então, várias figuras públicas, incluindo um ativista e dois membros do parlamento holandês, exigiram que a carruagem fosse posta de parte.
No entanto, estas reivindicações tomaram outra proporção após os protestos mundiais do movimento Black Lives Matter, em 2020, quando muitos países foram confrontados com os seus históricos raciais e coloniais.
A Carruagem Dourada foi oferecida à Rainha Wilhelmina, a primeira monarca mulher da Holanda, em 1898. Nesse ano, celebrou os 18 anos e a sua coroação deu-se pouco depois.
Atualmente, a carruagem é maioritariamente utilizada no Dia do Príncipe, quando o rei Willem-Alexander abre o parlamento holandês, na terceira terça-feira de setembro, e discursa sobre os contornos do programa do governo para o ano que se inicia, de acordo com o “site” do governo holandês.
A carruagem também está ligada a outros acontecimentos como casamentos reais e inaugurações.
O rei Willem-Alexander acrescenta: “A Carruagem Dourada será novamente utilizada, quando a Holanda estiver pronta. Neste momento, não está."
“Todos os cidadãos deste país devem poder sentir-se iguais e com as mesmas oportunidades. Toda a gente deve poder sentir-se parte do que foi construído no nosso país e sentir orgulho disso, incluindo os cidadãos holandeses cujos antepassados não viveram em liberdade, nem no Oriente, nem no Ocidente.”
“Enquanto houver habitantes da Holanda que sintam a dor da discriminação diariamente, a mágoa do passado irá assombrar os nossos tempos e não terminará.
“Escutar e compreender-nos mutuamente são condições essenciais para conseguirmos alcançar a reconciliação e afastar a mágoa da alma das pessoas.”
Ao dirigir-se ao público holandês, o rei afirma que a Carruagem Dourada poderia ser utilizada no Dia do Príncipe, “apenas se percorrermos o percurso da reconciliação juntos”, descrevendo-o como um dia em que “celebramos a nossa democracia e a solidariedade como holandeses.”
Não foi referida nenhuma data provável de utilização da carruagem.
