Dizem que não dançou bem mas Raygun está a ser elogiada pelo caráter e coragem nos Jogos Olímpicos

CNN , George Ramsay
12 ago, 18:29
O desempenho de Rachael Gunn nos Jogos Olímpicos de Paris pôs as cabeças a andar à roda (Odd Andersen/AFP/Getty Images via CNN Newsource)

Rachael Gunn chegou a Paris como uma atleta de competição entusiasmada por fazer a sua estreia olímpica. Antes de lá chegar já era sensação na Internet, com as suas atuações vistas por milhões de pessoas nas redes sociais.

Gunn - também conhecida como B-girl Raygun, ou simplesmente Raygun - é uma professora universitária de 36 anos de Sydney, Austrália, que equilibra o seu trabalho quotidiano com a sua carreira de breakdance, competindo em eventos em todo o mundo.

Recentemente, isso levou-a até aos Jogos Olímpicos de Paris, onde 32 atletas - conhecidos como B-boys e B-girls - estavam a competir nos Jogos pela primeira vez.

Na Place de la Concorde, no sábado, Raygun, vestida com o fato de treino verde e dourado da Austrália, mostrou alguns dos seus movimentos em três combates de round-robin: um salto canguru, um rolo para trás e várias contorções com o corpo enquanto estava deitada ou a rastejar no chão.

Não conseguiu marcar nenhum ponto nas batalhas contra Logistx, dos EUA, Syssy, de França, e Nicka, da Lituânia, perdendo por 18 a 0 em todas as ocasiões. É justo dizer que os comentários posteriores na Internet não foram totalmente educados sobre as performances de Raygun.

Um utilizador da rede social X apelidou os seus passos de "hilariantemente ridículos", enquanto outro questionou como é que ela tinha chegado tão longe. Até a cantora Adele tirou um tempo do seu concerto em Munique para questionar se tudo aquilo era uma "piada", acrescentando que foi "a melhor coisa que aconteceu nos Jogos Olímpicos".

Mas Raygun está a falar muito a sério. Professora na Universidade Macquarie, em Sydney, os seus interesses de investigação incluem o breaking, a dança de rua e a cultura hip-hop, enquanto a sua tese de doutoramento se centrou na interseção entre o género e a cultura do breaking de Sydney.

Raygun compete contra Logistx nos Jogos Olímpicos de Paris (Harry Langer/DeFodi Images/Getty Images via CNN Newsource)

A atleta representou a Austrália nos campeonatos mundiais de 2021 e 2022 antes de ganhar um lugar nos Jogos Olímpicos através dos campeonatos da Oceânia no ano passado.

"Todos os meus movimentos são originais", disse Raygun depois de competir em Paris. "A criatividade é muito importante para mim. Vou para o campo e mostro a minha arte. Por vezes, isso agrada aos juízes e, outras vezes, não. Faço o meu trabalho e isso representa arte. É disso que se trata".

Muitas pessoas defenderam as atuações da australiana como únicas e criativas, apesar de não serem necessariamente recompensadas pelos juízes.

"É tudo uma questão de originalidade e de trazer algo de novo para a mesa e representar o seu país ou região", afirmou Martin Gilian, o juiz principal de breaking nos Jogos Olímpicos, também conhecido como MGbility.

"Era exatamente isso que Raygun fazia, inspirava-se no que a rodeava, que neste caso, por exemplo, era um canguru... Criou alguns movimentos originais que podiam ser engraçados ou divertidos para outros, mas para nós, basicamente, representava o breaking e o hip hop. Ela estava a tentar ser original e trazer algo de novo para a mesa. Do nosso ponto de vista, não foi nada de verdadeiramente chocante", acrescentou.

Sergey Nifontov, secretário-geral da World DanceSport Federation, disse estar "preocupado" com a reação nas redes sociais, acrescentando: "Isto não deveria acontecer no nosso mundo. Algo está a ir na direção errada".

Gunn começou a competir por volta dos 20 anos, tendo crescido a praticar outras formas de dança, incluindo dança de salão, jazz, sapateado e hip-hop. Em Paris, competiu com B-girls com cerca de metade da sua idade, explicando que foi uma "experiência fantástica" e "um privilégio ter esta oportunidade".

Isso ficou evidente na sua chegada à cerimónia de encerramento de domingo, onde recebeu um enorme apoio dos colegas de equipa e dos apoiantes durante uma atuação improvisada na rua.

Raygun disse que todos os seus movimentos são originais (Ezra Shaw/Getty Images via CNN Newsource)

"Se não conhecem a história da Rachael, em 2008, ela foi fechada num quarto a chorar por estar envolvida num desporto dominado pelos homens, sendo a única mulher, e foi preciso muita coragem para ela continuar e lutar pela oportunidade de participar num desporto que adorava", disse aos jornalistas Anna Meares, antiga ciclista profissional e chefe de missão da Austrália.

"Isso levou-a a ganhar a prova de qualificação olímpica para estar aqui em Paris. Ela é a melhor dançarina de breakdance feminina que temos na Austrália... Representou a equipa olímpica, o espírito olímpico, com grande entusiasmo e adoro a sua coragem. Adoro o seu caráter e sinto-me muito desiludida por ela ter sido alvo do ataque que sofreu".

O breaking surgiu nas ruas da cidade de Nova Iorque na década de 1970 e, desde então, tem vindo a ganhar popularidade em todo o mundo.

Começou como uma forma de expressão criativa entre os jovens negros e latinos e é considerado um dos elementos-chave do hip-hop, juntamente com o rap, o DJing e a arte do graffiti.

Embora muitos não vejam o breaking estritamente como desporto, sendo mais uma expressão artística, o Comité Olímpico Internacional (COI) tem procurado formas de atrair o público mais jovem para os Jogos, acrescentando o skate, a escalada desportiva e o surf ao programa olímpico.

No entanto, o breaking não será apresentado nos Jogos de 2028, em Los Angeles, e ainda não se sabe se a modalidade voltará a ser praticada em futuras Olimpíadas.

Desportos

Mais Desportos

Patrocinados