Jovem de 16 anos foi buscar os irmãos à morada errada e acabou baleado na cabeça

18 abr 2023, 09:32

Afroamericano sobreviveu e está a recuperar no hospital. O suspeito, um homem de 84 anos, disparou sem fazer perguntas

Ralph Yarl tocou à campainha da casa onde julgava que ia buscar os irmãos mais novos. Do outro lado foi recebido por Andrew Lester, que, sem lhe fazer qualquer pergunta, o baleou na cabeça com um revólver.

O jovem, um afroamericano de 16 anos, está a recuperar no hospital e o suspeito já foi acusado de agressão em primeiro grau e ação criminosa com arma, num caso que está a gerar grande contestação em Kansas City, no estado norte-americano do Missouri, sobretudo depois de o suspeito ter sido libertado após interrogatório.

“Ouviu barulhos dentro de casa e finalmente a porta abriu-se. Foi confrontado por um homem que lhe disse ‘não voltes mais aqui’, e que depois disparou de imediato a sua arma”, pode ler-se na declaração formal que os advogados da família da vítima entregaram em tribunal, e que é citada pela NBC News.

Andrew Lester, de 84 anos, vive na rua 115, e não na praceta 115, onde estavam os irmãos de Ralph. Por volta das 22:00 do dia 13 de abril, o jovem esperava que lhe abrissem a porta. Bateu duas vezes, mas do outro lado demoraram um pouco mais, então “esperou”.

Assim que a porta foi aberta levou um tiro na cabeça, com a bala a penetrar-lhe o crânio e a deixá-lo gravemente ferido. Já no chão, voltou a ser baleado: o dono da casa abriu fogo por uma segunda vez, atingindo a zona superior do braço do rapaz.

Ainda consciente, Ralph foi a três casas até que alguém o ajudasse, de acordo com o que foi contado pela sua tia, Faith Spoonmore, que criou uma página para financiar as despesas médicas da família, e que já ultrapassou o objetivo dos 2,5 milhões de dólares. Uma mulher acabou por acolher o jovem, chamando de imediato uma ambulância. "Eu quis ajudá-lo, mas estavam todos a dizer que não sabíamos onde estava o atirador", explicou, em declarações à CNN.

Muitos acreditam que por detrás do caso estarão motivos raciais, o que motivou protestos na cidade, que se intensificaram após a libertação de Andrew Lester, que saiu da prisão 24 horas depois de ter sido chamado pela polícia para interrogatório. A chefe da polícia não é tão taxativa, mas admite as "componentes raciais deste caso", ainda que a acusação não refira qualquer discriminação racial. "Quero que todos saibam que ouço e percebo todas as preocupações da comunidade", afirmou Stacey Graves. A polícia comunicou, entretanto, que necessita de um depoimento oficial da vítima, bem como de mais provas e outras informações para avançar para algo mais concreto.

Andrew Lester enfrenta uma pena máxima que pode chegar à prisão perpétua, a moldura penal mais grave no caso de crimes envolvendo agressões agravadas. A polícia indicou estar a trabalhar para ter um caso sólido em tribunal, havendo um pormenor que pode fazer a diferença, e que ainda está em avaliação: saber se o atirador estava protegido pela lei "Stand Your Ground", uma lei que funciona em atos de legítima defesa, e que prevê a utilização de força letal caso seja necessário para se proteger, ou caso a sua casa seja invadida.

"Asseguramos que vamos fazer tudo o que pudermos para haver justiça, para garantir que somos o mais expeditos possível e, mais do que tudo, para ter a certeza de que toda a gente, independentemente de quem seja, sabe que a justiça faz-se aqui em Kansas City", afirmou o autarca da cidade, Quinton Lucas.

A mediatização do caso já levou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a ligar à família, a quem, segundo os advogados, endereçou as suas orações, convidando os Yarl para uma visita à Casa Branca, assim que Ralph estiver totalmente recuperado. A situação também chegou à sociedade civil, com artistas como Viola Davis, Justin Timberlake ou Halle Berry a lamentarem o sucedido.

E.U.A.

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