"Um choque elétrico a percorrer o meu corpo". Em 2009, foi a única sobrevivente da queda de um avião e agora conta finalmente a história em tribunal

24 mai 2022, 19:00
Bahia Bakari à saída do tribunal (Thomas Samson, Getty Images)

A jovem, na altura com 12 anos, esteve agarrada a um pedaço do avião no Oceano Pacífico durante 12 horas

Bahia Bakari foi a única sobrevivente de um acidente de avião da Yemenia Airways, em 2009, no arquipélago de Comores, que matou 152 pessoas. Esta segunda-feira, no julgamento contra a companhia aérea num tribunal francês, contou finalmente a sua história.

Tinha 12 anos na altura e viajava com a mãe para o casamento do seu avô. Partiu de Paris a 29 de junho de 2009 e fez uma escala em Sanaa, capital do Iémen. Um voo que seria fatal para os outros 141 passageiros e 11 membros da tripulação.

“Era um avião mais pequeno, tinha moscas lá dentro e cheirava muito a casa de banho”, declarou Bahia. No entanto, “tudo correu normalmente”, até ao momento da aterragem.

“Comecei a sentir a turbulência, mas ninguém se estava a manifestar muito, então convenci-me de que era normal”, acrescentou em tribunal, citada pelo The Guardian.

Em Moroni, a capital das Comores, o Airbus A310 estava a fazer a aproximação à pista quando se despenhou no Oceano Pacífico.

A queda do voo 626 da Yemenia Airlines é descrita por Bahia Bakari como um “choque elétrico a percorrer o meu corpo”, não havendo muitas mais recordações do momento: “Há um buraco negro desde o momento em que estava sentada no avião e o momento em que vi que estava na água.”

Agarrada a um pedaço do avião no Oceano Pacífico durante 12 horas, a jovem de agora 25 anos recorda “o sabor de combustível” na boca. “Não via como poderia superar aquilo”, confessa, afirmando que chegou a adormecer.

A mãe de Bahia perdeu a vida na tragédia. Uma recordação que a fez chorar durante o depoimento: "A parte mais difícil foi lidar com a morte da minha mãe. Eu era muito próxima dela.”

Quando finalmente o barco de salvamento chegou, Bahia foi levada para o hospital, onde lhe disseram que foi a única sobrevivente do acidente.

Bahia após o acidente aéreo, com o seu pai (Sthephanie de Sakutin, Getty Images)

Companhia aérea nega culpa

Os procuradores do caso acusam a companhia de homicídio involuntário, afirmando que foi permitido que o avião voasse para Moroni, mesmo sabendo que as luzes de aterragem não estavam a funcionar. Denunciam também que eram realizados treinos de pilotos com muitas lacunas. 

Por sua vez, investigadores e peritos afirmam que não havia nada de errado com a aeronave, culpando a tripulação de ter “perdido o controlo” na aproximação.

A Yemenia Airways poderá enfrentar uma multa no valor máximo de 225 mil euros.

Nenhum responsável da companhia aérea apareceu em tribunal, justificando-se com a guerra civil que está a ocorrer no Iémen. Bahia Bakari, que tem assistido a várias sessões do julgamento com o pai, defende que a situação é vergonhosa: “Eu e estas famílias gostávamos que nos ouvissem.”

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