A bordo estavam sete portugueses que morreram, como outras 234 pessoas. O avião caiu sobre uma zona residencial e também há mortos entre os que estavam no solo
Saiu pelo próprio pé depois de sair do lugar 11A e saltou a porta de emergência que estava ao seu lado. Quando chegou ao hospital ainda tinha, quase intacto, o bilhete que lhe tinha valido entrada num voo de quase 10 horas entre Ahmedabad, na Índia, e Gatwick, em Londres.
Vishwash Kumar Ramesh regressava a casa depois de visitar a família no seu país natal, mas acabou o dia como a figura de uma história de tragédia em que é a única razão para alguns sorrisos, ainda que ténues.
O britânico é o único sobrevivente entre as 242 pessoas que seguiam a bordo do Air India 171, que se despenhou apenas alguns segundos após a descolagem, caindo numa zona residencial onde moram vários estudantes da Faculdade de Medicina Ahmedabad BJ - à hora do acidente decorria o almoço para muitos deles. A conta final dos mortos, essa ainda não se sabe, mas deverá ser superior aos 241 passageiros e tripulantes que seguiam a bordo de um avião onde também estavam sete portugueses.
O Boeing 787-8 Dreamliner teve de utilizar toda a pista do aeroporto para conseguir descolar, o que já indica de si só que algo poderia não estar bem. Depois, e segundo o único sobrevivente a bordo, “ouviu-se um ruído muito forte”.
A tripulação ainda emitiu um alerta (mayday) para terra, mas o contacto já não voltou. “Não houve resposta dada pelo avião após as chamadas feitas pela torre de controlo”, confirmou o regulador de aviação da Índia.
Tão calmamente como tinha subido, o avião voltou a descer, quase que de forma serena, até ao seu destino final: um bloco de apartamentos que ficou totalmente destruído. Lá dentro, além de quem vivia, passava a estar um avião e os 241 ocupantes que não se conseguiram salvar. O único som era o de milhares de litros de combustível de avião a queimar, o que tornou impossível, segundo as autoridades, o resgate de quem quer que fosse.
"Havia cerca de 125 mil litros de combustível no avião. A temperatura também era muito elevada. Por isso, não havia hipótese de salvar ninguém", afirmou o ministro do Interior, Amit Shah, em declarações aos jornalistas.
Dentro do avião encontraram-se bocados de corpos, incluindo pessoas que até ainda tinham o cinto posto, mas já fundido com as roupas e a pele, de tão violento que era o calor no local daquilo a que o partido BJP, que governa a Índia, já descreveu como uma “tragédia nacional”.
“Não é apenas uma tragédia da aviação, é uma tragédia nacional. É uma perda nacional e um país inteiro a chorar”, referiu Javieer Shergill, porta-voz do partido que governa o país mais populoso do mundo.
“Índia, Inglaterra, Portugal e Canadá estão juntos nesta hora de luto”, acrescentou, garantindo uma investigação pronta a um acidente que volta a envolver o nome da Boeing, desta vez num modelo de avião que ainda não tinha dado problemas de maior.

Esta “tragédia” é o maior acidente de aviação numa década, até porque o mais provável é que o número suba bem para lá dos 241 mortos já confirmados pela Air India. Para encontrar paralelo temos de nos lembrar do míssil lançado por separatistas pró-russos que fez cair o avião da Malaysian Airlines no Donbass em 2014.
Os dois fazem parte de uma lista negra com os piores desastres aéreos do século, mas também se juntam às maiores tragédias da aviação de sempre. Lá em cima, claro, o dia 11 de Setembro, nomeadamente os aviões que atingiram as Torres Gémeas.
Vishwash Kumar Ramesh disse aos jornais indianos que não sabe como é que está vivo. Talvez por isso todos falam no milagre do passageiro do 11A.