A Rússia está a aprender com os fracassos no norte da Ucrânia: o que mudou nesta nova fase da guerra

CNN , Zachary Cohen, Michael Conte e Barbara Starr
19 abr 2022, 17:00
Tanques russos. Alexander Ermochenko/Reuters

Os EUA acreditam que a Rússia está a aprender com os fracassos no norte da Ucrânia - onde não tinha as capacidades adequadas para dar continuidade às operações militares - e está a aplicar as lições aprendidas ao seu novo ponto focal, no leste e no sul do país, segundo disse à CNN Internacional um alto funcionário da Defesa dos EUA.

“O que vimos nos últimos dias é que eles continuam a tentar criar condições”, disse o representante da Defesa num telefonema com os jornalistas, nesta segunda-feira. “Chamamos-lhe operação de reconfiguração."

“Parece que estão a tentar aprender com os fracassos a norte, onde não tiveram a capacidade adequada para a zona onde estavam prestes a operar”, disse-nos.

Este representante disse também que os EUA viram a Rússia mover a sua “artilharia pesada”, os “facilitadores de comando e controlo” e a “aviação, especialmente o apoio de helicópteros”, como parte dos 11 novos batalhões táticos que se mudaram para o leste e sul da Ucrânia “nos últimos dias”.

A Rússia está a reunir as tropas e parece perto de tomar a cidade portuária de Mariupol, no sudeste. A CNN informou na segunda-feira que o destino de Mariupol depende de um número desconhecido de defensores, cujo último reduto de resistência é uma fábrica de ferro e aço.

Na segunda-feira, ainda decorriam na cidade combates intensos, segundo Petro Andriushchenko, um conselheiro do presidente da Câmara da cidade.

Mais tarde, na segunda-feira, Andriy Yermak, chefe de gabinete do Presidente da Ucrânia, disse que a “segunda fase da guerra” tinha começado na região leste do Donbass, com sinais claros de uma ofensiva russa intensificada.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky confirmou que a batalha pelo Donbass começou num discurso em vídeo, na segunda-feira.

“As forças russas começaram a batalha pelo Donbass, para a qual se estão a preparar há muito tempo, e um número considerável de soldados russos está concentrado e focado nesse ataque”, disse Zelensky.

Ele sublinhou que as forças ucranianas continuarão a lutar contra a invasão russa da região.

“Não importa quantos soldados russos eles levem para aquela zona. Continuaremos a lutar por ela e a defendê-la, e faremos isso diariamente. Não vamos desistir de nada que seja ucraniano, mas não precisamos de nada que não seja nosso”, disse Zelensky.

"Agradeço a todos os nossos guerreiros, aos nossos soldados, às nossas cidades heroicas e às cidades da região que estão a resistir e a manter-se firmes”, disse ele.

A operação desarticulada - e às vezes caótica - da Rússia no norte da Ucrânia foi bem documentada e os fracassos militares iniciais foram uma surpresa para as autoridades americanas e ocidentais.

Desde que a Rússia lançou o ataque à Ucrânia, a 24 de fevereiro, tem bombardeado cidades ucranianas com mísseis e artilharia, destruindo edifícios de apartamentos, hospitais e escolas, e matando um grande número de civis. Mas a invasão terrestre está em grande parte paralisada e Moscovo não conseguiu tomar as principais cidades, incluindo Kiev, devido à forte resistência dos ucranianos e ao que altos funcionários da Defesa descreveram como “erros táticos”.

Rússia centrada no leste e no sul

Os EUA estimam que a Rússia tenha adicionado 11 batalhões táticos (BTG) às suas forças no leste e no sul, desde o final da semana passada, de acordo com o alto funcionário da Defesa dos EUA, elevando o número total de BTG da Rússia para 76.

“Aumentaram a sua capacidade dentro da Ucrânia”, disse o mesmo funcionário.

Também disse que todas as forças terrestres russas estão neste momento concentradas no leste e no sul da Ucrânia, mas os EUA não conseguem identificar exatamente como estão destacados os novos batalhões táticos.

Em preparação para um novo tipo de combate nas planícies abertas do sudeste da Ucrânia, junto à Rússia, os EUA estão a fornecer a Kiev as capacidades de grande potência que, ainda há algumas semanas, alguns membros da Administração Biden consideravam representar um risco de intensificação do conflito.

O novo pacote de armas de 800 milhões de dólares é o sinal mais forte, até agora, de que a guerra na Ucrânia está a mudar e, com isso, mudam as armas de que a Ucrânia precisará, se quiser continuar a travar um exército russo que se reagrupou e reabasteceu após os fracassos iniciais nas primeiras semanas da guerra.

A Administração Biden anunciou que o novo pacote incluía 11 helicópteros Mi-17 que se destinavam inicialmente ao Afeganistão, 18 canhões Howitzer de 155 mm e mais 300 drones Switchblade, além de sistemas de radar capazes de rastrear os ataques e identificar a sua origem.

Este pacote destaca-se dos anteriores pacotes de apoio, em parte porque esta parcela inclui armamento mais sofisticado e mais pesado do que os envios anteriores.

Um representante do governo dos EUA disse à CNN, na semana passada, que tudo isto foi planeado, argumentando que, como a Rússia não conseguiu capturar Kiev e mudou de estratégia para concentrar forças no leste da Ucrânia, os EUA estão a mudar a sua própria estratégia em termos do que providenciam à Ucrânia.

“As características do que precisam são muito diferentes”, disse o funcionário do governo norte-americano.

Vários dos sistemas de armamento são complexos e o Pentágono já veio dizer que será preciso treinar os ucranianos, fora do país, tal como aconteceu antes com os drones Switchblade.

O representante da Defesa diz que o treino dos Howitzers começará “nos próximos dias”.

“Tentaremos criar oportunidades para que um pequeno número de ucranianos se familiarizem com estes sistemas”, disse o Secretário de Imprensa do Pentágono, John Kirby, em conferência de imprensa, na semana passada, “mas não acreditamos que seja uma tarefa penosa ou demorada, em termos de tempo ou de recursos.”

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