Uma casa a preço de saldo numa bela cidade — com empregada de limpeza e um ajudante incluídos — seria motivo suficiente para muitas pessoas darem o salto para Itália, mas o norte-americano Keith Richardson tinha mais um requisito essencial.
A propriedade onde pretendia começar a sua nova vida não podia estar, de forma alguma, perto de um McDonald’s ou Starbucks, para ele dois símbolos do mundo comercializado que tentava deixar para trás nos EUA.
Depois de escolher Puglia, a região maioritariamente rural que se estende até ao calcanhar da bota italiana, após pesquisar propriedades online, um amigo expatriado apresentou-o a um consultor imobiliário americano que vivia na zona, que o encaminhou para Nardò, uma tranquila cidade a poucos quilómetros da costa.
“Dei-lhe uma lista de casas de que gostava,” disse Richardson, que trabalhava no sistema educativo dos EUA, à CNN. “Ela sugeriu incluir Nardò porque lhe disse que não queria estar perto de um McDonald’s ou Starbucks.”
E, após algumas negociações astutas com ofertas baixas, o homem conseguiu a propriedade onde espera passar o resto da sua reforma por apenas um décimo do custo de uma propriedade semelhante na sua terra natal, no sul da Califórnia.
“A casa estava à venda por 138.000 euros, mas negociei e paguei 100.000 euros. Investi mais 3.800 euros para a remodelar ao meu gosto e dar-lhe um aspeto renovado,” conta à CNN.
“Foi uma surpresa muito agradável. Estava disposto a pagar mais, mas comecei por oferecer 100.000 euros para ver se os vendedores fariam uma contraoferta.”
Não fizeram.
A casa de 62 metros quadrados que comprou é uma habitação com dois quartos e duas casas de banho, situada no rés-do-chão do que originalmente eram armazéns ou alojamentos para os empregados que trabalhavam no Palazzo Tafuri, um dos marcos de Nardò.
A habitação é construída com os típicos blocos de pedra rosa-dourada de Puglia. Incluía uma lareira, três tetos abobadados, paredes de calcário e tinha sido completamente renovada pelos proprietários originais.
A única grande adição de Richardson foi um telhado permanente sobre o pátio e telas de privacidade em bambu, resistentes e duradouras. Um preço muito pequeno a pagar, refere, considerando o excelente valor que a casa representa.
“As casas no sul da Califórnia, a menos de cinco quilómetros da costa, numa área tão desejada, custariam entre 700.000 e 1,4 milhões de dólares,” aponta.
As maldivas da Itália
Nardò fica fora dos roteiros habituais, longe das multidões e desconhecida até para muitos italianos. Situada no coração da imaculada região de Salento, em Puglia, está próxima das “Maldivas de Itália”, que tem algumas das melhores praias do país com um estilo tropical. Richardson diz que é o local perfeito para absorver a atmosfera marítima enquanto se desfruta de uma vida menos agitada e mais despreocupada.
“Puglia é, sem dúvida, o sítio ideal para viver e investir, se procuras aquele estilo de vida costeiro à dolce vita,” afirma.
“Apaixonei-me pelo estilo de vida italiano e pela atitude do ‘amanhã’. Não há necessidade de preocupações, porque há sempre o amanhã. Sem stresses, tudo se resolve amanhã, por isso, por agora, vamos só tomar um café e ver as pessoas a passear.”
Outros pontos positivos foram a acessibilidade financeira e o custo de vida mais baixo em comparação com os EUA, os produtos frescos sem químicos à venda nas lojas locais, e as deslumbrantes costas e olivais.
“Lembra-me o sul da Califórnia nos anos 60,” acrescenta Richardson. “Lembro-me, em criança, de passar por pomares de laranjeiras a caminho da Disneylândia, Riverside, Santa Bárbara.”
Diz que o seu amor por Itália teve origem na paixão por aprender línguas — lecionou espanhol durante vários anos numa universidade antes de trabalhar na administração.
Richardson reformou-se como diretor de investigação e currículo num agrupamento escolar nos subúrbios de Los Angeles em 2015 e, mais tarde, começou a viajar para Itália duas vezes por ano, explorando de carro alugado com amigos e apaixonando-se pelo estilo de vida do país e pelo que chama de “franqueza” dos locais.
Em 2023, começou a procurar casa e restringiu a busca a Puglia, escolhendo eventualmente Nardò pelo seu carácter pouco turístico — e pela ausência de cadeias de fast food americanas.
Sublinha que queria um lugar onde tudo fosse autêntico e “local”, sem qualquer ligação ao turismo de massas ou a grandes marcas. Puglia era a escolha óbvia: “Praias e costas magníficas, cidades e vilas pitorescas, ótimo clima (mesmo no inverno), e sem a enchente de turistas que se encontra pela Toscana, Veneza, Milão e Roma. Na verdade, a maioria dos turistas tendia a ser italianos ou outros europeus. Genuína dolce vita.”
Após quase um ano a pesquisar, em março de 2024 voou desde o condado de Orange e, em poucos dias, comprou a casa dos seus sonhos no centro histórico de Nardò, rodeada por igrejas majestosas e palácios pitorescos.
Um estilo de vida diferente
Parte da atração da propriedade foi a sua proximidade com a principal Piazza Salandra, ladeada por terraços de cafés. Outro ponto positivo foi o facto de estar localizada no rés-do-chão, com um pátio, sem escadas — as propriedades mais antigas nos centros históricos de Itália costumam estar distribuídas por vários andares, com escadas estreitas e íngremes que são difíceis de navegar com compras ou outros itens.
Richardson atualmente vai e vem entre a Califórnia do Sul e Nardò, mas planeia, assim que obtiver o visto, passar mais tempo em Itália, embora não de forma permanente, pelo menos no início. "Os meus pais ainda estão vivos e eu quero muito passar vários meses do ano perto deles", nos Estados Unidos, acrescenta.
Planeia também pedir um visto de residência eletiva em maio de 2025, que exige um rendimento mínimo de pensão. Nessa altura, terá de "entregar" o seu passaporte ao Consulado Italiano em Los Angeles por três meses para processamento e aprovação do visto.
Em Nardò, adora o ambiente de cidade pequena e gosta de viver choques culturais enquanto se adapta aos modos de vida locais. Richardson agora passa os seus dias em Itália a visitar aldeias próximas, a beber café de manhã nos muitos bares e a saborear pratos locais nas trattorias de Nardò, onde os turistas estrangeiros são uma visão rara.
A adaptação ao estilo de vida italiano, no entanto, nem sempre foi fácil. Particularmente quando se trata de trocas conversacionais diretas.
"Várias pessoas realmente disseram que não estão a ser rudes, mas a tentar poupar-me tempo e dinheiro" ao tratar de questões burocráticas.
Ele também diz que demorou algum tempo a adaptar-se aos horários de encerramento locais — com as lojas a fecharem a meio do dia.
"Eu ainda não me acostumei a lojas fecharem e abrirem quando o proprietário se sente 'pronto'. Agora simplesmente ignoro, vou beber um café e relaxo. Faz parte da dolce vita."
O caminho de Richardson para uma nova vida no sul de Itália também parece ter evitado muitas das armadilhas burocráticas das quais algumas pessoas se queixam ao mudarem para o país.
O processo de compra de uma casa foi "muito fácil", diz.
"As histórias de horror só existem porque a maioria das pessoas não faz o trabalho de casa. Antes de comprar, o consultor mobiliário e os meus amigos falaram-me sobre a necessidade de um codice fiscale (número de identificação fiscal). Quando cheguei a Itália, disseram-me onde ir para obter um número italiano, que também é obrigatório."
A agência imobiliária em Nardò ajudou-o a obter uma conta bancária, o que acabou por ser mais difícil e demorado do que comprar a casa.
"Os bancos precisam do SSN (número de segurança social) ou do código fiscal federal, ou ambos. O processo demorou cerca de três horas, mas até hoje sou saudado com sorrisos pela pessoa que configurou a minha conta."
"Sinceros e genuínos"
A agência imobiliária também lhe arranjou uma empregada doméstica que vem regularmente limpar a sua casa e mantém contacto com ele. O namorado dela, que trabalha na construção civil, tornou-se o seu "faz-tudo", resolvendo quaisquer problemas que surjam na casa enquanto Richardson está fora.
Um grande problema para Richardson tem sido o facto de não ser permitido comprar um carro em Itália antes de adquirir o cartão de residência.
“Eu realmente não consigo perceber essa parte da lei italiana”, diz. Enquanto isso, está a andar de bicicleta elétrica e a guiar carros alugados.
Quando se mudar permanentemente para a Puglia, Richardson diz que vai arrendar a sua casa no Sul da Califórnia ao seu irmão gémeo, para ter sempre um lugar onde ficar quando visitar os Estados Unidos.
Richardson está também ansioso para aproveitar os invernos amenos da Puglia, os vastos olivais, as cidades e aldeias pitorescas, a beleza arquitectónica e a incrível gastronomia.
“Se ainda não experimentaste uma bombetta, não viveste!”, diz ele. Estas são uma das receitas e petiscos icónicos da Puglia: almôndegas de carne de porco frescas recheadas com queijo e pimenta.
Acima de tudo, diz que foi conquistado pela simpatia das pessoas, que são “genuínas e sinceras” e que se cuidam umas às outras.
“Adoro o facto de, na minha pequena rua em forma de L, haver um típico 'alarme italiano e vigilância de bairro'. É um homem idoso que vive na curva da rua. Ele está lá todos os dias de manhã a investigar e a cumprimentar toda a gente durante o dia. Ele fala e observa o homem da entrega de gás e os trabalhadores da construção.”