"Estavam lá uns 30 argelinos cheios de bombas artesanais": esta operação policial em Lisboa foi partilhada na Internet, mas nunca existiu

28 ago, 23:40

"Estavam lá uns 30 argelinos cheios de bombas artesanais": esta operação policial em Lisboa foi partilhada na internet, mas nunca existiu

PSP alerta para notícias falsas que circulam nas redes sociais. Nas últimas duas semanas já desconstruiu seis casos de desinformação

A PSP tem vindo a identificar e receber alertas de cidadãos e de órgãos de comunicação social sobre a propagação de informações falsas, nomeadamente através de publicações nas redes sociais. “Nas últimas duas semanas, a PSP sentiu a necessidade de desconstruir seis casos de desinformação”, revela a comissária Patrícia Firmino à CNN Portugal. 

Os casos mais recentes, divulgados na página de facebook da PSP, envolvem alegações de crimes cometidos por imigrantes, que têm gerado “alarme social”. Um dos casos que motivou esta campanha envolveu uma “notícia” partilhada na rede social X que relata uma suposta “operação policial” no Braço de Prata, em Lisboa, junto ao quartel da GNR, onde teriam sido encontrados “30 argelinos com bombas artesanais”. 

Este caso “deu mais trabalho do que o normal”, assume Patrícia Firmino, por ter sido “o caso que criou mais alarme social e sentimento de insegurança entre as pessoas”.

O autor da denúncia criticava ainda a comunicação social por “ficar calada”, sobretudo “quando o Chega quer fazer um referendo da imigração”. Esta alegada operação foi prontamente desmentida pela PSP, que reforçou no comunicado a necessidade de desconstruir desinformações que “relatam factos que não ocorreram ou alteram a versão original dos mesmos, tornando-os exacerbados, e potenciam o alarme social, gerando um sentimento de insegurança na população”.

Outro caso abordado pela PSP, envolvia um alegado crime de rapto e agressão física cometido a 15 de agosto num parque infantil da cidade de Loures. A publicação afirmava que “três indostânicos” tentaram raptar uma criança de quatro anos e agrediram o pai quando este se aproximou.  

Juntamente com o extenso texto, o post incluía imagens que supostamente ilustravam as agressões: um olho vermelho, arranhões e uma mão ferida. “Não sabemos sequer se essas fotos correspondem a quem deu origem à notícia”, esclarece Patrícia Firmino, acrescentando que “nem sequer houve uma ocorrência na génese”, “foi tudo inventado”. 

A alegada vítima ainda acrescentou que, ao tentar apresentar queixa na esquadra local, foi “aconselhada a não o fazer porque não resultaria em nada, por se tratar de imigrantes”. O post terminava de forma irónica: “Está tudo bem neste país”. 

Após comprovar que o relato era falso, a PSP apelou no X para que os utilizadores de redes sociais sejam cuidadosos ao partilhar tais acusações, “evitando a criação de um alarme social infundado”. 

Quando a PSP desmente essas histórias falsas, “os cidadãos ficam mais tranquilos”, admite Patrícia Firmino. E também gera “mais partilhas, especialmente críticas aos autores das publicações”.

Esses dois casos, segundo a PSP, eram completamente inventados. No entanto, nem todas as ‘fake news’ são fabricadas do zero. Muitas vezes, conforme explica a comissária, são “descontextualizadas de situações reais”. 

Por exemplo, a 11 de agosto, foi divulgado um vídeo que mostra um indivíduo a acelerar em direção a uma multidão na Quinta do Mocho, Loures, durante uma festa religiosa com cerca de 800 pessoas. “O vídeo sugeria que o objetivo era atropelar as pessoas”, conta Firmino. No entanto, dois dias depois, o condutor apresentou queixa por agressão, explicando que tinha uma criança no carro e, ao sentir-se ameaçado, agiu de forma brusca para sair do local. A responsável da PSP utiliza este exemplo para ilustrar como uma ‘fake news’ pode ser uma versão alterada e descontextualizada de eventos reais.

Na sua campanha contra a desinformação, a PSP oferece algumas recomendações para que os cidadãos possam verificar a veracidade das informações. A principal sugestão é avaliar a fonte e, "caso o emissor inicial não seja identificável, suspeite da veracidade da informação", além de verificar o autor e a data de publicação.

A comissária Patrícia Firmino garante que a PSP está disponível para esclarecer dúvidas e apela aos cidadãos que reflitam sobre a veracidade das notícias antes de as partilharem nas redes sociais.

Relacionados

País

Mais País

Patrocinados