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Quer ajudar a tornar a saúde mental das crianças e jovens uma solução e não um problema?

10 out 2022, 10:00

Cada um de nós, adultos, temos um papel vital, e um dever vitalício, em construir e proporcionar experiências de vida positivas para as crianças e jovens para que estes possam florescer e superar-se a si próprios. Esta não é uma responsabilidade isolada, de uma só pessoa ou educador. Quando toda uma sociedade e as suas políticas se organizam coletivamente neste sentido, crianças e jovens tornam-se o símbolo da esperança, hoje, e tornar-se-ão adultos participantes ativos úteis à sociedade, amanhã. Quando as crianças se superam, as sociedades também se superam.

A disponibilidade dos pais/cuidadores/educadores para a interação, comunicação e partilha com os seus filhos/educandos, os períodos de tempo a eles dedicados, exclusivos e genuínos, a própria disciplina e a forma de disciplinar são um mecanismo de ensinar e aprender a lidar de forma mais positiva com as suas emoções, a ter mais autocontrolo e a sentirem-se mais auto-eficazes. São, ainda, um redutor de problemas de comportamento, desde cedo. Na soma das diferentes partes, são oportunidades de desenvolvimento pleno que lhes estaremos a proporcionar!

A capacidade de proporcionarmos e replicarmos experiências psicologicamente saudáveis e promotoras de bem-estar para os mais novos traz benefícios únicos para todo o seu/nosso tempo de vida! Quais? A ciência psicológica diz-nos que gera vidas mais saudáveis e mais longas, melhora o funcionamento intelectual, a inteligência e as emoções, aumenta os níveis de escolaridade atingidos, aumenta a realização pessoal com o trabalho futuro, e traduz-se em relacionamentos e vidas mais felizes enquanto adultos. Escusado será dizer que, para a sociedade, a redução dos custos sociais e económicos, a diminuição das iniquidades e a “quebra” dos ciclos de desvantagem entre gerações, o aumento da produtividade e a convivência com cidadãos mais saudáveis e mais felizes não têm preço!

Qualquer tempo é tempo de começar! Começar já! Antes que se multipliquem indicadores e relatórios sobre o aumento dos problemas de saúde mental na infância e adolescência. Os adultos e as relações positivas que podem ter com os mais novos são um excelente escudo protetor e, ao mesmo tempo, ajudam a um desenvolvimento adulto saudável e próspero.

Vamos tornar a saúde mental das crianças e jovens uma solução crescente e não um problema crescente!

Uma saúde mental jovem empobrecida é mais do que este sentir-se em baixo ou desanimada/o. Afeta todas as áreas de vida e a própria capacidade para tomar decisões que lhe sejam favoráveis. A boa notícia é que as crianças e jovens são resilientes e têm uma plasticidade cerebral que lhes permite acomodar e ajustar às várias experiências. Sentirem-se “ligadas” com os adultos que mais apreciam é o link de que necessitam para se sentirem apoiadas e saudáveis. As mesmas estratégias que promovem a saúde mental são também as que ajudam a prevenir experiências negativas e a doença mental.

Estratégias? Elenco algumas delas, para os pais/cuidadores/educadores:

- Comuniquemos de forma aberta e honesta sobre sentimentos, pensamentos e valores. Na minha experiência de trabalho com famílias escutava muitas vezes: “O meu filho não me conta nada; não fala nada sobre si ou sobre o seu dia!”. Perguntava-lhe então se também eles, enquanto adultos, relatavam o seu dia ao sabor da célebre pergunta “como correu o teu dia? O que fizeste?”, se foram capazes de exprimir o que sentiram durante o dia, de forma honesta. As crianças e os jovens gostam da reciprocidade. Precisam da reciprocidade e aprendem com o exemplo dos adultos. Demos nós o exemplo!

- Passemos tempo com as nossas crianças e adolescentes, partilhando conjuntamente atividades que nos deem prazer. Um tempo de brincar, um tempo de jogar, passear, cozinhar, ler um livro em conjunto é um tempo de exclusividade que vai deixar a criança/jovem sentir-se importante e apreciada/o por aqueles que mais ama. E assim aprende a gostar de si! Sente-se valorizada/o nos seus gostos, personalidade e modo de agir, e mais confiante para as relações com os outros. Recordo-me bem de aproveitar as longas viagens de carro no meio do trânsito para levar as minhas filhas à escola, para jogar ao STOP, explicando a diferença entre cooperação e competitividade enquanto se arreliavam. Ou, simplesmente a conversar sobre as suas vidas na escola. Era assim, num momento já bem relaxado e no meio da espontaneidade que surgiam as perguntas da do meio sobre namorados!

- Acompanhemos as nossas crianças e adolescentes. Supervisionemos as suas atividades e ajudemos nas tomadas de decisão do dia-a-dia, já que treinar nessas pequenas escolhas fomenta a capacidade de tomar decisões mais relevantes e significativas no futuro. A tomada de decisão é uma capacidade que precisa de ser ensinada e treinada. Ajudá-los a criar hipóteses, a analisar outras perspetivas, estudar alternativas em conjunto, refletir sobre possíveis consequências, e ensaiar diferentes soluções, são uma forma de os ajudarmos a tomar boas decisões para o futuro. O controle emocional e dos impulsos faz aqui toda a diferença, daí que desde cedo permitir que a criança escolha entre duas ou mais peças de roupa todas as manhãs estimula o autocontrolo e desenvolve o sentido de competência e eficácia pessoal. Daí até decidirem sobre o seu curso, a gestão das suas finanças ou sobre a vida a dois, será apenas mais um passo.

- Participemos nas tomadas de decisão da escola, que dizem respeito aos nossos filhos/educandos. Envolvamo-nos e acompanhemos as suas atividades e os trabalhos de casa, de projeto ou de grupo. Sejamos voluntários sempre que pudermos, e comuniquemos regularmente com os professores, outros pais e a direção da escola. À medida que chega a adolescência, muitos pais/cuidadores queixam-se que os seus filhos evitam o beijo ou o abraço, e que não os querem junto dos auxiliares ou professores, muito menos em conversa. Mas, na hora H, não deixam de apreciar a conversa tida com o DT, a ida à reunião de pais da sala, ou aquela vez em que fomos assistir ao torneio de futebol, ou participamos na formação para pais-sobre-comunicar-eficazmente-com-o-seu-adolescente. E depois de todas as “proibições de afeto decretadas” à porta da escola, em casa e “às escondidas” é bem possível que o adolescente se sente ao seu colo.

Hoje, 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, reforço: vamos tornar a saúde mental das crianças e jovens uma solução crescente! Usemos a Psicologia não para tratar a ausência de saúde, mas para apoiar o florescimento e superação das gerações mais novas, tal qual um vaso novo nas mãos do oleiro.

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