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Diretor da CNN Portugal

Rio abaixo Rio acima

29 nov 2021, 07:00

Num disco antigo de Rui Veloso, ali do início dos anos 80 do século passado, havia uma canção – simbólica na época por causa da eventual construção de uma central nuclear que nunca aconteceu – onde se ouvia a certa altura “rio abaixo rio acima”. O rio era o Douro e lembrei-me da estrofe porque, nas últimas semanas, Rui Rio foi do inferno ao céu na visão de muitos que o davam como perdido, entre reluzentes companheiros de partido, qualificados analistas e destacados adversários políticos. O facto é que o líder está onde os militantes o querem e onde ele próprio acha que deve estar. Habituem-se.

Rio, tido como desqualificado e pouco competente, passou, num ápice, a ser um fortíssimo candidato à liderança do governo. Afinal ganhou três eleições internas, resistiu quatro anos como líder da oposição, o mais difícil dos lugares, e tem experiência executiva consistente na segunda maior autarquia do país.

Rui Rio em poucas horas deixou de ser o simpático adversário que António Costa queria para se transformar num temível oponente, “picado” e, como o próprio disse, quando está “picado” tudo muda de figura. Até as sondagens, que o Presidente do PSD despreza e verbera, o colocam agora num empate técnico com o primeiro ministro e líder do PS.     

A ver se nos entendemos. Rui Rio mostrou consistência. Não transigiu. Resistiu, firme, ao ataque do baronato laranja, da “imprensa de Lisboa”, dos sindicatos organizados das redes sociais. Foi tão teimoso como sempre e talvez os militantes “de base”, que elogiou com justiça e os portugueses em geral, apreciem uma pessoa com princípios quando os políticos passam a vida a dizer tudo e, sobretudo, o seu contrário.

O grande desafio de Rui Rio é ser diferente. Explicar com clareza um conjunto de ideias e caminhos para o país, distinguir-se da matriz, não apenas desgastada, mas pouco sustentada, até ideologicamente, do Partido Socialista. O PSD como muleta de um governo de António Costa pode ser necessário, mas não esperemos reformas, mudanças, esperança para as novas gerações.

Em quatro anos, como chefe da oposição Rui Rio foi frouxo e nunca se afirmou. É agora ou nunca.

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