Rangel: "Rio está de braços abertos para um compromisso com o país, mas não para o partido"

Paula Caeiro Varela , com Lusa
7 dez 2021, 23:49
Rui Rio (PSD/João Pedro Domingos)

Candidato derrotado nas eleições para a liderança do PSD considera, no entanto, que as eleições foram "muito favoráveis" ao PSD

“Um mau sinal para o país” .Foi assim que o adversário de Rui Rio nas diretas classificou a atuação do presidente do PSD no processo de elaboração das listas.

Segundo relatos de conselheiros presentes na sala, Paulo Rangel afirmou que há sempre divergências nos partidos, mas considerou que “não houve esforço para unidade”.

Muito crítico, Paulo Rangel acusou Rui Rio de ter os braços abertos para um compromisso com o país mas não com o seu partido, e contestou o discurso sobre a lealdade, dizendo que “não estamos num exercício de moral, mas num exercício político”.

“Ditadorzeco de terceira categoria”. O tom das críticas a Rui Rio no arranque do Conselho Nacional do PSD

Um ambiente de “western”, no momento em que, antes de um duelo, os contendores têm as mãos no gatilho, à espera do tempo certo para disparar.

A imagem é de um conselheiro nacional, para descrever os momentos iniciais da reunião do PSD para discutir as listas de deputados à Assembleia da República. 

Só que é de noite, e em Évora, numa sala de hotel. Os tiros não se fizeram esperar.

Segundo relatos feitos à CNN Portugal, a forma como vários presidentes das distritais foram tratados mereceu intervenções acesas por parte de alguns conselheiros. Bruno Vitorino, ex-presidente da distrital de Setúbal, considerou que o processo foi “uma vergonha” e acusou o presidente do partido de ter “tiques de ditadorzeco de terceira categoria.

Paulo Leitão, presidente da distrital de Coimbra e apoiante de Paulo Rangel nas diretas, teve uma intervenção também crítica, considerando  que é “uma honra estar excluído das listas” porque esses têm “futuro político”. 

Paulo Leitão é um dos presidentes de distritais que foram excluídos pela direção nacional, a par de Cristovão Norte, em Faro, e de Pedro Alves, em Viseu. 

No Porto, Alberto Machado, presidente da distrital, que também apoiou Paulo Rangel nas diretas, vem no último lugar da lista do distrito, num sinal que é interpretado por vários conselheiros como uma “humilhação”.

Vários conselheiros, incluindo apoiantes de Rui Rio, confirmam que o ambiente na sala do conselho nacional é de grande tensão.

Presidente da distrital de Faro acusa Rio de "punir" quem não o apoiou

O presidente da distrital de Faro do PSD, Cristóvão Norte, acusou a Comissão Política Nacional do partido de “punir” quem não apoiou Rui Rio nas diretas, com os cabeças de lista já conhecidos às legislativas.

“Eu não sou um dos descontentes com as listas. Eu sou um militante do PSD que entende que a Comissão Política Nacional (CPN) acaba de esbanjar uma oportunidade” para “garantir que o PSD concorra unido nas próximas eleições legislativas e, dessa forma, aglutinar a simpatia do país”, afirmou o social-democrata.

Cristóvão Norte, que, ao contrário de 2019, não vai ser o cabeça de lista por Faro, visto que o escolhido pelo presidente do partido foi o ex-presidente da Câmara de Vila Real de Santo António Luís Gomes, falava aos jornalistas à entrada para o Conselho Nacional, que decorre em Évora.

“A direção nacional optou, de forma clara, por punir aqueles que não apoiaram o líder do partido e isso vai contra aquilo que é o espólio do PSD”, criticou.

O PSD “é um partido de liberdade, de grande pluralidade, uma federação de correntes e em que homens e mulheres livres, ao contrário do que se verifica no PS, gostam de criticar quando devem criticar e gostam de convergir quando devem convergir”, continuou.

Cristóvão Norte disse lamentar “a circunstância de as listas que o PSD vai apresentar” às legislativas de 30 de janeiro “não exprimirem a diversidade do partido” e “não terem a capacidade de ultrapassar os limites” do partido, “congregando grandes figuras da vida política, social e económica” do país.

Após a campanha para as diretas social-democratas, que foi “viva, serena” e “em que o partido e o seu líder saíram reforçados”, o PSD “perde hoje essa oportunidade soberana de garantir uma unidade na diversidade”, argumentou Cristóvão Norte, que apoiou Paulo Rangel no processo em que Rui Rio foi reeleito presidente.

O PSD, destacou, “não é um partido de ‘yes men’. O PSD sempre foi um partido de gente livre e aberta”, defendeu.

Questionado pelos jornalistas sobre se acredita que, no Conselho Nacional desta noite, possam ser chumbadas as listas para as legislativas, o presidente da distrital de Faro disse não o esperar: “Não creio que seja um propósito dos conselheiros nacionais chumbarem as listas que a CPN apresenta”.

“Creio, todavia, que essas listas são motivo de sobressalto cívico”, contrapôs, defendendo que, “quando o PSD é mais fraco e menos capaz de interpretar a sua pluralidade e as necessidades da sociedade, o país também é indesejavelmente mais fraco”.

Antes do arranque do Conselho Nacional e ainda com poucos social-democratas presentes na unidade hoteleira para onde foi marcado, no exterior, Cristóvão Norte teve um desentendimento com outro participante, que envolveu empurrões.

Rui Rio acusado de ser o “autor” do Chega, da Aliança e da Iniciativa Liberal

“Já fizeste três partidos: a Aliança, o Chega e a IL; agora espero que não estejas a fazer o partido do Rui Rio”.  As palavras foram de Pedro Pinto, um “histórico” do PSD no parlamento, que já não vai voltar a ser deputado e que foi muito crítico do facto de Alberto Machado ir em último lugar pelo distrito do Porto.

O secretário-geral do PSD, José Silvano interveio para justificar que falou com o presidente da distrital e que este mostrou disponibilidade para ir no lugar que o presidente entendesse.

Cristovão Norte, de Faro,  também voltou ao ataque, segundo os relatos feitos à CNN: considerou que estas listas são  “elogio à mediocridade” e disse esperar que Rui Rio não faça o mesmo na escolha de membros do governo.

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