opinião

Em busca da governabilidade perdida

28 jan 2022, 08:36

Durante este mês de campanha eleitoral, apelei sempre à racionalidade e bom senso de quem me escutava na CNN. Não é por se ganhar um debate que se ganham eleições. Não é por ter uma arruada plena de gente que se ganham eleições. Não é por ter sondagens que dão determinada vantagem a um partido que se ganham eleições. Cada caso que enunciei é apenas a ponta de um processo dinâmico que se chama campanha eleitoral. É na soma de todas estas peças que se constrói um puzzle conducente a um bom resultado nas urnas.

E a dois dias das eleições é imprevisível o desfecho final entre PS e PSD, mas também como vão ficar escalonadas as restantes forças em presença. Está tudo em aberto. É uma caldeirada difícil de temperar se não houver um resultado clarificador e assim o eixo do centro político poderá passar de São Bento para Belém.

Porque o tema substancial desta caminhada foi a governabilidade, ou antes, o “proustiano” em busca da governabilidade perdida. O melhor desta campanha terão sido os debates, pois com nove partidos na liça, todos os segmentos de eleitorado da esquerda e direita foram tocados e os portugueses aderiram pois as audiências televisivas estiveram ao nível das transmissões de futebol que habitualmente lideram esses rankings. E os debates, ao contrário do que espumaram algumas almas penadas nas redes sociais, na sua grande maioria foram bons.

O pior foi o desfocar da política com a entrada em cena de “bicheza” da qual o porta-aviões foi o “Zé Albino”. O humor é interessante mas consubstanciado no vazio torna-se um logro e as encenações no século XXI tornam-se vãs. E com tanto animal à solta no Twitter corria-se o risco da “persona”do candidato passar para segundo plano o que constituiria um perigoso teatro de sombras.

O que esteve a menos foi não se falar de educação e cultura e sem ambas desenvolvidas teremos sempre um país pobre e tacanho mais perto da indigência moral que é muito mais grave que a indigência dos bolsos vazios. E o que esteve a mais, sobretudo nesta última semana, foram os comícios e arruadas quando temos mais de 65 mil novos casos de Covid e somos dos piores países do mundo em novas infecções. Seria útil alguma contenção dos responsáveis políticos para não parecerem hipócritas quando exigem cuidados e distanciamento social à comunidade.

Se não houver o tal cenário que proporcione um governo estável e duradouro, necessário para as reformas que Portugal precisa de realizar para não se tornar numa nova Albânia de Enver Hoxha, a vacina da dita governabilidade pode estar em Belém. Será o momento político de Marcelo Rebelo de Sousa e dependerá da sua capacidade de influência também o legado que deixará para a História. Só tenho uma certeza absoluta: não será tarefa fácil

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