Líder do PS defendeu que se ganhava mais se Luís Montenegro e os seus ministros fossem para o terreno e visitassem os bairros porque “este não é um tema menor”
O líder do PS acusou o Governo de se "esconder atrás do Presidente da República" para justificar a ausência de visitas aos bairros onde houve desacatos.
No final do dia que dedicou inteiramente a visitar bairros na Grande Lisboa, Pedro Nuno Santos foi questionado sobre a notícia da TSF segundo a qual o Presidente da República e o Governo decidiram conjuntamente que seria Marcelo Rebelo Sousa a visitar os bairros do Zambujal e da Cova da Moura, na Amadora, na sequência da morte de Odair Moniz.
“A cooperação entre o Governo, o primeiro-ministro e o senhor Presidente da República tem que existir e, obviamente, faz sentido conversarem, mas um Governo não se pode desculpar de não vir ao terreno com uma conversa, um acordo ou uma articulação com o senhor Presidente da República”, sustentou.
Para o secretário-geral do PS, “o Governo não se pode esconder atrás de um Presidente da República”. Apesar de valorizar a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Nuno defendeu que é “importante também que o Governo assuma as suas responsabilidades”.
“No final do dia quem tem mais recursos, mais meios para ajudar a promover a integração, a coesão é o Governo”, enfatizou.
De manhã, no final da visita ao Bairro do Zambujal, Pedro Nuno Santos já tinha criticado aquilo que identificou como um padrão que representa a ausência de Luís Montenegro do terreno.
“Há diferentes formas de estar na vida política. Uma delas é chamarmos aos nossos gabinetes representantes das associações que estão no terreno. Outra forma é ir ao terreno, não só reunir com as associações, mas ter contacto com as populações”, apontou.
Para o líder do PS, “são duas formas diferentes de estar na política e fazem toda a diferença” porque o trabalho enquanto políticos será mais bem feito quanto maior for “a capacidade de ouvir o outro”.
“Aparentemente, o Governo concertou com o senhor Presidente da República a vinda exclusivamente do senhor Presidente da República que, no quadro das suas competências, vai aonde entende e a sua presença é muito importante, mas isso não exclui a importância de quem tem o poder executivo também estar no terreno”, afirmou.
Pedro Nuno Santos defendeu que se ganhava mais se Luís Montenegro e os seus ministros fossem para o terreno e visitassem estes bairros porque “este não é um fenómeno lateral, não é um tema menor”.
“É um tema da máxima importância para a vida nas nossas áreas metropolitanas, era muito importante que os membros do Governo viessem ao terreno, conhecessem os bons exemplos, conhecessem aquilo que não corre bem para depois terem as políticas certas”, apontou.
"Sociedades seguras constroem-se com coesão, com igualdade"
O secretário-geral do PS recusou hoje que a solução para o problema da insegurança possa passar apenas pela via da repressão e defendeu a necessidade da integração e da coesão para a construção de uma sociedade segura.
Pedro Nuno Santos dedicou o dia a visitar bairros da zona da Grande Lisboa onde nas últimas semanas houve desacatos e terminou a sua agenda de hoje com a visita ao projeto “Gira no Bairro – uma esquadra aberta à comunidade”, que funciona na esquadra da PSP de Caxias, um momento no qual esteve acompanhado pelo presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais.
“Achar que resolvemos o problema da insegurança só pela via da repressão é não perceber nada de como é que se constroem sociedades seguras. Sociedades seguras constroem-se com coesão, com igualdade, com o combate à desigualdade”, defendeu, em declarações aos jornalistas no final da visita.
Para o líder do PS, este “foi um dia importante” para o partido porque durante as visitas que fez desde manhã cedo a diferentes estruturas dos bairros foi possível mostrar que o país constrói-se também com estas pessoas, integrando e não excluindo”.
O exemplo concreto deste projeto, segundo o líder do PS, evidencia que a segurança se constrói “não com dois polos que se oponham, mas construindo pontes entre a polícia e a comunidade”.
“Esta ligação, este diálogo entre a PSP e a comunidade é muito importante. Este é o exemplo que nós queremos replicar no país para que nestes bairros não se olhe para a polícia como adversários, mas como parceiros para assegurarmos a segurança”, defendeu.
Sem nunca dizer o nome do presidente do Chega, André Ventura, Pedro Nuno Santos não deixou passar em claro declarações daquele responsável político.
“Ouvia hoje o líder do partido de extrema-direita português criticando o PS e o senhor Presidente da República por termos visitado estes bairros como se nós estivéssemos a falar de pessoas que estão excluídas, que têm que estar afastadas, que não podem ter a visita de um político”, criticou.
O secretário-geral do PS lembrou que os homens que vivem nestes bairros construíram casas, hospitais ou escolas e que as mulheres que ali habitam “levantam-se às 05:00 para limpar os escritórios, os hospitais ou escolas”.
“Os autarcas, cada um à sua maneira, têm tentado dar as melhores repostas para fazer face a um fenómeno que o país nem sempre cuidou da melhor maneira”, disse, considerando “muito importante que a administração central assuma cada vez mais responsabilidades”.
Dando como exemplo alguns guetos que foram criados com a extinção das barracas, Pedro Nuno Santos apontou que “isso gera sentimento de exclusão, de abandono”.
“Nós hoje temos hoje uma perspetiva diferente e há municípios que se destacam nesse trabalho e nós queremos mostrar isso mesmo”, disse.
Ao lado de Isaltino Morais e pela mão de Ana Luísa Santos, da Associação Mundos de Papel e responsável pela coordenação deste projeto “Gira no Bairro”, Pedro Nuno Santos pôde ver o trabalho que é feito nestas instalações da PSP.
Desde aulas de músicas, passando por apoio ao estudo ou atividades desportivas, as crianças que integram este projeto têm acesso a um conjunto de atividades que os aproxima da polícia.
O jovem Ronaldo ficou tímido na hora de falar à frente de inúmeros microfones e, em voz baixa, disse que a perceção da polícia “mudou muito” e que antes “não tinha contacto com eles”.
“Críamos uma amizade”, respondeu a Pedro Nuno Santos.
Antes de falar aos jornalistas, Pedro Nuno Santos e Isaltino Morais formaram uma equipa improvável e disputaram uma partida de matrecos com dois meninos que estavam a jogar, tendo mesmo marcado golos.
Não estava previsto na agenda, mas o presidente da Câmara de Oeiras quis levar o líder do PS para fora da esquadra para conhecer um pouco do bairro, tendo a paragem final sido no café “Ponto de Encontro”.
Na terça e quarta-feira, Pedro Nuno Santos reúne-se com sindicatos policiais.