OCDE: Professores em Portugal são mal pagos e podem faltar num futuro próximo

3 out 2022, 10:00
Escola

Organização afirma que o corpo docente do país está envelhecido e há poucas pessoas a entrar na carreira

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) alerta que Portugal pode vir a debater-se com a falta de professores num futuro próximo.

No relatório “Education at a Glance 2022”, publicado esta segunda-feira, a organização dá conta de um corpo docente muito envelhecido, em que os professores com mais de 50 anos representam 45% do total de todos os níveis de educação, valor acima da média dos países analisados (40%).

A OCDE também destaca a subida pouco acentuada dos salários. Entre 2015 e 2021, o vencimento dos professores do terceiro ciclo com 15 anos de experiência aumentou em média 3%, o que corresponde a metade do aumento médio nos restantes países da organização (6%).

Também preocupante para a instituição é a falta de pessoas a entrar na carreira docente e a enveredar pela área. De acordo com os dados, a Educação é o ramo com menor procura no ensino superior (licenciaturas e mestrados), com apenas 4% do total de novos estudantes a ser colocado nesta área de estudo.

“Este facto, juntamente com o envelhecimento do corpo docente, suscita preocupações quanto a uma escassez de professores num futuro próximo em Portugal”, pode ler-se no relatório.

A organização refere também que a carga horária das aulas e a carga de trabalho não relacionada diretamente com a componente letiva, como a comunicação com os pais e encarregados de educação, “pode também afetar a decisão de ingressar na carreira docente”.

Apesar dos problemas, a OCDE destaca a elevada qualificação dos docentes portugueses. Na faixa etária dos 25 aos 64 anos, 88% dos professores completaram, pelo menos, o mestrado, algo explicado pelo facto de a educação no 2.º ciclo do ensino superior ser obrigatória para ingressar na profissão.

A organização deu algumas sugestões para melhorar o panorama da educação em Portugal. “Para melhorar o ambiente de aprendizagem e a organização das escolas, seria benéfico um aumento oportunidades relevantes para o desenvolvimento profissional dos professores, maiores incentivos ao envolvimento no trabalho colaborativo e conceder mais autonomia às escolas para escolherem os professores cujos perfis melhor se adaptam às suas necessidades”, escreve a organização.

Formação superior foi determinante na pandemia

A OCDE concluiu também que os benefícios de ter um diploma do ensino superior, no contexto do mercado de trabalho, fizeram-se sentir de forma muito particular durante a pandemia de covid-19.

Segundo os dados, entre 2019 e 2020, o desemprego aumentou 2,3 entre os trabalhadores com o ensino básico e 3,5% para os trabalhadores com o ensino secundário. No caso dos trabalhadores com qualificações superiores, a taxa aumentou apenas 1,2%.

Já em 2021, a taxa de desemprego dos trabalhadores com ensino superior desceu mesmo 0,4%, tendo-se mantido constante, face ao ano anterior, entre os trabalhadores com o ensino básico, e aumentado em 0,8% para os trabalhadores com o ensino secundário completo.

No capítulo dos trabalhadores qualificados, o setor com a taxa de emprego mais elevada em 2021 era o das tecnologias de informação e comunicação, com 96% das pessoas formadas nesta área empregadas. No lado contrário, nos ramos das ciências naturais, matemática e estatística, a taxa de emprego era de apenas 83%, ou seja, quase uma em cada cinco pessoas qualificadas nestas áreas estavam desempregadas.

A organização destaca que as qualificações não afetam só as taxas de emprego, mas também o nível salarial, com os trabalhadores com ensino superior a ganharem, em média, mais do dobro dos trabalhadores com o ensino básico.

Portugal continua a gastar menos que a média nos seus alunos

Outro dado negativo analisado pela OCDE é o dos gastos com os alunos em Portugal.

Em média, o país gasta 9.211 euros por cada aluno dos 1.º e 2.º ciclos de ensino, e 11.435 euros em cada estudante do 3.º ciclo e ensino secundário. Por comparação, os países da OCDE gastam, em média, 10.165 euros por cada estudante dos 1.º e 2.º ciclos e 11.680 euros em cada aluno do 3.º ciclo e ensino secundário.

Cumulativamente, o custo de um aluno dos 6 aos 15 anos em Portugal é de 101.371 euros, enquanto a média dos restantes países da OCDE se situa nos 108.092 euros.

Os gastos públicos na educação são também inferiores em Portugal relativamente à média da organização. No total, os gastos na educação, desde o ensino básico ao superior, representaram 10% dos gastos do Governo em 2019, número inferior aos 10,6% registados nos outros países.

Em percentagem, o setor da educação representa 4,8% do PIB nacional, valor ligeiramente inferior à média da OCDE (4,9%). A organização salienta, no entanto, que essa percentagem aumentou em 0,3% entre 2008 e 2019.

Um dado positivo adicional que a instituição cita é o de que o investimento na educação aumentou 12% nesse período, número que se compara favoravelmente com o do crescimento do PIB, que foi de apenas 5%.

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